publicado a: 2024-09-16

Frutos secos: Importância da fertilização de reservas

Com a campanha de frutos secos praticamente concluída e com o início da colheita, muitos produtores começam a planear a próxima temporada. O planeamento inicia-se com uma prática fundamental, mas que nem sempre recebe a devida atenção: a fertilização de reservas.

O sucesso da próxima temporada depende, em parte, da aplicação de nutrientes, uma vez que a planta já não possui frutos. Na verdade, este é um dos momentos cruciais para o desenvolvimento das raízes da planta, sendo, portanto, uma oportunidade ideal para otimizar a eficiência na aplicação de fertilizantes.

Enquanto nas culturas anuais quase todo o azoto presente na planta é obtido do solo, nas culturas perenes a situação é bem distinta. As árvores possuem uma reserva significativa de azoto, especialmente no inverno, na forma de amido e açúcares solúveis, desempenhando um papel crucial na nutrição e redistribuição de azoto por toda a planta. Nesse contexto, é importante distinguir entre o azoto absorvido do solo e o azoto acumulado nas estruturas da planta.

Os principais hidratos de carbono de reserva das plantas lenhosas são o amido e os açúcares solúveis, como a glicose, frutose e sacarose. Estes compostos são armazenados nas raízes, troncos e ramos durante períodos de crescimento vegetativo, especialmente no final da estação de crescimento, quando a produção de fotoassimilados excede as necessidades imediatas da planta. O amido é o principal hidrato de carbono de reserva das plantas lenhosas, sendo sintetizado durante a fotossíntese, quando a planta produz mais açúcar do que consome. O amido é armazenado nos tecidos das raízes, troncos e ramos durante o período de crescimento e é posteriormente utilizado durante as fases de dormência ou no início da estação de crescimento, quando a planta não tem fotossíntese suficiente.

A arginina é um aminoácido que atua como um dos principais compostos de armazenamento de azoto nas plantas lenhosas. No inverno, as plantas armazenam grandes quantidades de azoto na forma de arginina, que é mobilizado durante a primavera para iniciar o crescimento.

O azoto (N) é essencial para a síntese de proteínas, enzimas e outros compostos orgânicos que afetam diretamente o metabolismo da planta. A sua disponibilidade permite que a planta utilize de forma eficiente os hidratos de carbono de reserva para promover o crescimento, incluindo folhas, raízes e flores, no início da primavera. Após o período de dormência, as plantas lenhosas mobilizam as suas reservas de carbono e azoto acumulado na forma de arginina, para retomar o ciclo de crescimento.

O potássio (K) desempenha um papel fundamental no transporte de açúcares e outros hidratos de carbono através do floema, o que é crucial para a formação e armazenamento de reservas de hidratos de carbono. O potássio facilita o movimento de açúcares das folhas para os órgãos de armazenamento (raízes, tronco), onde eles são convertidos em amido ou outros compostos de reserva. Aumenta a eficiência da fotossíntese, promovendo uma maior produção de carboidratos e a sua subsequente utilização e armazenamento.

Portanto, tanto o N quanto o K desempenham papéis críticos no uso e armazenamento dos hidratos de carbono. O N ajuda a planta a usar os carboidratos de forma eficaz para o crescimento, enquanto o K é vital para a mobilização e o transporte dessas reservas dentro da planta.

Estima-se que até 40% do azoto utilizado ao longo do ciclo da planta provém da aplicação deste nutriente na fase de pós-colheita ou na fase que antecede a colheita, em função da cultura ou variedade. Mais especificamente, até a fase de floração, entre 80-90% do azoto resulta da redistribuição de reservas após o inverno, ou seja, das reservas acumuladas no ano anterior.

No final do ciclo, as plantas estão geralmente enfraquecidas devido ao grande gasto de energia para a produção dos frutos. A fertilização de reservas ajuda a restaurar os níveis de nutrientes e a fortalecer as plantas para que possam enfrentar melhor o inverno. Assim uma nutrição adequada influência diretamente a qualidade e quantidade da produção futura, já que a planta obtém energia suficiente para iniciar o ciclo produtivo com força total.

A fertilização de reservas é uma prática crucial para garantir que as plantas tenham os nutrientes necessários para atravessar os períodos de dormência (inverno), bem como para dar início ao próximo ciclo de crescimento com vigor.

Durante períodos de seca ou quando existem dificuldades de absorção de nutrientes do solo, as reservas acumuladas podem atuar como uma "poupança" de nutrientes, reduzindo o impacto de condições adversas no crescimento das plantas. Assim garante que a planta tenha energia suficiente para sustentar o ciclo reprodutivo no próximo ano, evitando desequilíbrios nutricionais que podem comprometer a produção futura, influenciando diretamente a qualidade dos frutos secos. Plantas com reservas adequadas tendem a produzir frutos maiores, e consequentemente com maior valor de mercado.

Em suma, a fertilização de reservas ajuda as plantas a acumularem nutrientes suficientes no final do verão ou início do outono, antes do período de dormência invernal. Desta forma, no início da primavera, quando as raízes ainda estão pouco ativas, as plantas podem utilizar essas reservas para o abrolhamento e formação inicial de folhas e frutos. Os nutrientes armazenados, como azoto, fósforo e potássio, são essenciais para o desenvolvimento de flores e frutos de alta qualidade. Uma planta bem nutrida tende a produzir mais e melhores frutos. Esta prática é uma estratégia fundamental na produção de frutos secos, garantindo que as plantas apresentem nutrientes suficientes para atravessar o ciclo reprodutivo de forma eficiente. Contribui não apenas para a produtividade atual, mas também para a longevidade e sustentabilidade da cultura, permitindo uma produção contínua de frutos de alta qualidade.

Um artigo de:
Manuel Machadinha

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