Os afídeos também atacam a vinha
Apesar de os afídeos não serem considerados praga chave da cultura da vinha, a sua presença tornou-se habitual em algumas regiões do país e a incidência tem alastrado a várias castas. Na região de Palmela, os ataques de afídeos, foram referenciados há mais de 15 anos na casta Moscatel de Setúbal. O ataque da praga, durante a pré floração é apontado como a principal causa de desavinho o que implica habitualmente graves prejuízos para os produtores (Fig. 1). Por este motivo, esta praga passou a ser monitorizada e objeto de intervenção, com vista a mitigar os efeitos nefastos sobre a cultura.
Fig. 1 – Casta Moscatel de Setúbal com sinais evidentes de desavinho resultantes do ataque de afídeos.
Ataques a outras castas, como Fernão Pires, Verdelho ou Alicante de Bouschet, têm sido observados logo a partir dos estados fenológicos iniciais, podendo prolongar-se por várias semanas. Nestas castas os estragos não são geralmente tão graves como os que se registam na casta Moscatel de Setúbal. Também na região do Algarve foi assinalada a presença de afídeos nos cachos e zona terminal dos pâmpanos, tendo sido observados estragos relevantes especialmente em uva de mesa.
Os afídeos são insetos picadores sugadores, altamente polífagos e com um elevado potencial biológico, que colonizam preferencialmente as zonas de crescimento ativo das plantas (rebentos, inflorescências e folhas jovens). Os estragos mais frequentes associados ao ataque da praga prendem-se com a abundante produção de melada, o que tem influência no gradual enfraquecimento das cepas e promove a instalação de fumagina. A presença de formigas nas cepas atacadas é um sinal que muitas vezes ajuda a detetar os focos inicias da praga (Fig. 2).
Fig. 2 – Ataque de afídeos com presença de formigas na casta Verdelho.
As espécies mais frequentemente identificadas na vinha são o Aphys gossypii e o A. Spiraecola. Os ataques à cultura têm origem em formas aladas provenientes de outros hospedeiros. Seguem-se as fases de colonização e de disseminação, facilitadas pela rápida reprodução destes insetos, que resulta no aparecimento de formas ápteras e posteriormente novas formas aladas que colonizam outras espécies herbáceas e lenhosas. A praga pode manter-se na cultura até ao bago de ervilha, ou estados fenológicos posteriores, desde que as condições sejam favoráveis e existam tecidos não atempados.
Face ao impacto negativo sobre a produção, resultante do desavinho mais ou menos acentuado, é aconselhável fazer a monitorização nas parcelas com histórico de ataque da praga.
O recurso a armadilhas cromotrópicas e as observações regulares da cultura nas fases de maior sensibilidade (pré floração ao vingamento) são aconselháveis para permitir a deteção precoce da praga.
Em muitas parcelas alvo de ataque, tem sido assinalada a presença de alguns inimigos naturais, como himenópteros parasitóides (Fig. 3) e vários predadores (crisopídeos, coccinelídeos e cecidomídeos). Porém as infestações ocorrem em períodos de tempo muito curtos e as populações de auxiliares raramente atingem níveis que permitam a limitação natural da praga, pelo que, o controlo com recurso a produtos fitofarmacêuticos é por vezes necessário.
Fig. 3 - Cacho atacado por afídeos e formas parasitadas por himenópteros.
Em síntese, o ataque de afídeos pode ser particularmente agressivo, uma vez que os estragos resultantes podem comprometer a quantidade e qualidade da produção, especialmente na casta Moscatel de Setúbal e em uva de mesa. As infestações ocorrem habitualmente em curtos intervalos de tempo e em fases de grande sensibilidade do hospedeiro. É por isso aconselhável, nas parcelas com historial de infestação de afídeos, fazer a avaliação da intensidade da praga nos períodos de maior risco, considerar a presença de inimigos naturais e, em caso de necessidade de controlo, intervir atempadamente.