O que é o Fogo Bacteriano
O fogo bacteriano
A bactéria de quarentena Erwinia amylovora (Burr.) Winsl. et al., é responsável pela doença vulgarmente designada por fogo bacteriano.
Esta doença pode afetar fruteiras e ornamentais da família das rosáceas, e ocasiona estragos que acarretam importantes perdas económicas, designadamente em macieiras, pereiras e marmeleiros.
A legislação em vigor para além de definir as medidas de proteção fitossanitária, estabelece a lista de organismos prejudiciais que, por constituírem graves problemas fitossanitários, devem, quando detetados, ser submetidos a combate obrigatório. É importante a observação dos primeiros sintomas e a destruição dos vegetais infectados, tendo em conta que são os meios mais efetivos para o seu controlo e erradicação.
Hospedeiros
Possui como hospedeiros naturais, com comprovada importância do ponto de vista económico e epidemiológico, variados membros da sub-família Pomoideae e de algumas Rosaceae, nomeadamente espécies fruteiras (pereiras, macieiras, marmeleiros) e ornamentais (algumas delas espontâneas). Algumas destas espécies são fundamentais na produção nacional, muitas delas com Denominação de Origem Protegida como é o caso da Maçã Bravo de Esmolfe e a Pêra Rocha do Oeste e com Indicação Geográfica Protegida, como acontece com a maçã da Beira Alta e maçã de Alcobaça, que precisamos proteger.
Risco fitossanitário
Aquando dos focos iniciais Erwinia amylovora causa graves danos nos hospedeiros suscetíveis, bem como em anos subsequentes, devido à destruição dos esporões. Em frequentes casos o recurso a podas sanitárias não permite salvar as árvores afectadas. É assim considerado um organismo nocivo de quarentena e uma grave ameaça à comercialização global de material de propagação vegetativa, uma vez que também afeta plantas ornamentais, as quais podem ser igualmente portadoras de infeções latentes.
A doença
A designação de fogo bacteriano é consequência dos sintomas evidenciados pelos órgãos das plantas doentes, nomeadamente dos gomos e raminhos que mostram a presença de necroses de cor castanha a negra, dependendo do hospedeiro em causa, e que fazem lembrar um aspecto de queima. Os raminhos necrosados mantêm-se aderentes à plantas adquirindo uma posição arqueada em forma de bordão. Os frutos imaturos podem apresentar necroses da mesma cor, parciais ou completas, dependendo do seu estado de desenvolvimento, acabando por desidratar e permanecer num estado mumificado aderentes ao corimbo, que muitas vezes evidencia uma queima total dos frutos após o vingamento das flores.
Nas folhas os sintomas são constituídos por manchas de cor castanha a negra quer próximas das margens, quer da nervura principal. Nos ramos e troncos desenvolvem-se lesões de cor avermelhada na zona sub-epidérmica e ao nível dos feixes lenhosos, que podem circundar o órgão, o qual acaba por morrer. Nestes, desenvolvem-se ainda cancros em depressão que podem ser confundidos com a presença de outras doenças de etiologia bacteriana. Em todos dos órgãos afetados é possível observar a presença, por vezes muito evidente, de exsudado bacteriano.
Biologia
A bactéria sobrevive nos tecidos vegetais dos hospedeiros infetados. Os cancros dos ramos infetados são a principal fonte de inoculo para a contaminação dos gomos foliares e florais na Primavera do ano seguinte. Pode também sobreviver em resíduos do solo durante algumas semanas.
A bactéria penetra na planta através destes gomos, bem como de aberturas naturais, nomeadamente de estomas, lentículas e hidátodos e, ainda, de pequenas lesões, transportada pela chuva (aerossol) e por insectos e/ou vento (pólen contaminado), exsudado bacteriano.
Após infeção primária dos raminhos desenvolve-se, na presença de elevados níveis de humidade relativa, abundante produção de exsudado bacteriano de cor creme a alaranjada que emerge dos órgãos afectados, permitindo a sua dispersão pela ação de insetos polinizadores, nomeadamente abelhas, ou de operações culturais mal conduzidas.
A transmissão da bactéria a grandes distâncias pode ainda ser efectuada através da comercialização de material de propagação albergando infeções latentes, bem como da ação de aves migratórias.
Meios de controlo
Existe a necessidade de utilizar de forma integrada a panóplia de métodos disponíveis para um controlo mais eficaz da doença e do seu agente causal. Aquando da implantação de pomares deve ser dada atenção, uma vez que não existem variedades resistentes ao uso de outras menos susceptíveis, e tomadas medidas de vigilância dos pomares. As operações culturais devem ser executadas antes das regas, uma vez que estas proporcionam elevados níveis de humidade relativa e facilitam a transmissão da bactéria. Uma vez a doença instalada, as podas sanitárias com rebaixamento das árvores menos atacadas, e destruição das mais doentes devem ser efetuadas durante o repouso vegetativo e a nutrição deve ser adequada evitando um excessivo vigor. A poda dos ramos mortos durante o período de primavera-verão deve ser feita com particular cuidado, cortando 30 cm abaixo das zonas visivelmente atacadas e desinfetando os instrumentos entre cada corte com uma solução de hipoclorito de sódio a 10%. A implementação de sistemas de avisos apoiados em modelos previsionais, cujo sucesso é no entanto variável, pode contribuir para utilização mais adequada de alguns produtos químicos com eficácia no controlo da doença.