Agricultura: Culturas de frutos vermelhos são aposta de sucesso no Algarve
Os produtores de citrinos algarvios dizem que estão a escoar laranja abaixo dos custos de produção e que podem ter de fechar, mas quem converteu culturas para frutos vermelhos considera ter apostado bem e vê a agricultura no Algarve com otimismo.
A agência Lusa ouviu duas organizações de produtores, uma de citrinos e outra de frutos vermelhos, e os seus responsáveis traçaram diagnósticos diferentes: os de citrinos criticaram os preços pagos pelas cadeias de distribuição, quando escoam 70/80% da produção para o mercado português, enquanto os de frutos vermelhos elogiaram a aliança com uma distribuidora internacional e garantiram que exportam mais de 90% do que produzem e prosperam.
João Bento é produtor de frutos vermelhos - morango, framboesa e amora - e disse à Lusa que, quando cofundou a organização de produtores Madre Fruta, em 1996, ainda realizava as «culturas tradicionais» de hortícolas (tomate, meloa, pimento ou feijão-verde), mas percebeu que não tinha futuro porque os preços não compensavam.
«Atravessámos esse caminho uma série de anos, mas chegámos à conclusão que isso não chegava e que não tínhamos futuro na agricultura se continuássemos a fazer as coisas da mesma forma e no mesmo tipo de mercados», afirmou João Bento, que, em 2002, passou a trabalhar com morango, quando a Madre Fruta encontrou um parceiro internacional que coloca frutos vermelhos em mercados, sobretudo, do norte da Europa.
A mesma fonte frisou que, em 2007, começou «a substituir as produções tradicionais pelo morango e pela framboesa» para «criar um produto diferente» e «atingir também mercados diferentes», e isso trouxe mais «rentabilidade e viabilidade às produções».
«Na altura tínhamos cerca de 47% da produção para exportação e hoje estamos exclusivamente a fazer morango e framboesa, e também amora, mas com um nível de exportação acima dos 90%», disse, sublinhando que a Madre Fruta passou dos 30 para os 108 hectares de produção e dos 3 para os 22 milhões de euros de faturação.
Pedro Madeira, diretor da Frusoal, organização de produtores de citrinos do sotavento algarvio, mas com produtores em todo o Algarve e no Baixo Alentejo, explicou à Lusa que, «nos últimos 10 anos, tem havido uma tendência para a baixa de preços e os produtores têm cada vez mais dificuldade em cobrir os custos» devido «à guerra de concorrência» entre cadeias de supermercados.
«Essa guerra vai-se refletindo, como é lógico, na produção, e tem vindo a agravar nos últimos 10 anos, mas, nos últimos dois principalmente, os produtores de laranja, não estão a conseguir cobrir os custos de produção e, neste momento, correm o sério risco de poder ter que proceder a abandonos ou reconversões para outro tipo de fruta, porque não se está a conseguir, na maior parte do ano, pagar custos de produção», lamentou.
Pedro Madeira disse que a Frusoal faturou 13,5 milhões de euros em 2014 e «tem vindo a apostar no mercado externo», mas realçou a dependência do mercado português e, por isso, pediu aos retalhistas «uma mudança de perspetiva e mentalidades» e mais «preocupação pela sobrevivência» dos produtores.
Fonte: Dinheiro Digital