publicado a: 2017-09-07

Incêndios Florestais “medram” com a Eucaliptização industrial intensiva...

A partir de dados recentes provenientes do ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas), pode-se aferir que os Incêndios Florestais (em média) estão a aumentar de extensão e violência.

Pois, segundo esses dados do ICNF, este ano de 2017 já arderam – até 31 de Agosto – praticamente 214 mil hectares de floresta (e matos). Este número representa um aumento brutal de 234% - quase duas vezes e meia mais - de área ardida em relação à média (anual) da área ardida nos últimos dez anos!

Todavia, tendo em conta o número de acendimentos e reacendimentos, este ano tem tido uma média inferior à média (anual) da mesma década.

A primeira conclusão a tirar é a de que já ardeu muitíssimo e que tem aumentado a área média percorrida por cada Incêndio Florestal, com alguns destes a atingirem mais de 20 mil hectares. Constata-se também que tem aumentado a respectiva violência e basta atentarmos nas terríveis consequências de muitos dos Incêndios deste ano.

Constata-se ainda que das áreas florestadas ardidas este ano (e no ano passado), aquelas que registaram as consequências mais violentas e concentradas, e a todos os níveis, foram áreas em que, predominantemente, havia Eucalipto Industrial (e também ainda algum Pinho) plantado no terreno, com as copas dessas árvores “coladas” umas nas outras... e a propagar ou a projectar o Fogo de forma incontrolável, o que também dificulta muito o combate a este flagelo.

São tendências muito preocupantes que se acentuaram nos últimos anos e ainda que tenham aumentado o nível e a intensidade do combate aos mesmos Incêndios.

São tendências que também provam a falta de justificação objectiva para a “tese” aleatória da influência dominante dos alegados “incendiários”...

Na origem e dimensão do flagelo, também está a desertificação humana e ambiental de vastas zonas em consequência da ruína da Agricultura Familiar provocada pela PAC, Política Agrícola Comum, e pelas políticas agro-florestais de matriz mais nacional.

Nas áreas urbanas, a retoma da pressão urbanística parece “reacender” a tendência para os Incêndios Florestais.

Políticas agro-florestais “incendiárias” que é necessário “apagar”

CNA reafirma que, a partir da conjugação de condições climatéricas propícias, a causa “construída” no terreno mais determinante para a extensão e violência dos Incêndios é o “Ordenamento Florestal” lá instalado de forma verdadeiramente “incendiária”.

De facto, ao longo dos últimos 30 anos, as grandes Indústrias das Fileiras Florestais, sobretudo a das Celuloses, impuseram uma autêntica “ditadura” através da qual comandaram a estratégia do plantio indiscriminado de dezenas de milhar de hectares com a monocultura de Eucalipto em regime intensivo e plantado em contínuo no terreno. Para isso, sempre contaram com as “boas vontades” oficiais e com imensos privilégios de todos os tipos concedidos pelos sucessivos Governos.

Entretanto, a grande indústria das Fileiras manteve em baixa acentuada os Preços da Madeira na Produção, numa lógica de aquisição da matéria-prima o mais barata possível e, em consequência, também de desvalorização da Produção e da gestão “activa” da Floresta Nacional. Desvalorização permanente da Produção de Madeira que é outra componente estruturante para a desgraça que temos vivido com os Incêndios Florestais.

CNA sempre reclamou e propôs alternativas práticas e estratégicas.

Reafirma-se, designadamente junto do Governo e outros Órgãos de Soberania:

  • É necessário fazer implantar no terreno um correcto Ordenamento Florestal que, nomeadamente, impeça o plantio de Eucaliptais (ou mesmo de Pinhais) em regime monocultural intensivo e em contínuo, indo aliás ao encontro de legislação recentemente aprovada na Assembleia da República. Para isso, é também preciso adequar os PROF, Planos Regionais de Ordenamento Florestal, e os PGF, Planos de Gestão Florestal, mais enquadradores, para se poder atribuir apoios preferenciais à Floresta Multifuncional e mais resistente aos Fogos.
  • É necessário reforçar e dotar com mais verbas em Orçamento de Estado - e que, depois, sejam mesmo aplicadas com tal objectivo - as políticas públicas de Prevenção de Incêndios Florestais ao longo de todo o ano mas a começar no Inverno.
  • É necessário dirigir apoios públicos – técnicos e financeiros - para as pequenas e médias Explorações Florestais o que também implica financiar e operacionalizar os Organismos Públicos vocacionados para a Floresta, por exemplo - o ICNF – o Corpo Nacional de Guardas Florestais – por forma a recuperá-los do desmantelamento a que têm sido sujeitos nos últimos anos.
  • É necessário fazer aumentar os Preços da Madeira na Produção.
  • É necessário combater, sem hesitação, os casos das fraudes e apurar todos os indícios de outros aproveitamentos ilícitos a pretexto dos meios de combate aos Incêndios Florestais, a começar pelos meios aéreos.

Confederação Nacional de Agricultura - CNA

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