Agricultura biológica: uma opção em crescimento também para pequenos produtores
Vinho biológico Montel DOC Douro integra as cartas dos melhores hotéis e restaurantes da região.
É certo e sabido que a procura de produtos biológicos na Europa, incluindo Portugal, tem registado um crescimento significativo nas últimas décadas.
Na região do Douro, os produtores de vinho têm acompanhado essa tendência, trabalhando largos hectares de vinhas em modo de produção biológica.
Esta é também uma oportunidade que está a ser aproveitada por pequenos produtores, como é o caso de Elisa Pimentel e Miguel Monteiro, que juntos decidiram rentabilizar 10 hectares de vinha, no concelho de Alijó, implementando uma agricultura sustentável, com a prática da Agricultura em Modo de Produção Biológica e, como consequência disso, iniciaram, há 7 anos, a produção do vinho biológico marca Montel, com Denominação de Origem Controlada. O nome, esse teve origem nos seus dois nomes “Monteiro” e “Pimentel”.
O "Noticias de Vila Real" esteve à conversa com a produtora Elisa Pimentel, enóloga e com mestrado em viticultura, que escolheu o Regia Douro Park, em Vila Real, para instalar o seu escritório. Contou como surgiu esta aventura na agricultura biológica.
EP– Em primeiro lugar, faz parte de mim a protecção do ambiente. Estive sempre ligada ao ensino da agricultura onde sempre foi fomentada a agricultura sustentável, e foi com a parte académica que tive oportunidade de me aproximar da viticultura.
Embora tenha nascido num ambiente em que a vinha fazia parte do meu dia-a-dia, como era menina não era hábito trabalhar na agricultura até que, em 2002, com a morte de meu pai coube-me 10 hectares de vinha para explorar.
Eram propriedades que estavam habituadas a ser tratadas de maneira tradicional e até as pessoas que trabalhavam a vinha só sabiam faze-lo de forma tradicional e ao passar para as práticas sustentáveis sabia que ia ser difícil e iam gerar-se muitos custos.
Mas, eu e o Miguel decidimos avançar para esse desafio e começar a aplicar as técnicas sustentáveis, inicialmente em termos de produção integrada e depois passamos para a agricultura biológica, com certificação desde há 10 anos, desde 2008.
Quais são as principais diferenças entre a produção biológica e a tradicional?
EP– A questão base é que, não podemos utilizar produtos de síntese como os fertilizantes químicos, e para os tratamentos utilizamos basicamente o enxofre e o cobre.
Em agricultura biológica temos de ter a capacidade de saber “gerir o tempo” de acordo com o estado de desenvolvimento da planta e com a sensibilidade que a planta tem para determinado tipo de doença. Temos de ver as condições climatéricas e se virmos que estão reunidas as condições para determinada doença se desenvolver, o que fazemos é uma aplicação de cobre ou enxofre (dependendo do caso!), para prevenir. Em biológica nós só fazemos tratamentos preventivos e quando as condições o exigem, enquanto no modo tradicional fazem tratamentos fitossanitários e aplicam-se moléculas “curativas” no caso de uma doença já instalada, enfim … são pesticidas, insecticidas, herbicidas, reguladores de crescimento ….
No modo tradicional os produtos são aplicados constantemente para não perderem o “efeito”, independentemente da planta “necessitar” ou não. A agressão ao ambiente, à planta, à terra e ao organismo das pessoas é muito grande.
Mas a agricultura biológica é um processo difícil na região?
EP– Se for feita de forma séria e consciente, claro que é difícil fazer agricultura biológica, em qualquer região. Exige uma maior capacidade técnica e formação das pessoas. Pois ao contrário do que muita gente pensa, uma cultura em Modo de Produção Biológica, não é uma cultura “não tratada”, pois essa será uma “cultura abandonada”.
Reflexo disso, quando comecei tive uma quebra de produção na ordem dos 20%, em relação à produção normal. Deixamos de usar fertilizantes químicos, a falta dos micronutrientes disponíveis notou-se logo! Por exemplo, em biológica só se pode adubar com um produto orgânico e a transformação vai demorar muito tempo, logo a resposta da planta não é tão rápida e reflete-se numa menor produção.
Um produto biológico é melhor que um não biológico em termos de sabor?
EP- Não se pode dizer que um produto biológico é melhor ou pior, porque o melhor ou pior é uma questão relativa e de gosto, mas de uma maneira geral, e considerando os padrões de qualidade sem dúvida que um produto que tenha origem na agricultura biológica tem sabores e aromas realçados, devido aos compostos aromáticos mais intensos.
Aliás o Montel 2011, para já a única referência que comercializamos, em termos de aromas primários, secundários e terciários, desenvolveu na garrafa aromas espectaculares. Tem tido uma evolução muito positiva e se sem dúvida o fato das uvas serem biológicas ajudou (risos).
Qual o mercado que o vinho Montel já conquistou?
EP- O Montel conquista poucos e bons (risos).
O Montel não é um tipo de vinho para grandes superfícies, nem é esse o mercado que nos interessa.
Estamos em muitos sítios a nível nacional e em locais específicos de produtos biológicos, em Vila Real por ex. na Quinta do Paço, na Curva 24 e no Mercado da Bila; em Braga e Guimarães no Biograssica; no Porto no Bio Brassica; no Algarve e Funchal. Mas na região o destaque vai para os melhores hotéis e restaurantes, como o Vidago Palace Hotel, Hotel Six Senses e restaurante DOC e DOP Rui Paula e LBV.
Sabemos que na região, não é fácil encontrar clientes, existem muitas marcas e os “grandes” dominam o mercado, mas quando chego a outras regiões economicamente desenvolvidas, o Montel tendo passado a prova dos melhores hotéis e restaurantes da região que têm especialistas próprios, pessoas credíveis que provam e seleccionam os melhores vinhos para os clientes, tem essa recomendação que nos abre muitas portas!
Qual é o próximo passo?
EP– Entregar a distribuição a Profissionais! O negócio está a correr bem. Vamos lançar para o Natal o Montel tinto 2016.
De futuro vamos aumentar a produção e diversificar para rosé e quem sabe, brancos!
Sobre o Montel tinto DOC Douro 2011
Com certificação biológica, selo e respectivo número.
As uvas são predominantemente das castas Tinta Roriz, Touriga Nacional e Touriga Franca, são produzidas em parcelas com patamares estreitos de uma linha, e vinha ao alto a 450 m de altitude. São provenientes da propriedade do produtor, localizada na sub-região do Cima Corgo, no Concelho de Alijó, Freguesia de Castedo do Douro, no coração do Douro.
São apenas produzidos vinhos seleccionados, e em quantidades limitadas, permitindo lotes de elevada qualidade. Dependendo dos anos, são vinificados lotes de vinhos tintos e rosés entre 6000 e 10000 garrafas por lote.
Por forma a acompanhar as exigências do mercado, desde 2013, os vinhos Montel não têm contato com nenhum produto animal na sua produção.