Abastecimento de produtos agrícolas quase imune à crise
Documento do Ministério da Agricultura indica os produtos em que Portugal é autossuficiente. O Jornal Económico traça aqui um resumo do panorama atual do setor, do arroz aos vinhos.
O Ministério da Agricultura fez o ponto da situação da produção e abastecimento dos produtos alimentares em Portugal. Com base nesse documento, o Jornal Económico traça aqui um resumo do panorama atual do setor, do arroz aos vinhos. Não há situações de crise irreversível, mas as preocupações são transversais a vários produtos essenciais.
Arroz
O mercado internacional já vinha a registar alta de preços no arroz nos últimos meses, atingindo picos em sete anos, como reflexo do forte aumento da procura devido à Covid-19. No mercado nacional, o grau de autoaprovisionamento de arroz descascado era de 61,9% em 2017/18. Em 2019, importaram-se cerca de 107 mil toneladas.
Leite e produtos lácteos
“Em Portugal o mercado tem estado estável, mas precisamos de nos aproximar um pouco mais da média UE ao nível dos preços”, defende o documento do Ministério da Agricultura. Apesar de Portugal ser autossuficiente em leite UHT, “estima-se que a principal alteração poderá ser ao nível do perfil do consumidor, que passará a optar menos por produtos de maior valor acrescentado”, o que poderá gerar “fragilidades no subsetor de leite de pequenos ruminantes, por dependerem do escoamento para queijarias de pequena dimensão, encerradas por falta de mercado, ou com capacidade de armazenagem completa”.
Carne de suíno
Neste segmento, Portugal está “a beneficiar da conjuntura favorável, produção estável, com preços muito interessantes e acima da média da UE”, evidenciando um “mercado muito dinâmico com aumento das exportações e diminuição das importações”. No entanto, “Portugal não é autossuficiente em carne de suíno, sendo o grau de autoaprovisionamento de 75,7%”.
Carne de aves
A produção em Portugal está a acompanhar a tendência de crescimento europeia, o mesmo não acontecendo com os preços, que ainda estão um pouco abaixo da média da UE. O grau de autoaprovisionamento para o setor das aves é bastante elevado, o que nos faz estar pouco dependentes da importação. Dados de 2018 indicam que na carne de galináceos e pato chegamos perto dos 95%, enquanto na carne de peru esta percentagem baixa para os 70%.
Ovos
O setor não mostra a mesma pujança do mercado da UE, estando a praticar preços abaixo da média europeia e com números de comércio internacional que não são animadores. Estima-se uma manutenção da produção em 2019 e 2020”, resume o Ministério, alertando que é um setor “muito dependente de mão de obra, muito sensível a casos positivos de Covid-19 que possam levar a fecho completo de instalações”.
Frutas e hortícolas
Este setor tem crescido de forma significativa nos últimos anos, com as exportações a passar de 1.470 milhões de euros em 2017, para 1.605 milhões em 2019, valendo 2,7% das exportações totais portuguesas, e 25,4% do setor agroalimentar. A procura das hortícolas não perecíveis, como a batata, cebola, cenoura e tomate, aumentou significativamente de forma abrupta e os preços valorizaram muito. Já quanto às hortícolas mais perecíveis, como a alface, a procura diminuiu e em alguns casos os preços desceram devido à perceção errada de estes produtos serem transmissores da Covid-19. Segundo dados de 2018, em Portugal, a maçã tem um grau de autoaprovisionamento de 101,3%, a pera de 189,6%, e a laranja de 97%. No entanto, “Portugal não é autossuficiente em hortícolas frescos e em alguns frutos, nomeadamente os frutos exóticos e frutos fora de época”. O setor das flores e plantas ornamentais está a ter enormes prejuízos.
Vinho
Desde 2000 que Portugal tem incrementado as exportações no que toca a valor. A balança comercial de Portugal no setor é positiva, mas “o encerramento da restauração e da hotelaria, com a quebra abrupta do turismo estarão a diminuir o consumo doméstico anual entre os 30% e 35%”, enquanto “o cancelamento de encomendas internacionais (e obstáculos logísticos na exportação para mercados europeus) e a perda de poder de compra que se seguirá, agravarão a previsível quebra anual nas vendas na ordem de 50%”.