publicado a: 2021-07-07

Venha conhecer as Agroflorestas da Mendes Gonçalves

Mendes Gonçalves pode não ser um nome que reconheça de imediato, mas as marcas Paladin e Peninsular dispensam apresentações, estas fazem parte da sua vida e do quotidiano de qualquer português.

A Mendes Gonçalves nasce em 1982 quando Carlos Gonçalves começa a produzir vinagre de figo, a partir do fruto cultivado por produtores locais.

Atualmente esta empresa, sediada na Golegã, tem uma das fábricas mais modernas da Europa e emprega mais de 300 pessoas.

Depois desta pequena apresentação, vamos falar de uma das mais recentes vertentes desta empresa - a produção agrícola.

Teve início em 2018 com um projeto chamado Vila Feliz Cidade que seria dedicado aos mais novos. Começou especialmente com a parte educativa, em que o objetivo era ter uma escola, uma vez que atualmente a empresa já tem uma creche para servir os filhos dos funcionários.

No entanto o projeto foi-se desenvolvendo e crescendo, construíram-se várias agroflorestas mas a escola ainda não avançou, especialmente devido à parte burocrática.

O projeto começou com a produção de 16 variedades de pimentos picantes em modo biológico, num total de meio hectare, para integrarem a produção dos famosos picantes “Sacana”.

Um ano depois, em 2019 a produção passou a 1 hectare e foram selecionadas as variedades com mais interesse para a empresa. Nesse mesmo ano nasceu a primeira agrofloresta da empresa, baseadas nos conceitos de Agricultura Sintrópica e Agricultura Regenerativa.

A ideia principal deste sistema é aproveitar ao máximo todos os estratos. Numa das agroflorestas dominam os choupos, que parece quase tratar-se de um choupal. Por baixo estão macieiras e abaixo destas estão groselhas, framboesas, amoras, espinheiro do mar e baga japonesa. As necessidades de luz do choupo são as mais altas, será por isso o estrato emergente, o que fica por cima de tudo e o estrato mais abaixo, o objetivo é que faça a cobertura, fazendo com que existam menos invasoras.

Ao mesmo tempo, na linha ainda existem espargos, alcachofras e algumas hortícolas que ficaram do ano passado - couve Toscana, couve portuguesa, couve-galega, couve kale e alho francês

As espécies foram escolhidas tendo em conta algumas sinergias que possam existir com as culturas-alvo. No caso da macieira, foram colocadas amoras no pé por causa das microrrizas que a amora acrescenta e de que a macieira beneficia.

Nas entrelinhas, existe ainda ensaios de grão-de-bico e duas variedades de trigo. O objetivo é manter mais verde, durante mais tempo possível. E desde o início já se nota que houve uma explosão de auxiliares.

Numa das outras agroflorestas o esquema já é diferente, vêem-se duas linhas com os estratos emergente e médio, uma linha com o baixo que são os citrinos e rasteiras. Todas as agroflorestais têm compassos diferentes, uma vez que se tratam ainda de experiências.

A primeira agrofloresta implementada em fevereiro de 2019 tem 7000m2 e foi dividida em 4 zonas produtivas: a figueira com a videira, em que a figueira é o tutor da videira, a zona das ameixeiras, das macieiras, e a zona dos citrinos, abacates e amoreira de árvore.

Nesta, a árvore de serviço plantada foi o eucalipto, porque o eucalipto é uma árvore pioneira, que se dá num solo completamente pobre e, como neste caso, compactado ao máximo. Como não é uma árvore de folha caduca, no inverno protege as outras culturas das geadas.

Por baixo dos eucaliptos podem ver-se sabugueiros, que ajudam também na proteção do tronco do sol.

Nas outras agroflorestas foi utilizado o choupo, apesar de ser uma árvore de folha caduca, ou seja, a dada altura fica tudo despido, perdendo-se a proteção de inverno, também é uma ótima árvore porque é uma pioneira que se dá em solos pobres, cresce bem em solos com pouca matéria orgânica e que têm poucos nutrientes. Além disso retira-se muita matéria orgânica com a poda.

Como se trata de um sistema de sucessão, os eucaliptos depois de fazerem o seu trabalho (essencialmente de proteção de outras culturas) serão substituídos. Os eucaliptos são podados antes da floração para que não se propaguem e para darem matéria orgânica. Daqui a 10 anos serão substituídos por carvalhos, sobreiros, azinheiras, etc. que vão sendo plantados ao lado.

Nesta agrofloresta também existem árvores autóctones, como o sanguinho das sebes que também serve para produção de matéria orgânica e para proteção do sol. Coexistem sempre árvores de serviço e árvores de produção. As produções nesta agrofloresta são os pimentos picantes como hortícola e as fruteiras para consumo na fábrica, para vinagre.

Na exploração também existem oliveiras, algumas centenárias de onde são colhidas as azeitonas, para extração de azeite, para consumo interno. Além disso, já se faz alguma produção de galinhas de quatro raças autóctones portuguesas.

Atualmente ainda não existe realmente uma produção, mas muito do que sai das agroflorestas é para consumo na cantina da empresa. Nesta área agrícola da Mendes Gonçalves trabalham já quatro pessoas permanentemente.

Estas agroflorestas de agricultura sintrópica são tão ricas e diversificadas que se podem encontrar eucaliptos, choupos, casuarinas, azinheiras, ulmeiros, amieiros, plátanos, sanguinho das sebes, aroeiras, medronheiros, alecrins, rosmaninhos, lavandas, bambu, entre outras. E são produzidos maçã, frutos vermelhos (mirtilo, groselha e framboesa), vinha e aveleiras, hortícolas diversificadas, etc.

Neste momento estas agroflorestas, baseadas em Agricultura Sintrópica estão certificadas para Modo de Produção Biológico ou em fase de conversão.

www.mendesgoncalves.pt

Comentários

  •   marco13machado 2021-07-09 0 0
    Muitos Parabéns Sr. Carlos Gonçalves e toda a sua fantástica equipa, sempre investigar e a inovar. Que Grande Exemplo!! aqui em Moçambique estamos a também a adoptar, temos tido interação com o pioneira Sr Ernest Goscht. Muito inspiradora mesmo está contacto que a M&E também está na vanguarda da regeneração que é preciso fazer na agricultura e no país, como faz exemplarmente no processamento. Bem haja empresários com tanta Visão!! Marco Machado
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