publicado a: 2014-11-14

Portugal e o mundo: os números do vinho e da vinha

Sabe qual é o país com maior área de vinha do mundo? E o que mais vinho produz? E sabe qual é o país que mais bebe? Estes e outros números são curiosos de analisar, especialmente quando vemos a situação portuguesa no contexto mundial….

Vamos tirar as dúvidas recorrendo às mais recentes estatísticas da Organização Internacional da Vinha e do Vinho, a OIV (www.oiv.int) e alguns dados do nosso Instituto da Vinha e do Vinho, da Wikipedia e de mais algumas fontes. Ora, segundo a OIV, a Espanha é o país do mundo com maior área de vinha (1,018 milhões de hectares), logo seguida da França (800 mil) e da Itália (769 mil). Os restantes do ranking são a China (570 mil), Turquia (517 mil) e Estados Unidos (407 mil). Portugal vem a seguir, com 239 mil hectares de vinha; ou seja, o nosso país é o sétimo país do mundo com maior área de vinha. Note-se contudo, que as áreas da China e especialmente da Turquia poderão incluir uva que não está destinada a vinho. A Turquia, por exemplo, é um grande produtor de uva passa…

Área de vinha é uma coisa, percentagem de área de vinha é outra. Recorremos a outros dados e, fazendo umas contas rápidas, chegamos à conclusão de que Portugal é líder mundial em percentagem de área de vinha, em relação à área total do país. Ou seja, do território nacional, 2,59% está ocupado com vinha. A Itália é o único país que se aproxima, com 2,55%. A Espanha tem 2,01% e a França ainda menos, 1,45%. A Argentina, por exemplo, tem apenas 0,08% da sua área com videiras. Destes valores ressalta que Portugal, Itália e Espanha são os países que, de longe, mais dão à vinha o seu território nacional.


Baixa produtividade lusa

Uma coisa é ter área de vinha, outra é a produção da vinha, normalmente indicada em toneladas de uva por hectare. Um hectare de videiras tanto pode dar uma tonelada de uva por hectare como chegar às 20 ou mesmo 30 toneladas! Ora, os dados da OIV não estão detalhados por país, mas apenas por continentes. E aqui há algo que salta imediatamente aos olhos: a Europa é, de longe, o continente onde as produções de uva por hectare são mais baixas. A região América é a mais produtiva, com uma produtividade média acima das 14 toneladas por hectare! A Europa, em média, não chega a metade disto!

E Portugal? Como vimos, nós temos a 7ª maior área de vinha do mundo. Mas, em termos de produção de vinho não passa do 11º lugar! Como é isto possível? Pois bem, é muito simples: a produtividade média da nossa vinha é baixa. Recorremos aqui às estimativas do IVV (cortesia de Francisco Mateus, a quem agradecemos), que aponta para 5,15 toneladas por hectare como média de sete vindimas recentes (de 2005/06 a 2011/2012). Neste período vejamos os extremos: em 2008/2009 foi apenas de 4,47 toneladas/hectare mas em 2010/2011, a maior produtividade deste período, esse valor subiu para 6,24 toneladas por hectare.

Porque é que isto acontece? A explicação mais plausível tem a ver com a pobreza dos solos onde uma boa parte das vinhas lusas está instalada. São ao mesmo tempo solos de baixa fertilidade com fraca capacidade de retenção de água. Como diz João Afonso, viticultor e um estudioso da vinha portuguesa (e colega da Revista de Vinhos): são solos que, ”na melhor das hipóteses dão para floresta, vinha e olival, mas temos de esquecer as (altas) produções (e pensar só em qualidade)”. Poderíamos falar ainda de algum abandono da vinha pelos viticultores, especialmente nas milhares de pequenas explorações que existem pelo país fora. Por outro lado, podemos ainda levar em conta as enormes reestruturações de vinha que a viticultura portuguesa realizou na última década, década e meia, através do programa Vitis. São dezenas de milhar de hectares de vinha que foram arrancadas e outra tanta área que foi replantada. Ora, as vinhas ainda jovens produzem pouco…


Os três maiores do mundo a produzir vinho

Voltando às estatísticas globais, podemos ver que existem 3 países que dominam a produção mundial: França, Itália e Espanha. Os dados mais recentes indicam que neste momento, a colheita de 2013 viu a Espanha guindar-se ao primeiro lugar mundial em produção de vinho, ultrapassando os rivais. Os Estados Unidos estão em quarto lugar, mas tem-se aproximado do trio europeu. Não porque esteja a crescer mas sobretudo porque baixou menos que os países do ‘velho mundo’. De facto, se olharmos para os números da OIV, reparamos imediatamente que, no período de 2000 a 2012 (13 anos) - os três maiores produtores de vinho (França, Itália e Espanha) perderam um quarto (ou mais) da produção. A perda foi menor nos Estados Unidos, apenas 5%. Em contrapartida, no mesmo período, países como a China, Austrália, Chile e África do Sul tiveram crescimentos de produção entre os 42 e os 88%! Impressionante! Ainda assim, se olharmos para toda a produção mundial no mesmo período de 2000 a 2012, verificou-se um decréscimo de produção de 10%.

A OIV fez ainda uma evolução de crescimento baseada num período mais curto e mais recente (2008-2012, 5 anos), neste caso mais fiável. Aqui, Portugal aparece como o terceiro país que mais cresce, com 8%, apenas ultrapassado pelo Chile (48% acima) e China (18%). Isto significa que o nosso país, no início deste século, estava em nítida regressão na área de vinha. Mas retomou plantações no final da década e registou um crescimento assinalável.

Todos os outros países estão em regressão na produção ou estáveis. Neste período de 5 anos, os países que mais desceram na produção foram países de Leste: Hungria (-46%), República Checa (-44%) e Roménia (-36%). Números impressionantes, sem dúvida…


Os maiores consumidores do mundo

Ter vinha e ter produção é uma coisa; beber o vinho é outra. Os maiores consumidores de vinho do mundo são a França e os Estados Unidos, praticamente lado-a-lado, com volumes da ordem dos três mil milhões de litros por ano. A Itália vem a seguir, com cerca de 2,2 mil milhões. Portugal está em 11º lugar, com cerca de 455 milhões de litros. Estes números dizem pouco, contudo, porque estão relacionados, como é evidente, com a população do país. Mais significativo é o consumo per capita e é aqui que Portugal se destaca em grande força. Na verdade, o português é o terceiro maior consumidor mundial de vinho, logo abaixo do Luxemburguês (cuja população tem uma boa percentagem de portugueses!) e da França. Em média e em 2012, um Luxemburguês consumiu por ano mais de 50 litros de vinho! Falamos de médias, claro. Se retirarmos desta equação a população que não bebe (abstémios, jovens, idosos, doentes, etc), facilmente chegamos à conclusão de que alguns habitantes deste país devem beber 200 ou mais litros de vinho por ano!

Em Portugal, o consumo médio per capita foi de 42,5 litros em 2012. Compare-se, por exemplo, com o Reino Unido, o segundo maior importador de vinho do mundo, com ‘apenas’ 19,9 litros/pessoa/ano, ou com os Estados Unidos (9,2 litros) ou ainda com a Federação Russa (7,3 litros). Os dois países mais populosos do mundo nem entram neste ranking (que abrange 24 países). China (0,69 litros mas a crescer bastante) e Índia (0,01 litros) têm consumos per capitaquase ridículos e, de certa maneira, ainda bem que assim é. Porque, de outra forma, se consumissem tanto como Portugal, por exemplo, não haveria vinho no mundo para os abastecer! (China e India têm, em conjunto, cerca de 250 vezes a população de Portugal!).

Uma menção especial para a China, que em 2012 era já o quinto país consumidor de vinho. De 2007 a 2012 o consumo de vinho na China aumentou 143% (!) e o crescimento irá continuar nos próximos anos. Será por isso previsível que a China venha a ser, dentro de alguns anos, o maior consumidor mundial de vinho.


Um país, uma vinha

Se considerarmos dois indicadores muito significativos, chegamos à conclusão de que Portugal é um país decisivamente apostado no vinho. Talvez como nenhum outro no mundo (com a possível excepção da França e Itália). Se não vejamos: será o primeiro no mundo na percentagem de área de vinha face ao território nacional; e depois é o terceiro maior consumidor per capita no ranking mundial. Se a isto somarmos os muitos séculos de história de vinha e vinho em Portugal, facilmente chegamos à conclusão que se tratam efectivamente de poderosos Indicadores da enorme preferência dos portugueses pelo vinho …


Fonte: Revista de Vinhos

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