Curiosidades: O arqueólogo que descobriu as origens da viticultura na Península Ibérica
O município de Dénia, na província de Alicante, prestou homenagem ao Dr. Hermanfrid Schubart pela sua investigação no sítio arqueológico Ibero de l’Ált de Benimaquia.
O arqueólogo alemão foi homenageado no passado dia 15 de Outubro, na adega de Les Freses em Jesús Pobre. Esta adega vem trabalhando, hámuitos anos, da mesma maneira tradicional que já era praticada pelos Iberos do século VI a.C.: fermentando o seu vinho em ânforas.
“Schubart foi um grande investigador e os seus achados colocaram a nossa terra no mapa”, afirma, emocionada, Mara Bañó, proprietária da adega Les Freses e viticultora. Bañó seguia há anos a pista de Schubart, quando um dia decidiu contactá-lo. A tarefa não se afigurava fácil pois não sabia como localizá-lo. A pista conduziu-a a Madrid onde foi informada que Schubart residia em Berlim. Ganhou coragem e, com a ajuda de uma lista telefónica, começou a ligar a todos os Schubart, até ao dia em que conseguiu contactar o famoso arqueólogo. “Mostrou-se muito acessível e disponível. Disse-me que o seu filho vinha no verão para Moraira, e hoje temo-lo aqui para nos contar as suas aventuras em Montgó. Foi alucinante”, conta Bañó.
Decorriam os anos 60, quando o arqueólogo Hermanfrid Schubart começou a investigação que lançou luz sobre as origens da produção de vinho mais antiga da Península Ibérica. Por essa altura, Schubart era um jovem de 27 anos que percorria as estradas de Dénia conduzindo o seu Volkswagen “carocha”. Trabalhava para o Instituto Arqueológico de Berlim, mas foi enviado para a sede de Madrid para fazer investigação sob a direção de Helmut Schlunk, famoso historiador da Alta Idade Média. Numa das suas viagens pela Andaluzia, Schubart deparou-se com a montanha que, mais tarde, teria um papel fundamental na sua investigação : El Montgó. Um ano depois, Schubart deu início, juntamente com Domingo Fletcher, do Serviço de Investigações Pré-Históricas de Valência, a uma das maiores descobertas da sua carreira.
No inicio dos anos 60, teve lugar a primeira escavação no sítio arqueológico Ibero de l’Alt de Benimaquia, onde se viria a confirmar que a sua origem remonta ao século VI a.C.. Schubart empenhou-se em recriar a fortificação, e procurou desenhar a composição mais fidedigna das muralhas e torres do antigo povoado. Por essa altura, o arqueólogo não imaginava que, nesse mesmo povoado, se viriam a encontrar restos de ânforas para armazenar vinho, e ainda cerca de 7000 grainhas de uva datadas do mesmo século. A investigação se Schubart concluiu que l’Alt de Benimaquia albergava a primeira adega da Península Ibérica. A sua organização era simples: pisava-se a uva em três lugares diferentes do povoado, desembocando depois numa bacia de fermentação onde, por um pequeno orifício, se retirava o líquido que depois se acondicionava em ânforas, para a sua conservação e posterior transporte por mar.
A adega Les Freses começou um projeto de comercialização do vinho produzido integralmente em ânforas. Para Mara Bañó, esta é a forma de recuperar o valor do primeiro vinho produzido na Península Ibérica e, em cuja reconstrução histórica, Schubart tanto participou. O arqueólogo declarou-se emocionando pelo projeto de Les Freses, bem como pela homenagem que lhe foi prestada. “Não esperava que viesse tanta gente. O meu filho disse que apareceriam quatro ou cinco, e afinal apareceram os alcaides e inúmeros arqueólogos. É fantástico”, afirmou Schubart.
No evento também compareceu o arqueólogo de Dénia, Josep Ahuir, que destacou a influência que a cultura Fenícia, proveniente de Ibiza e Sardenha, teve no sítio arqueológico de l’Alt de Benimaquia. Ahuir aproveitou para felicitar o trabalho de Schubart, e concluiu que, graças à sua investigação, se tornaram possíveis descobertas posteriores.
“Nas escavações dos anos noventa, encontraram-se mais de dez mil sementes de uva. Isto mostra-nos a antiguidade da tradição vitivinícola da Marina Alta”. Schubart acrescentou que Montgó “tem, desde a antiguidade, o poder de atrair influências e culturas” e lançou uma reflexão que bem poderia aplicar-se aos tempos atuais: “A costa não é uma fronteira. É um convite a entrar”.