Nova vida, vinha nova
Hoje temos a participação especial da Eng.ª Sara Ramalho que nos fala da sua experiência e do seu novo projeto em vinha.
Com o inicio de 2017, inicia-se também uma viagem pela vida, a vinha e o vinho.
A vida dividida entre a cidade e o campo tentando encontrar o melhor entre estes dois mundos, numa altura em que muita gente regressa à “terra” que em outros tempos assistiu à fuga geral das gentes para as grandes cidades.
A vinha que vive com o homem há mais de 6000 anos e não há cultura que se tenha adaptado tão bem, como se fizesse parte da família passando de geração em geração, criando um amor que só os humanos conhecem.
O vinho que representa a perpetuação de tradições milenares, e nos ajuda a escrever a nossa própria história.
Por esta altura do ano o País divide-se em vinhas já podadas e outras por podar. A decisão de podar a vinha varia de casa para casa, mas sempre de preferência depois das épocas das geadas e da queda das folhas, que indica o inicio do repouso vegetativo, a vida no campo não entra em repouso, mas segue a um ritmo mais lento, controlado pelas poucas horas de luz e pelo frio da época.
A poda não é mais do que uma tentativa humana de controlo da videira. Controlamos o seu crescimento “atrasando” o desenvolvimento da estrutura lenhosa, tentado prolongar a sua perenidade. Decidimos como a queremos “conduzir” de forma a se adaptar às nossas necessidades e desenvolvimento ao longo dos séculos, no fundo com o objetivo que ela nos reconheça e nos contemple com o seu melhor fruto. Executamos então um corte um pouco acima do chamado olho ou gomo, por isso muitas vezes ouvimos chamar poda a 2 ou 3 olhos (poda curta ou baixa carga) ou a 4 ou mais olhos (poda longa ou de carga elevada) que variam com o tipo de condução da vinha, clima, vigor e idade da videira. O número de olhos corresponde ao número de varas que irão rebentar e desenvolver.
Se usarmos uma poda de carga elevada aumentamos o número de sarmentos, logo mais folhas e consequentemente mais assimilados para o crescimento do ano e para as reservas da planta. Isto ajuda no controlo do vigor dos sarmentos e microclima do coberto, mas se ultrapassarmos essa carga ótima temos uma sobreprodução, com a produção de um maior número de cachos, mas com uma deficiente maturação das uvas. Teremos também um enfraquecimento da videira
Se optarmos por uma poda curta, será uma poda mais simples e adaptada à mecanização. Estaremos a limitar o número de sarmentos mas a aumentar o seu vigor, o número de folhas também será menor o que fará com que a videira tenha menor capacidade fotossintética no inicio da estação. Com este tipo de poda vamos estimular o desenvolvimento de rebentos não produtivos dispersos pelo tronco e braços a que chamamos de “ladrões”.
A carga ótima é aquela que proporciona um melhor equilíbrio entre o vigor, a produção e a maturação e que mantenha esse potencial ao longo da vida da videira.
A poda exerce-se sobre as varas que se desenvolveram no ano anterior, sendo assim, os podadores definem a carga à poda de cada videira através da comparação visual do número de olhos que não deram origem a uma vara (não abrolhados), o número e vigor dos ladroes e o vigor dos sarmentos, por isso tal como nós, a sua história é que a define.
Diz a experiência popular que a poda da vinha deve ser feita quando a lua se encontra “minguante”, quando a seiva se encontra menos ativa, reduzindo a quantidade que se perde pelos golpes do corte. A poda serve para renovar e estimular o novo ciclo de produção, as velhas varas saem para permitir o aparecimento dos novos rebentos com um novo vigor como quem diz Ano Novo, Vida Nova.