Algumas considerações sobre a fertilização do melão na qualidade da produção
Introdução
A fertilização está entre as principais práticas culturais a que os produtores devem recorrer para a obtenção de frutos de bom calibre comercial, com boa sanidade e boa conservação. Estes parâmetros só se conseguem com uma fertilização completa, correcta e equilibrada, ao longo do crescimento do fruto.
Para isso, temos que atender a vários factores, tais como:
. O conhecimento das necessidades nutritivas;
. O conhecimento do nível da fertilidade do solo (análises de solo);
. O conhecimento do papel e da dinâmica dos diferentes nutrientes.
. Os solos indicados para esta cultura devem ter boa drenagem, serem bem estruturados e com um pH entre 6 e 7.
Necessidades nutritivas
As necessidades nutritivas variam conforme as diferentes fases vegetativas da cultura:
. Assim, do princípio da vegetação até ao início da floração, são grandes as necessidades de azoto e fósforo;
. Na altura da floração, um desequilíbrio a favor do azoto em relação ao fósforo, conduz a um exagerado crescimento vegetativo e a abortos florais, logo a fracos vingamentos. Pelo contrário um correcto fornecimento de fósforo e potássio, promove o aparecimento de flores férteis;
. Durante o período da maturação, o potássio intervém na obtenção de frutos com melhores teores de açúcar e é importante um bom equilíbrio com o cálcio, de modo a evitar o rachamento dos frutos.
Vamos avaliar a acção de alguns nutrientes para a obtenção de melhores produções e frutos de boa qualidade:
Azoto, elemento determinante na quantidade da produção;
Fósforo, elemento com um papel importante no início do crescimento vegetativo e na floração;
Potássio, elemento que actua no engrossamento dos frutos;
Magnésio, indispensável à formação da clorofila;
Cálcio, na estruturação das células, logo na conservação e na sanidade da cultura;
Molidénio, um elemento que participa no metabolismo do azoto.
As extracções para uma produção de 45 toneladas por hectare, segundo o Professor Quelhas dos Santos, são da ordem dos 175 kg de N, 44 kg de P2O5 e 200 kg de K2O.
AZOTO
Um elemento determinante no crescimento vegetativo e na quantidade da produção.
Quando em falta, nota-se um fraco crescimento vegetativo das plantas e uma diminuição do vingamento.
Necessidades desta cultura em N, são da ordem dos 150 a 200 kg/ hectare.
Como e quando aplicar o Azoto?
Aplicar metade a um terço do azoto em fundo. O restante deverá ser aplicado em várias coberturas de acordo com o tipo de rega praticado. No caso de cobertura do solo com plástico aplicar em fundo até 40 % do total.
Esta deficiência pode corrigir-se com aplicações de Ureia a 0,5 % ou Nitrato de cálcio a uma dose à volta de 750 gramas por 100 litros de água, ou com aplicações de azoto ao solo em fertirrega.
FÓSFORO
Um elemento com um papel importante no início do crescimento vegetativo e na floração.
Quando em falta, limita igualmente o crescimento vegetativo das plantas e diminui o potencial de floração.
Necessidades desta cultura em P2O5, são da ordem dos 80 a 150 kg / hectare.
Como e quando aplicar o Fósforo?
Aplicar 70 a 80 % do fósforo em fundo e o restante deve ser fornecido juntamente com o azoto, sob a forma de Fosfato de amónio.
Nota importante: pode ser interessante uma adubação starter à plantação, com 100 kg de Fosfato monoamónio (12-61-0) em 2 aplicações, com uma semana de intervalo.
Esta deficiência pode corrigir-se com aplicações foliares de Fosfato de amónio, a uma dose à volta de 200 gramas por 100 litros de água, ou com aplicações de Ácido fosfórico ou Fosfato de amónio ao solo em fertirrega.
POTÁSSIO
Favorece o engrossamento e a qualidade gustativa dos frutos.
A sua carência provoca uma clorose marginal, seguida de necrose, com inicio nas folhas mais novas (figura 1).
Necessidades desta cultura em K2O, são da ordem dos 180 a 200 kg / hectare.
Como e quando aplicar o Potássio?
Aplicar em fundo 25 a 40 % de potássio. O restante potássio deve ser fornecido juntamente com o azoto, sob a forma de Nitrato de potássio.
Durante o crescimento e a maturação do fruto (engrossamento das células), com o objectivo de melhores calibres.
A deficiência pode corrigir-se com aplicações de Nitrato de potássio ou Sulfato de potássio a uma dose entre 500 gramas a 2 kg por 100 litros de água, ou com Nitrato de potássio ao solo em fertirrega.
MAGNÉSIO
O magnésio é essencial no processo da fotossíntese, na assimilação e transporte do fósforo, na síntese dos açúcares e na qualidade dos frutos.
Quando em falta, é responsável pela diminuição do vingamento.
A sua carência provoca cloroses internervuras (figura 2), seguida de necroses.
Necessidades desta cultura em MgO, são da ordem das 70 a 100 kg / hectare.
Como e quando aplicar o Magnésio?
Em caso de carência de magnésio, realizar pulverizações com Sulfato de magnésio com teor de 16 % (1 a 2 kg por 100 litros de agua em duas ou três aplicações), ou ainda com Nitrato de magnésio, a doses entre a 1 a 2%.
Em fertirrega, pode utilizar-se o Sulfato de magnésio, com bons resultados.
CÁLCIO
É um constituinte importante das paredes celulares, neutraliza os ácidos orgânicos, dá dureza e consistência aos frutos e melhora a qualidade e conservação dos mesmos.
Nota importante: o rachamento também pode estar ligado a uma carência de Boro, especialmente em anos secos.
Necessidades desta cultura em CaO, são da ordem das 60 a 80 kg / hectare.
Como e quando aplicar o Cálcio?
Via solo:
Utilizando adubos cálcicos na rega, especialmente após o vingamento dos primeiros frutos.
Via foliar:
No crescimento do fruto (estruturação das células), com o objectivo de uma melhor firmeza e conservação dos frutos, com Nitrato de Cálcio à dose de 750 gramas por 100 litros de água.
MOLIBDÉNIO
Intervém e participa no metabolismo do azoto.
É um micronutriente muito importante nesta cultura, que quando em falta pode parar totalmente o crescimento da planta.
O fósforo favorece a sua absorção.
A sua carência manifesta-se com uma paragem do crescimento da planta e em casos graves por um dessecamento marginal das folhas, ficando os tecidos mortos com uma cor de tabaco e virados para cima (figura 5).
Esta carência é favorecida, quando o solo está frio, húmido e com pH ácido.
Via foliar:
Com Molibdato de amónio, na dose de 15 gramas por 100 litros de água, ou outro produto comercial existente no mercado às doses recomendadas pelo fabricante.
António Pedro Guerra
Engenheiro Técnico Agrícola
Licenciado em Engenharia Agro-Pecuária
Formador e Consultor Técnico em Nutrição Veget
Escrito ao abrigo do anterior AO
Bibliografia consultada
Cadahia, Carlos (1998) “Fertirrigacion en cultivos Hortícolas y Ornamentales”
Caja Rural Valencia (1995) “El cultivo del Melon”
CTIFL (1982) “La Fertilisation des cultures légumières”
CTIFL (1998) “Le Melon”
INRA (1991) Maladies des Cucurbitacées
LQARS (2006), “Manual de Fertilização das Culturas”
SANTOS, J.Q (1991) – Fertilização: Fundamentos da utilização dos adubos e correctivos
Publicado na Voz do Campo n.º 217 (julho 2018)