publicado a: 2017-04-18

Quénia: Chuva desejada para aliviar conflito entre pastores e agricultores

Pastores e agricultores de partes do Vale do Rift queniano estão à espera, de forma desesperada, das chuvas da época para aliviar a seca prolongada e o conflito sobre terrenos de pasto, que já provocou mais de 30 mortos.

A polícia e os militares do Quénia desde há um mês que procuram desarmar e expulsar as centenas de pastores e os seus animais dos ranchos que invadiram, mas as suas ações apenas agravaram a violência.

A Associação de Rancheiros de Laikipia afirmou que, quando os militares e a polícia expulsam os pastores nómadas de um rancho ocupado ilegalmente, eles movem-se para outro.

Há políticos que estão a fazer campanha para as eleições de agosto que estão a incitar os pastores a invadirem os ranchos, dizendo que é a sua terra ancestral, acusou esta segunda-feira o presidente daquela associação, Martin Evans.

"Estão a dizer às pessoas 'a terra é vossa; ocupem-na', disse Evans.

As invasões começaram no último ano e a violência aumentou com tentativas de expulsar os pastores das comunidades de Pokot, Maasai e Samburu.

Em março, o rancheiro britânico Tristan Voorspuy foi morto quando foi inspecionar os estragos feitos pelos ocupantes numa das suas propriedades.

Terrenos pertencentes ao conhecido conservacionista Kuki Gallman, nascido na Itália, foram incendiados pelos pastores. Gallman é conhecido pelo seu livro "Sonhei com África", que originou o filme homónimo, com Kim Bassinger no papel principal.

Os ranchos, alguns dos quais que também cumprem funções de conservação, foram adquiridos nos anos 1990 e impediram grupos locais de alimentar o seu gado, disse o perito em questões agrárias Odenda Lumumba. Mais de metade da terra disponível para agricultura em Laikipia é privada, segundo as estatísticas governamentais.

"A região de Laikipia transformou-se e passou de uma economia primária, pastoril, para uma economia de grandes quintas turísticas e ecologia, mas as pessoas que já cá estavam continuam a ser as mesmas. Estes dois [pessoas e nova economia] não existem no mesmo plano. Todos os utilizadores da terra deveriam ser (...) assimilados na economia preexistente", disse Odenda Lumumba.

A maioria das comunidades de pastores, que ocupam a parte norte do país, há muito que estão marginalizadas e não têm acesso à escola, a cuidados de saúde e segurança, acrescentou.

Devido à falta de policiamento nas suas regiões, os pastores armaram-se com armas provenientes dos países vizinhos, a braços com vários conflitos, para se protegerem dos rivais que fazem raides para roubar gado, insistiu.

A aquisição de armas pelos pastores tornou os raides para roubar gado mais mortíferos e tentativas recentes para os desarmar não conseguiram reduzir a violência.

Onde as medidas de segurança falharam, a chuva da época pode ajudar.

Cerca de metade do país foi afetado pela seca, que foi declarada um desastre nacional, mas as previsões do Departamento de Meteorologia do Quénia apontam para chuva na maior parte do país durante este mês.

A chuva deve trazer novos pastos e reduzir a pressão sobre as quintas.

Fonte: Diário de Notícias

Comentários