Leptoglossus occidentalis, a praga do pinheiro manso
Bastaram quatro anos. Entre 2010, ano em que houve uma “superprodução de pinha”, como explicou ao SOL Pedro Silveira, da Associação de Produtores Florestais do Vale do Sado (Ansub), e 2014, o inseto leptoglossus occidentalis, originário da América do Norte, ‘sugou’ grande parte da produção de pinhão nacional, diminuindo o rendimento "em cerca de 30% face ao espetável". Sugar, neste caso, não é um eufemismo.
Dono de "uma espécie de trompas pontiagudas, o inseto de pouco mais de dois centímetros consegue "penetrar a pinha para se alimentar, absorvendo o pinhão em formação", continua o mesmo responsável. O resultado são os denominados ‘pinhões chochos’.
Com uma capacidade de sobrevivência rara, “numa região em que não tem inimigos naturais”, dado tratar-se de uma espécie exótica, o bicho soma e segue: “Além de absorver o pinhão, estraga a pinha enquanto ainda está a formar-se”, diz Pedro Silveira, lembrando que “uma pinha leva três anos a ficar madura”.
As más notícias para a fileira do pinheiro manso não ficam por aqui. O leptoglossus occidentalis é ainda portador de um fungo que mata as ‘guardiãs’ dos valiosos pinhões. O resultado é devastador: “Há cinco anos, uma campanha rendia entre os 50 e os 70 milhões de euros; no ano passado o rendimento dos produtores caiu para os 15 milhões”, lamenta Silveira.
Praga descontrolada em toda a Europa
Segundo o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), este inseto exótico – que, recorde-se, é mais uma praga a ameaçar a floresta autóctone e as exportações portuguesas (com o pinheiro bravo, por exemplo, a sofrer grandes restrições comerciais devido ao nemátodo da madeira do pinheiro) – chegou à Europa, mais exatamente ao Norte de Itália, já em 1999, “tendo-se aclimatado e disseminado rapidamente por vários países europeus”.
A Portugal chegou 11 anos depois, em 2010. As autoridades nacionais não têm, porém ainda qualquer plano de ataque para mais esta praga. Segundo Pedro Silveira, da Ansub, apenas recentemente (a 1 de outubro), foi assinado um protocolo para investigar o comportamento do inseto (que “percorre grandes distâncias”), entre entidades como a Câmara Municipal de Alcácer do Sal, a União da Floresta Mediterrânica, a Direção-geral de Alimentação e Veterinária e Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, o ICNF o Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa.
Explica Pedro Silveira: “Já tinha sido desenvolvido um protocolo de investigação com o ICNF e o IFAP [Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas], entre outras entidades, porém não se conseguiu chegar a grandes conclusões”.
Para o controlo de pragas de espécies exóticas são necessários vários anos e investimento em investigação, conclui o mesmo responsável.
Fonte: SOL