Mudanças climáticas: prejuízos com insetos podem aumentar 18%
Um novo estudo publicado na Nature Communication concluiu que 10 espécies de insetos são responsáveis por prejuízos anuais de 77 biliões de dólares (aproximadamente 70 biliões de euros) por ano em todo o mundo e que esse valor poderá aumentar em 18% até 2050 por causa das mudanças climáticas. Cobrindo danos a bens e serviços, perdas agrícolas e até mesmo os custos de saúde, o estudo reúne o maior banco de dados já compilado de prejuízos económicos causados por insetos invasores em todo o mundo: 737 artigos, livros e relatórios.
Mas por que tanto trabalho por causa de insetos?
Os insetos reduzem a produção global entre 10% e 16% e estão entre as mais virulentas de todas as espécies invasoras. 87% dos 2.500 invertebrados terrestres que colonizaram novos territórios são insetos. “Durante milhões de anos, os insetos têm sido responsáveis por propagar doenças entre os seres humanos e animais e causar danos consideráveis, que vão desde a aniquilação de colheitas e reservas até a destruição de infra-estrutura e a devastação das florestas, alterando assim, ecossistemas e tornando-os mais frágeis. No reino dos seres vivos, a classe de insetos abrange aproximadamente 2,5 milhões de espécies e é provavelmente o grupo que mais causa prejuízos”, explica Franck Courchamp, diretor de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), da França, (Université Paris-Sud / CNRS / AgroParisTech) que liderou a equipa internacional responsável pelo estudo, que teve apoio da Fundação Paribas BNP e da agência nacional de pesquisa da França (ANR). Ainda mais preocupante, insetos em geral pesam muito na agricultura, consumindo cerca de 40% da produção agrícola. “O equivalente a comida suficiente para alimentar um milhão de seres humanos”, destaca Franck Courchamp.
O prejuízo causado pelos insetos deve aumentar junto com a temperatura média do planeta. “A disseminação de muitas espécies invasoras é atualmente limitada por barreiras térmicas – as temperaturas são muito baixas para as espécies se espalharem – mas as mudanças climáticas podem permitir que invadam regiões que até agora eram inóspitas para eles”, explica Franck Courchamp. Além disso, a maior frequência das viagens e do comércio internacional dentro de uma população mundial, em constante crescimento e em uma economia globalizada favorece o transporte clandestino desses minúsculos seres para novos territórios.
Os cientistas acreditam que o prejuízo causado pelos insetos é muito maior do que o estimado neste estudo, a começar pelo fato de que ele foi focado apenas nas 10 espécies que mais provocam perdas. Além disso, diversas regiões do mundo não fornecem dados económicos suficientes para produzir uma estimativa exata. Outro motivo pelo qual os autores consideram este valor subestimado é que ele não contempla o valor monetário de “serviços” prestados pela natureza (serviços ecossistémicos) cuja qualidade pode ser afetada pela invasão de insetos.
“Se levarmos em conta o valor estimado dos serviços dos ecossistemas em escala global (centenas de biliões de dólares somente para a cultura da polinização), os inconvenientes causados por insetos invasores poderiam chegar a um nível bem acima da estimativa atual”, detalha Jean-Michel Salles, economista ambiental e co-autor do estudo.
Em termos de saúde, o custo total atribuído a insetos invasores ultrapassa os US$ 6,9 biliões de dólares (cerca de 6,3 biliões de euros) por ano. Estes custos não levam em conta a malária, para a qual a maioria dos gastos não está relacionada com uma infestação mas com um inseto que está naturalmente presente. Além disso, esta avaliação exclui o impacto económico sobre a produtividade, a receita, turismo, abastecimento de sangue, medidas de proteção individual e qualidade de vida. A maioria das estimativas para os custos da saúde são uma combinação de custos diretos e indiretos que são frequentemente relacionados com os cuidados médicos.
Do ponto de vista geográfico, as regiões do mundo com as maiores despesas médicas são, respectivamente, Ásia (2,58 biliões de euros por ano), América do Norte (1,87 biliões de euros por ano) e América Central e do Sul (1,68 biliões de euros por ano). Além disso, entre as doenças mais financeiramente exigentes, o primeiro lugar vai para dengue (transmitida pelos mosquitos Aedes), o qual sozinho gera representa 84% dos 6,9 biliões de dólares (cerca de 6,3 biliões de euros) de despesas nas zonas em que este insetos é invasivo.
O estudo não tem em consideração a recente propagação do vírus Zika, transmitida por um tipo de mosquito Aedes. No entanto, os investigadores estimam que este vírus, que causou cerca de 5.000 casos de microcefalia no Brasil, custaria mais de 82.000€ por pessoa para o tratamento médico vitalício. Estimativas futuras podem também ter em conta o dano maior que esta crise tem sobre o turismo, bem como o custo das medidas de proteção.
De acordo com a equipa de pesquisa, maior vigilância e a implementação de procedimentos de resposta para uma invasão biológica iria ajudar a sociedade salvar dezenas de milhares de milhões de euros. Estas medidas preventivas poderia dividir o custo de doenças transmitidas por mosquitos. Os investigadores sugerem que, entre outras medidas: gastos estratégico no financiamento de pesquisas sobre a avaliação e prevenção de espécies invasoras, a implementação de contramedidas adequadas a cada ameaça e o apoio de campanhas públicas de sensibilização sobre os riscos da introdução de certas espécies. Finalmente, há uma grande necessidade de desenvolver a rede de associações, a fim de criar medidas para lutar contra estas espécies invasoras.
Fonte: Negócios da Terra