Agricultura da UE perdeu 2,2 mil milhões em 12 meses com embargo russo
Exportações de produtos alimentares para a Rússia caíram 29% num ano. Banco Mundial estimava que o embargo colocaria em risco 130 mil empregos na agricultura.
Num mercado globalizado, o que afeta uns, afeta todos. E os impactos do embargo russo aos produtos alimentares produzidos na União Europeia, em vigor desde 7 de agosto de 2014, demoraram pouco tempo a sentir-se. Os dados mais recentes confirmam uma trajetória de perda: entre abril de 2015 e março de 2016 as vendas de bens agrícolas e alimentares da UE para a Rússia somaram um total de 5,5 mil milhões de euros, menos 29% face ao que tinha sido registado um ano antes. Contas feitas, perderam-se 2,2 mil milhões de euros em 12 meses.
No final do ano passado, um relatório do Parlamento Europeu que citava, entre outros, dados do Banco Mundial estimava perdas potenciais de 130 mil postos de trabalho no setor. A Comissão Europeia desdramatiza e no último balanço que fez sobre consequências económicas do embargo sublinhou que “a maioria dos setores afetados conseguiu encontrar mercados alternativos quer dentro, quer fora da Europa”.
Contudo, os apelos ao fim do embargo têm-se repetido entre os agricultores, já que foi no sector agroalimentar que os efeitos da decisão política de Moscovo mais se fizeram sentir. As sanções russas foram estendidas até agosto de 2016, mas não se sabe se o prazo será novamente alargado. A resposta da Rússia às penalizações económicas e financeiras impostas pela União Europeia, Noruega, Estados Unidos, Austrália e Canadá (na sequência do conflito na Ucrânia) atingiu diretamente os agricultores, sobretudo, os que se dedicam à produção de fruta, leite e suinicultura, que em Portugal enfrenta uma das suas maiores crises.
Em termos gerais, o embargo está na base de uma quebra de rendimentos de 1,7% na agricultura europeia e Portugal não foi exceção. Não porque tenha sofrido diretamente com a perda de um cliente de peso (as exportações de produtos agrícolas para a Rússia valiam apenas 24 milhões de euros num bolo total de mais de dois mil milhões de euros em 2014), mas pelos efeitos indiretos.
A Rússia era o segundo maior comprador de produtos agrícolas da União Europeia e 73% dos bens embargados eram fornecidos pelos Estados-membros da UE. Sem poderem vender para aquele mercado, os produtores olharam para outros clientes, a começar pelos próprios parceiros da União. Um exemplo concreto: a Polónia, maior exportador de maçãs do mundo, produz anualmente três milhões de toneladas e vendia cerca de um terço à Rússia. Com a fronteira comercial encerrada, exportou a produção para outros países europeus, aumentando a oferta fazendo, por isso, descer os preços. Outro exemplo é a pera. A descida de preços sentida pelos produtores portugueses foi de 30 a 40%, escassos dias após o anúncio do embargo.
A descida de preços afetou setores sensíveis como o leite (que, ao mesmo tempo, assistiu ao fim das quotas leiteiras) e a produção de carne de porco, deteriorando as margens e o negócio dos produtores. A busca de mercados alternativos tem sido apontada como uma solução, mas não terá efeitos práticos imediatos. Além do tempo necessário para encontrar clientes, há países onde não está autorizada a venda de produtos.
A Rússia é atualmente o 15.º maior cliente de Portugal no que toca a produtos agrícolas e só mantém esta ligação porque o vinho e o azeite ficaram de fora da lista de produtos banidos. De acordo com os dados mais recentes, em 2015 as exportações para aquele país (excluindo os bens alimentares produzidos pela indústria) caíram 23% para 18 milhões de euros.
Fonte: Público