A amendoeira: estado da produção
No final do final do século XIX a amêndoa foi uma das principais exportações portuguesas do setor agrícola. A amendoeira estava abundantemente distribuída no país sobretudo nas regiões mais quentes do interior norte e no Algarve. No presente, Portugal importa amêndoa. O mercado é fortemente dominado pelos Estados Unidos, que produzem aproximadamente 80% da produção mundial, sendo seguidos a grande distância pela Austrália (6%) e pela Espanha (5%). Paradoxalmente, Espanha regista a maior área de amendoal do mundo. Estes números são possíveis porque os Estados Unidos instalaram o amendoal em solos de elevada aptidão para o cultivo de amêndoa e com uma técnica cultural otimizada, incluindo a generalização do regadio e o uso de variedades como ‘Nonpareil’ altamente produtiva, o que permite obter grandes produções unitárias. As produções médias nacionais dos Estados Unidos aproximam-se das 5 t/ha e nos pomares bem conduzidos ultrapassam-se regularmente 10 t/ha. Em Espanha, tal como em Portugal, dominam os pomares de sequeiro, instalados em solos de reduzida fertilidade natural e conduzidos com uma técnica cultural negligenciada.
A produção em Portugal pode ser competitiva, porque as condições ecológicas são favoráveis, basta para isso que se implemente uma técnica cultural adequada que deve começar pela escolha do porta-enxerto e variedade(s).
Nos últimos anos surgiu um interesse renovado no cultivo da amêndoa. Este “surto” de novas plantações parece estar associado a uma melhoria nos preços da amêndoa em comparação com um passado recente. A amêndoa é um alimento de elevado valor nutricional e com inúmeros benefícios para a saúde, o que tem feito aumentar o consumo um pouco por todo o mundo. Em contrapartida, a produção mundial de amêndoa também tem vindo a aumentar de forma significativa, o que pode contrariar a tendência de aumento dos preços. Contudo, estes aspetos não devem fazer hesitar os produtores. A produção em Portugal pode ser competitiva, porque as condições ecológicas são favoráveis, basta para isso que se implemente uma técnica cultural adequada que deve começar pela escolha do porta-enxerto e variedade(s).
Em Portugal, o novo amendoal está a ser instalado de duas formas aparentemente antagónicas. A sul, no Alentejo, está a ser instalado em regadio, seguindo os modelos intensivo e super-intensivo no que diz respeito ao número de plantas na unidade de área. O desafio é grande porque estes sistemas de produção exigem grandes produtividades unitárias para serem viáveis, devido à elevada estrutura de custos. Contudo, se for seguida uma boa técnica cultural, desde a escolha inicial dos solos, dos porta-enxertos e cultivares, sistemas de condução e poda, estratégias de gestão do solo, fertilização e proteção sanitária, a região tem condições ecológicas para produzir de forma competitiva com outras regiões do globo. À falta de variedades melhoradas em Portugal, os produtores têm recorrido nesta fase inicial a material vegetal e informação disponíveis em outros países do sul da Europa, em particular Espanha e França, para instalarem os seus pomares.
Tudo indica que a região (interior norte) terá de ser competitiva baseada em sequeiro.
No interior norte o amendoal está a ser instalado maioritariamente em sequeiro e quando se introduz regadio os projetos de rega são de qualidade questionável. Tudo indica que a região terá de ser competitiva baseada em sequeiro, tal como acontece atualmente com o olival. As condições ecológicas de partida são aceitáveis; um clima mediterrânico e solos, ainda que não sejam férteis, apresentam normalmente boa drenagem interna, um aspeto importante no cultivo do amendoal. O sistema de produção tem de estar baseado numa estrutura de custos muito conservadora e numa técnica cultural adequada às condições de cultivo. Um pomar de sequeiro bem conduzido pode assegurar produções regulares de amêndoa de 2000 kg/ha/ano, comprovável em alguns pomares da região. Números avançados pelo Instituto Nacional de Estatística de 300 a 400 kg/ha/ano podem ser reais mas revelam uma cultura semiabandonada com uma técnica cultural negligenciada. É também necessário ter em conta que excluindo a vinha e o olival não há alternativas culturais para este território, dominado pelos vales dos principais rios (Douro, Tua, Sabor, Côa,…) e planaltos ondulados. Este tipo de fruticultura está também particularmente bem adaptada a agricultura de fim de semana, sendo as principais operações culturais realizadas por mão-de-obra familiar que normalmente não é considerada nos custos de exploração. De qualquer forma, os pomares de sequeiro para serem produtivos, dentro das limitações ecológicas que o stresse hídrico impõe, exigem conhecimento e rigor semelhantes aos pomares de regadio na hora de implementar a técnica cultural.
O recém-criado Centro Nacional de Competências para os Frutos Secos dedicou já bastante importância a esta cultura. Editou recentemente três manuais, que designou de estudos, dedicados à produção, à transformação e à comercialização da amêndoa. Apesar do sistema científico nacional não ter ainda grande trabalho experimental com esta cultura, designadamente nos domínios da produção, os manuais editadas podem ser de grande utilidade para todos aqueles que se dedicam ou pretendam vir a dedicar ao cultivo do amendoal. Os interessados podem descarregar os manuais em http://www.cncfs.pt/.
Autores:
M. Ângelo Rodrigues, Albino Bento, Margarida Arrobas
Centro de Investigação de Montana
Instituto Politécnico de Bragança
Agradecimento: PDR2020, Grupo Operacional EGIS: Estratégias para uma gestão integrada do solo e da água em espécies produtoras de frutos secos. Parceria nº 55, Iniciativa nº 91.