publicado a: 2016-07-06

Pé Negro da Videira

Fotos: Cecília Rego

A doença designada por pé negro da videira ocorre sobretudo em videiras jovens até dez anos de idade, e em viveiros vitícolas sendo causada por fungos dos géneros Campylocarpon, “Cylindrocarpon”, Cylindrocladiella, Ilyonectria spp. e Dactylonectria spp.

Nas vinhas, os sintomas da doença surgem tanto na parte aérea da planta como na parte radicular. Ao nível da parte aérea, as videiras doentes evidenciam um atraso nos estados fenológicos, que se manifesta desde o abrolhamento e se prolonga ao longo do ciclo vegetativo. Nestas videiras, o abrolhamento é irregular, podendo mesmo não ocorrer ao longo de todo o ramo. As folhas apresentam dimensões reduzidas e surgem cloróticas, observando-se um avermelhamento precoce das folhas, durante o ciclo vegetativo. Os lançamentos apresentam um crescimento raquítico e os entrenós aparecem curtos tal como acontece com outras doenças do lenho. Nos viveiros vitícolas, durante o período de enraizamento das estacas, normalmente não se observam sintomas na parte aérea das plantas (Figura 1.).

A nível radicular, embora de início as raízes surjam aparentemente sãs e bem repartidas, desenvolvem-se pouco profundamente e paralelamente à superfície do solo. Mais tarde, as raízes ficam necrosadas, apresentando uma cor acinzentada a negra, consoante a intensidade do ataque, ocorrendo por vezes, o desprendimento do ritidoma radicular. Frequentemente, a planta doente emite novas raízes num nível superior do porta-enxerto, as quais vão permitir a vegetação da planta, durante um certo período de tempo.

Sob o ritidoma do porta-enxerto doente pode observar-se o desenvolvimento de uma necrose acastanhada na região basal da planta, típica da doença. Esta necrose, de dimensões variáveis, pode estender-se ao longo de todo o porta-enxerto, atingindo a região da enxertia. Cortes transversais, efectuados ao longo da planta, permitem detectar a existência de necroses nos tecidos corticais (tipo pontuações ou anel contínuo), na base do porta-enxerto e na zona de enxertia. Ao longo do sistema vascular, ocorre a formação de tiloses (Figura 1.).

Figura 1. Sintomas associados ao pé negro da videira: a) declínio e morte de porta-enxertos em vinha após a plantação; b) vegetação reduzida e clorótica; c) avermelhamento das folhas; d) corte longitudinal da base de porta-enxerto infectado; e) corte longitudinal da zona da enxertia com necroses no lenho; f) cortes transversais do nível basal dos porta-enxertos com pontuações e necroses no lenho; g) corte transversal da zona da enxertia da videira com pontuações formando um anel contínuo no lenho.

O diagnóstico do pé negro não deve ser efectuado apenas com base nos sintomas visíveis, quer na vegetação quer no lenho da videira.

Dependendo da idade das plantas, o declínio e posterior morte podem ser rápidos, quando se trata de plantas jovens, ou graduais, à medida que a idade da videira aumenta. A morte das videiras jovens contaminadas é inevitável embora, tenham sido igualmente observadas plantas adultas a sucumbir à doença.

Nas vinhas, a distribuição das plantas doentes ocorre de forma aleatória, dado que essa distribuição estará essencialmente relacionada com a origem do material. Efectivamente, segundo vários autores, a contaminação do material vegetal ocorre anteriormente, durante a fase de produção em viveiro. Contudo, a intensidade dos sintomas na vinha pode ser influenciada pela acção de diversos factores, tais como contaminações com outros fungos (principalmente os do complexo do lenho da videira), stress hídrico, situação de compactação do solo e problemas de hidromorfismo.


Colaboração especial:

Pedro Reis - pedroreis@isa.ulisboa.pt

Cecília Rego - crego@isa.ulisboa.pt

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