publicado a: 2016-11-24

A mudança climática ameaça os pequenos agricultores

Os agricultores já estão a sofrer as consequências das alterações climáticas, mas também podem ajudar a combatê-las, destaca um estudo da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).

"Todos os agricultores devem adaptar-se às alterações climáticas e ajudar a mitigar as emissões (poluentes) libertadas pela agricultura", afirmou Rob Vos, diretor de Economia de Desenvolvimento Agrícola da FAO.

"A boa notícia é que muitas técnicas utilizadas na adaptação (ao aquecimento global) também contribuem para a redução das emissões e vice-versa", disse ele.

O estudo State of Food and Agriculture 2016 concentra-se na relação entre as alterações climáticas, a agricultura e a segurança alimentar.

O setor agrícola, a silvicultura, as pescas e a pecuária são responsável por libertar um quinto das emissões de gases poluentes na atmosfera.

Uma das consequências mais graves do fenómeno é a desflorestação, que inclui terras utilizadas para atender à crescente procura por produtos de carne.

A agricultura contribui para as alterações climáticas, mas os 500 milhões de pequenos agricultores, que normalmente produzem apenas os alimentos suficientes para alimentar as suas famílias, estão entre os mais afetados pelo aquecimento global.

O clima e, especialmente a precipitação, estão a tornar-se "menos previsíveis”, disse Vos. "Isso afeta severamente os agricultores, que não sabem o que esperar", disse ele.

Por exemplo, em algumas partes da América Latina e da África Oriental, em duas semanas choveu a quantidade que chove habitualmente durante um ano inteiro", então o resto do ano não haverá nada", disse ele.

"Além disso, o aumento das temperaturas também levou à disseminação de pragas e doenças", disse Vos.

Mas os agricultores não são os únicos produtores de alimentos gravemente afetados pelas alterações climáticas.

O aumento das temperaturas oceânicas faz com que os peixes de zonas tropicais percorram grandes distâncias, o que reduz as reservas, o que afeta particularmente os pescadores nos países em desenvolvimento.

“Aparecem peixes tropicais em águas do norte, mesmo na Islândia", refere Vos.

Reduzir a pressão sobre os recursos naturais, dos quais dependem muitos produtores de alimentos, também implica abordar o consumo e o desperdício.

"Fazer frente às perdas e desperdício de alimentos pode ajudar a reduzir a pressão sobre os recursos naturais, porque ao não serem consumidos por seres humanos, significa uma pressão desnecessária sobre eles", explicou.

"As soluções não devem ser procuradas apenas pelos agricultores, temos de olhar para todo o sistema de produção de alimentos em geral", disse Vos.

O estudo da FAO também se concentra em mudanças na dieta, tais como aumento da procura por proteínas da carne, o que aumentou a pressão sobre o meio ambiente.

“O reequilibro das dietas, a fim de reduzir os alimentos de origem animal seria uma contribuição significativa neste sentido, com possíveis benefícios também para a saúde humana", disse o relatório.

A acessora de mudança climática, Aditi Sen, disse em entrevista que o novo relatório da FAO também detalha como os países podem implementar os seus compromissos de redução de emissões associados à agricultura no âmbito do Acordo de Paris, que irá em breve entrar em vigor.

"Da mesma forma que falamos sobre a transição para a energia limpa, eu acho que necessitamos de começar a falar sobre a transição para a agricultura", refere.

Algumas áreas de atividade agrícola requerem uma atenção particular na altura de fazer frente às alterações climáticas, observou Sen.


Fonte: Agriculturers

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