publicado a: 2017-06-01

Verbas para agricultura biológica foram distribuídas de foma errada, critica a Agrobio

A Agrobio criticou a forma como foram contratualizados os cerca de 100 milhões de euros de apoios à agricultura biológica do Programa de Desenvolviento Rural, que permitiu desviar o produto final para a agricultura convencional.

Em declarações à agência Lusa, Jaime Ferreira, presidente da Associação Portuguesa de Agricultura Biológica (Agrobio), explicou que mais de metade (63%) dos cerca de 154 milhões de euros de apoios diretos à agricultura biológica foram para candidatos que apostaram em pastagens, forragens e culturas arvenses, mas na verdade não estavam obrigadas a colocar os animais daqueles pastos no mercado biológico.

"O que aconteceu foi que, esses animais, quando estão na altura de precisar de rações, são vendidos para a agricultura convencional e acabam no mercado como convencionais", explicou Jaime Ferreira, que diz que o problema foi identificado e o Governo tem conhecimento dele, mas nada se pode fazer até final do quadro comunitário de apoio (2014/2020).

"Os valores são atribuídos para todo o quadro comunitário, pelo que nada se poderá fazer até 2020. Só depois disso e com a revisão do Plano de Desenvolvimento Rural", lamentou Jorge Ferreira, que defende que os apoios deveriam refletir-se mais no consumidor.

O responsável da Agrobio, que falava à Lusa a propósito do I Fórum Ibérico sobre Produção Animal Biológica, que decorre na quarta-feira em Oeiras, aponta ainda a necessidade de reforçar os apoios específicos para a agricultura biológica -- medida incluída na estratégia nacional apresentada em março -, sublinhando que "já não existe dinheiro disponível para financiar diretamente".

"Continua a existir apoio genérico, para projetos de instalação ou melhoramento de explorações, seja ou não para agricultura biológica, mas nada que diferencie positivamente", afirmou.

O responsável lembrou ainda que "o apoio à conversão e manutenção de explorações para agricultura biológica foi esgotado logo no primeiro ano, em 2015, e nunca mais abriu".

"Há tantos problemas ligados à produção animal com influência na nossa saúde, como a utilização de organismos geneticamente modificados e não só, que haveria todo o interesse em aumentar a carne biológica no mercado para que o preço também fosse mais acessível", afirmou.

O presidente da Agrobio apontou ainda outros dois entraves que dificultam o aumento da produção de carne biológica: a falta de unidades de abate e de cereais de produção biológica que permitam fazer rações para alimentar estes animais quando os pastos estão mais pobres.

"Há algumas, poucas, unidades que disponibilizam um dia da semana para o abate de animais de produção biológica, mas como param o abate convencional não é rentável e os proprietários destas unidades não têm muito interesse", disse.

Contudo, Jorge Ferreira diz que a Estratégia Nacional para a Agricultura Biológica prevê unidades móveis de abate para contornar o problema.

Quanto à alimentação dos animais de agricultura biológica e à falta de cereais biológicos para as rações, o responsável da Agrobio disse que a própria associação tem uma proposta: o abate dos animais antes de precisarem de comer rações.

"A ideia era, no bovino, por exemplo, em vez de se abater aos 12 ou 13 meses, abater aos oito. Até aqui o animal passou toda a sua vida nas pastagens e, quando os campos começam a ter menos alimento, antes de precisar de ser alimentado com rações, o animal era abatido e entrava no mercado biológico", afirmou.

Também contactada pela Lusa, a Elipec -- Agrupamento de Produtores de Pecuária do Alentejo, sublinhou a necessidade de investir na divulgação do produto antes da comercialização.

"Existe muito a fazer... a comercialização de carne biológica em Portugal não tem nada que ver com outros países da União Europeia. Mesmo que exista apoio na produção não existe apoio nenhum na divulgação da produção de carne biológica, explicando às pessoas os benefícios que tem para a saúde", disse à Lusa António Rodrigues, da Elipec.

Fonte: Diário de Notícias

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