Tecnologia no prato: colmeias Hi-tech e a agricultura nas cidades
A agricultura tradicional alimentou os nossos antepassados. Mas hoje, a sociedade urbana não consegue abdicar das novas tecnologias. Nesta edição especial de” Futuris”, vemos como os cientistas e os engenheiros estão a ajudar os agricultores e a indústria por toda a Europa.
Colmeias Hi-Tech
Alexandros Gousiaris é um matemático que agora gere 700 colmeias, na Grécia. Cada colmeia precisa de verificação regular, para avaliar o bem-estar das abelhas. Alexandros ajudou a desenvolver uma nova aplicação para smartphone que simplifica estas inspeções: “Esta aplicação dá aos apicultores dois assistentes digitais: um acompanha-nos quando fazemos trabalho de campo e o outro é-nos útil em casa – é possível aceder à aplicação através da internet.”
A aplicação tem um sistema de voz e chama-se “Beenotes”. Faz uma série de perguntas sobre cada colmeia e o apicultor responde, utilizando um sistema de mãos-livres. As respostas são automaticamente armazenadas numa base de dados.
“Se usasse um gravador de voz, tinha de ouvir oito horas de gravações todos os dias, quando voltasse para casa. Assim, já não necessário. Com esta aplicação já não perdemos tempo a reproduzir as gravações”, diz Alexandros Gousiaris.
A aplicação, desenvolvida dentro de um projeto europeu de investigação, tem um interface que ajuda o apicultor a analisar os dados e a gerir as colmeias de forma eficiente – no que toca à prevenção de doenças e na seleção das colónias de abelhas para reprodução.
O software funciona em várias línguas e é utilizado por centenas de apicultores na Europa, América, África e Austrália. Os criadores da aplicação estão a tentar melhorar ainda mais os algoritmos. Segundo Nassos Katsamanis, engenheiro de software da Beenotes: “É a primeira vez que os apicultores conseguem recolher dados em grande escala. Juntar todos estes apicultores ajuda-nos a desenvolver a inteligência virtual necessária, para que apicultura possa avançar no futuro. Permite que o apicultor escolha as melhores abelhas, as melhores rainhas para reprodução, ano após ano. Desta forma, passo a passo, o número e a qualidade das abelhas melhora.”
Alimentos Saudáveis e Saborosos
Os fumados e as salsichas podem ser muito saborosos, mas não cabem em todas as dietas. Será que os alimentos processados se podem tornar mais saudáveis – preservando o sabor?Uma fábrica na Catalunha é o mais antigo produtor espanhol de produtos tradicionais, como presunto, salame ou chouriço. Mas está aberta à inovação. Uniu-se a outro projeto europeu de investigação, para encontrar alternativas com baixo teor de gordura e de sal.
Segundo Jordi Buxeda, diretor técnico da Biadas 1880: “Para fabricar o chouriço tradicional, com baixo teor de gordura, usamos um tipo de carne de porco de alta qualidade; a diferença está na receita de baixo teor de gordura que só contém 3% de gordura”.
O chouriço tradicional pode conter cerca de 30% de gordura, o que lhe dá um sabor e textura diferentes. Nesta nova receita saudável, a gordura animal é substituída por óleo de girassol. “Um dos principais objetivos do projeto era obter o sabor tradicional do chouriço, por isso, tivemos que fazer mais de 70 testes diferentes para alcançar o resultado final”, acrescenta Jordi Buxeda.
Segundo a empresa, o novo chouriço tem 60% menos de gordura e 40% menos sal e é bastante apreciado pelos consumidores à procura de opções alimentares mais saudáveis. Aparentemente, o sabor é praticamente o mesmo.
Medir o sabor dos alimentos: é o objetivo dos cientistas do Instituto Nacional de Investigação Agrícola (INRA), em Dijon, França.
Alterar a receita altera a química complexa do sabor dos alimentos. Etienne Sèmon, Químico Alimentar do INRA explica: “Digamos que o processo vai influenciar uma maior presença de certas moléculas em relação a outras. Desta forma talvez estes sabores sejam percecionados de forma diferente, à medida que são libertados. É neste momento que é preciso avaliar as informações imparciais dos provadores.”
Mercados Urbanos
Consumir produtos locais é um slogan importante para quem quer cuidar da saúde, assim como para o bem-estar dos agricultores e do meio ambiente. Mas será possível cultivar alimentos dentro das grandes cidades? Em Roterdão, os sociólogos estão a estudar um bom exemplo desta abordagem”.
As máquinas de café de um edifício de escritórios produzem cerca de uma tonelada de resíduos de café, todos os meses. Estes resíduos ainda contém mais de 99% dos compostos originais e vários nutrientes. Um recurso precioso para uma startup local que recolhe resíduos de café para posterior reutilização.
Segundo Sandra de Haan, comercial da RotterZwam:“É possível fazer várias coisas com as borras de café – podem ser utilizadas no jardim, para nutrir as plantas e para produzir alimentos. Normalmente, em Roterdão, os resíduos de café são considerados resíduos normais e vão para o incinerador.”
As borras de café são transformadas em substrato para o cultivo dos cogumelos, no centro da cidade. Um exemplo de agricultura urbana que é objeto de um estudo sociológico europeu que procura modelos sustentáveis de cultivo, nos grandes centros urbanos.
Todos os meses, uma equipa de sete pessoas produz 400 kg de cogumelos, para restaurantes locais. Também organizam cursos de formação para novos produtores.
“Quando se compara com uma refeição convencional – os produtos fizeram cerca de 10 mil km por todo o mundo, antes de chegarem ao prato. Ao produzi-los na cidade, podemos reduzir a distância para uns 10 quilómetros”, acrescenta Sandra de Haan.
Outro caso de estudo é o mercado de Kalnciema, do século 19, em Riga. É património mundial da UNESCO – tornou-se conhecido pela comida e pelo artesanato.
Para o Sociólogo, Mikelis Grivin: “É um local único em Riga, onde é possível ver como um mercado tem conseguido sobreviver durante vários anos. Do ponto de vista da investigação é realmente interessante. Porque é que os outros falham, enquanto este mercado se consegue manter tão bem?”
Na Letónia, como em vários outros países, os mercados de agricultores tendem a desaparecer devido às cadeias de supermercados. No entanto, Kalnciema atrai 100 mil visitantes por ano. Os sociólogos descobriram que os eventos culturais gratuitos criados à volta do mercado – como exposições, concertos, projeções de cinema e várias atividades para crianças – ajudaram a unir a comunidade de agricultores e os clientes. Algo que os supermercados não oferecem.
O sociólogo Talis Tisenkopfs conclui: “Um local enigmático – com uma extraordinária fusão entre cultura e distribuição alimentar, num ambiente urbano. É incrível como é possível trazer boa comida até à cidade através da cultura e também do lazer.”
Fonte: Euronews