publicado a: 2019-01-19

A vespa-das-galhas-do-castanheiro: biologia e meios de luta

Com a evolução das vias de comunicação a circulação de material vegetal tornou-se mais fácil e rápida. E apesar das exigências a nível do controlo fitossanitário tornou-se mais frequente a introdução de espécies invasivas e doenças. Dryocosmus kuriphilus Yasumatsu (classe Insecta, ordem Hymenoptera, família Cynipidae), vulgarmente conhecida por vespa-das-galhas-do-castanheiro, é um desses casos.

Este inseto é originário da China e difundiu-se pelo Japão (1941), Coreia (1958), Estados Unidos da América (1974), Nepal (2002) e Itália (2002), países onde causou enormes prejuízos (AEBI et al., 2007). Posteriormente, detetada em França em 2005 (Quachia et al., 2008), de onde se disseminou para muitos outros países Europeus (Eslovénia, República Checa, Hungria, Croácia) (EFSA, 2010) e mais recentemente em Espanha, Portugal e na Alemanha (Borowiec et al., 2014). Em Portugal foi referenciado pela primeira vez em 2014, na região de Entre-Douro-e-Minho e em 2015 surgiram os primeiros focos na região de Trás-os-Montes.

Esta praga é atualmente considerada um dos organismos mais perigosos para as espécies do género Castanea, podendo constituir uma séria ameaça à sustentabilidade dos soutos e castinçais em Portugal.

A vespa-das-galhas-do-castanheiro ataca plantas do género Castanea, induzindo a formação de galhas nos gomos e folhas, provocando a redução do crescimento dos ramos e a frutificação, podendo diminuir drasticamente a produção e a qualidade da castanha conduzindo ao declínio dos castanheiros (EPPO, 2005; EFSA, 2010).

O ciclo biológico deste inseto tem sido estudado em vários países onde ele já se encontra presente, apresentando um padrão: apenas uma geração anual, em que as fêmeas emergem das galhas a partir do final de maio até ao final de julho, com um tempo de vida de aproximadamente 10 dias, nesse período realizam as posturas, cerca de 100 ovos por fêmea. Na primavera seguinte, quando o castanheiro inicia a sua atividade vegetativa, as larvas invernantes retomam o seu desenvolvimento induzindo a formação de galhas.

Os parasitoides autóctones são uma forma indireta de luta, uma vez que podem ter ação na redução das populações da praga.

Nos vários países onde a vespa-das-galhas-do-castanheiro foi identificada, foram feitos levantamentos dos parasitoides que eclodiram das galhas. Assim, foram identificadas diferentes espécies pertencentes à superfamília Chalcidoidea. Esta superfamília é considerada aquela em que mais espécies têm sido bem-sucedidas na sua utilização como agentes de luta biológica. Neste grupo pode encontrar-se uma grande diversidade, a maioria das espécies que a integram são parasitoides, havendo também espécies fitófagas, predadoras e algumas podem ter hábitos alimentares de ambas as formas.

O IPB em parceria com o CNCFS tem desenvolvido alguns ensaios nas regiões do Minho, Trancoso e Vinhais que permitem conhecer o complexo de parasitoides autóctones associados a esta praga e as suas taxas de parasitismo. Os resultados indicam que os parasitoides autóctones são importantes na limitação, mas insuficientes para o controlo da praga.

Identificamos nove espécies de parasitoides (Eupelmus annulatus Nees, Eupelmus urozonus Dalman, Eurytoma brunniventris Ratzeburg, Megastigmus dorsalis Fabricius, Ormyrus pomaceus Geoffroy, Sycophila iracemae Nieves Aldrey, Sycophila variegata Curtis, Eurytoma setigera Mayr e Torymus flavipes Walker) e cinco famílias (Eupelmidae, Torymidae, Euritomidae, Pteromalidae e Ormyridae).

A taxa de parasitismo oscilou entre 18% -56%, variando em função do ano e das características do local do ensaio (quadro 1).

Existem diferentes meios diretos de luta contra esta praga, mas nenhum deles é 100% eficaz. Atualmente o mais eficaz é a luta biológica, através da largada do parasitoide exótico Torymus sinensis Kamijo (Hymenoptera: Torymidae), originário da China.

A utilização deste parasitoide específico tem sido o meio de luta mais eficaz contra esta praga. A sua utilização assenta num plano específico de largadas, tendo em conta a sincronização dos ciclos de vida da praga/parasitoide, e depende do adequado conhecimento do ciclo biológico da vespa, das suas relações com a fenologia do castanheiro, da influência das condições climáticas, quer na biologia da praga, quer na fenologia da cultura (EPPO, 2005; Francati et al., 2015).

Tal como a vespa-das-galhas-do-castanheiro, também T. sinensis é univoltino, ou seja, apresenta uma única geração por ano. O adulto após emergir das galhas do ano anterior, na primavera, acasala e posteriormente a fêmea faz a postura no interior das galhas recém-formadas. Os adultos vivem cerca de 30 dias, alimentando-se dos açúcares das plantas. Nesse período as fêmeas ovipositam cerca de 70 ovos. A larva de T. sinensis, sendo ectoparasita, alimenta-se da larva madura de D. kuriphilus.

O processo das largadas consiste numa caixa com cerca de 6 tubos de Falcon que contém na totalidade cerca de 120 fêmeas e 70 machos de T. sinensis. Os parasitoides de cada largada devem ser divididos por 3 castanheiros que se encontrem, de preferência, no centro do souto e que estejam próximos entre si. As largadas devem ser realizadas com boas condições climatéricas e quando o castanheiro está no estado fenológico em que surgem os amentilhos, coincidindo com a fase em que as galhas já estão bem desenvolvidas, mas pouco lenhificadas (estado fenológico D).

Existem outros meios de luta para além deste, nomeadamente a luta cultural, empregue apenas em plantas jovens, onde se procede à remoção e destruição das partes atacadas antes da emergência do inseto. O Instituto Politécnico de Bragança em conjunto com o Centro Nacional de Competências dos Frutos Secos têm vindo a testar em campo algumas substâncias repelentes, mas ainda está em processo de estudo. Contudo, numa estratégia de proteção biológica de conservação deverá ser dada alguma importância ao estudo das espécies autóctones e à otimização da sua ação no controlo da vespa-das-galhas-do-castanheiro.

Portugal produz cerca de 26780 toneladas de castanha por ano (FAO, 2018), sendo que cerca de 85% da produção nacional está localizada na região de Trás-os-Montes. Os soutos afetados por esta praga, ao quarto ano de ataque, podem atingir perdas de produção na ordem dos 80%, o que constitui um perigo para a sustentabilidade do setor da castanha. É por isso fundamental continuar a otimizar os meios de luta disponíveis no combate a esta praga.

Bibliografia:
Aebi, A., Schonrogge, K., Melika, G., Quacchia, A., Alma, A. & Stone, G.N. (2007). Native and introduced parasitoids attacking the invasive chestnut gall wasp Dryocosmus kuriphilus. Bulletin OEPP/EPPO, 37, 166-171.
Borowiec, N., Thaon, M., Brancaccio, L., Warot, S., Vercken, E., Fauvergue, X., Ris, N., Malausa, J.C. (2014). Classical biological control against the chestnut gall wasp Dryocosmus kuriphilus (Hymenoptera, Cynipidae) in France. Plant Protection Quarterly, 29, 7-10.
EFSA (2010). Risk assessment of the oriental chestnut gall wasps Dryocosmus kuriphilus for the EU territory and identification and evaluation of risk management options. EFSA Journal, p. 114.
EPPO (2005). Data sheets on quarantine pests – Dryocosmus kuriphilus. EPPO Bulletin, 35, 422-424.
Francati, S., Alma, A., Ferracini, C., Pollini, A. & Dindo, M.L. (2015). Indigenous parasitoids associated with Dryocosmus kuriphilus in a chestnut prodution of Emília Romagna (Italy). Bulletin of Insectology, 68, 127-134.
Quacchia, A., Moriya, S., Bosio, G., Scapin, G. & Alma, A. (2008). Rearing, release and settlement prospect in Italy of Torymus sinensis, the biological control agent of the chesnut gall wasp Dryocosmus kuriphilus. BioControl, 53, 829-839.
Santos, A.; Pereira, J.A.; Quacchia, A.; Santos, S.A.P & Bento, A. (2016). Biological control based in native parasitoids associated with Dryocosmus kuriphilus Yasumatsu, in affected countries. In: Natural enemies: Identification, protection strategies and ecological impacts. New York, Nova Science Publishers, p.177-204

Lobo Santos, A1., Bento, A2.
1Centro Nacional de Competências dos Frutos Secos, Bragança, Portugal;
2Centro de Investigação de Montanha, Escola Superior Agrária, Instituto Politécnico de Bragança, Bragança, Portugal.
Na primeira foto: Galha induzida pelo ataque da vespa-das-galhas-do-castanheiro

Publicado na Voz do Campo n.º 219 (outubro 2018)

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