Agricultura de precisão é o caminho de futuro
Sensores de rega gota a gota, utilização de GPS, crescente informatização dos processos produtivos e de logística são as tendências do setor da agricultura em Portugal. Conheça os desafios e os projetos.
O setor agroalimentar nacional no lado da produção ainda não apresenta índices expressivos de robotização, mas aos poucos vai recebendo influência positiva de mecanismos tecnológicos mais sofisticados em todo o processo, desde a sementeira à colheita. Sensores para rega gota a gota, utilização cada vez mais generalizada de GPS, crescente informatização dos processos produtivos e de logística fazem cada vez mais parte do dia a dia de subsetores do agroalimentar, como os vinhos, as frutas e a produção em estufas. E estão a aproximar cada vez mais este setor de uma agricultura de precisão. Com vantagens para produtores e consumidores.
“É fundamental tornar a agricultura mais sustentável, de maior combate às alterações climáticas, para ir ao encontro dos compromissos exigidos pela União Europeia com documentos como o ‘Green Deal’ ou ‘Do Prado ao Prato’”, defende Luís Mira, secretário geral da CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal, ao Jornal Económico.
Segundo este responsável, “a agricultura portuguesa não tem outro caminho, que é aplicar estas novas soluções de tecnologia para poder produzir de forma diferenciada por metro quadrado em áreas de cultivo que podem ir até aos 100 hectares”.
Uma questão que o secretário geral da CAP considera vital, tendo em conta que o setor nacional terá de responder aos desafios exigidos pela União Europeia para redução em 50% da utilização de adubos ou de produtos profármacos. E que está em cima da mesa na negociação do próximo quadro comunitário de apoio no que respeita à atribuição de fundos comunitários, em particular no que está relacionado com a revisão da PAC – Política Agrícola Comum. Enquanto não se descortina o desfecho destas conversações, Luís Mira assegura que “os agricultores portugueses irão estar atentos e irão candidatar-se e investir na utilização crescente de novas tecnologias”. Mesmo que preveja que a revisão da PAC só deva estar concretizada em 2022 e chegar ao terreno em 2023.
É conhecido o projeto Symington no Douro para um robô que facilite as vindimas nos socalcos, mas a iniciativa continua em testes. Também o ISQ – Instituto de Soldadura e Qualidade tem outros projetos na calha. Um deles é o ‘LInteliCROP’, que visa promover a agricultura sustentável através da observação da Terra via satélite e com recurso a data science. “O setor agrícola enfrenta vários desafios relacionados com a crescente variabilidade das condições climáticas, diretamente associada à dinâmica do crescimento das culturas, saúde vegetal, doenças e influxos de pragas”, explica fonte do ISQ.
Outro projeto nesta área é o ‘InteliCROP’ (projeto ‘ESA SMALL ARTES’), que visa fornecer recursos e serviços tecnológicos de apoio à decisão para agricultura sustentável, ajudando a elaborar ações preventivas contra problemas fitossanitários ou para melhorar a gestão de culturas. “A solução desenvolvida do ‘InteliCROP’ pretende melhorar a monitorização de variáveis agrícolas, fornecendo informações e previsões confiáveis sobre a produção, indicadores agrícolas, índices de vegetação, ou riscos fitossanitários, com antecedência adequada para facilitar respostas e planeamento de contingência para melhor proteger as culturas”, avança o ISQ, acrescentando que “a plataforma integrada ‘InteliCROP’ desenvolvida potencia as capacidades dos métodos de observação da Terra e métodos de inteligência artificial, para identificar padrões e correlações em dados agroclimáticos específicos para mapeamento de ocorrências na agricultura e promover decisão optimizada”.
Por seu turno, o ‘SMARTGREENHOUSE’ é uma plataforma digital que faz monitorização de estufas. “No âmbito do projeto MaisTec desenvolveu-se um dispositivo IoT [Internet das Coisas], uma plataforma digital para a monitorização de estufas – ‘SmartGreenHouse’. O objetivo foca-se na contribuição de uma agricultura sustentável por via do aumento do conhecimento dos meios de cultura e variáveis intervenientes”, esclarece a fonte do ISQ.
Segundo o responsável, o dispositivo IoT “permite medir em tempo real diversos indicadores”, como a “temperatura, humidade do ar, luminosidade, humidade no solo (cultura em substrato), eletrocondutividade da solução de irrigação (cultura em hidroponia), pH da solução de irrigação (cultura em hidroponia), CO2, O2, qualidade do ar”.
De acordo com o ISQ, “os dados medidos são enviados via wireless para uma base de dados integrada na plataforma digital” e “a plataforma desenvolvida permite visualizar o histórico de dados, monitorizar em tempo real as variáveis medidas, ou implementar modelos avançados para processamento e análise de dados”, para que os resultados sejam disponibilizados num interface web, com possibilidade de também serem apresentados numa aplicação android.
O projeto URSA – Unidades de Recirculação de Subprodutos de Alqueva visa a criação de uma unidade de recolha e transformação de subprodutos orgânicos de origem agrícola em fertilizante orgânico para aplicação no solo. “Pretende-se a produção de fertilizante orgânico, a entregar aos agricultores em troca dos seus subprodutos agrícolas, com vista a aumentar a resiliência do território perante as alterações climáticas, promovendo a qualidade da água e a sustentabilidade económica e ambiental do regadio”, assegura o ISQ.
‘Alentejo Circular’ é a designação de um outro projeto do ISQ, para “promover a criação de valor nas explorações agrícolas e agroindustriais na região DP [Denominação Protegida] Alentejo”, que “consiste na disseminação de boas práticas e transferência de conhecimento sobre utilização eficiente de recursos e valorização de resíduos nos setores do vinho, azeite e suinicultura”.
Por fim, o ‘HUB4AGRI’, um hub digital para o setor, tem como meta “a criação de um ecossistema com soluções inovadoras para o desenvolvimento da competitividade dos setores agrícola, agroalimentar, florestal, produção animal e desenvolvimento rural, capaz de dar uma resposta transversal aos grandes desafios que atualmente se colocam”.
“Este projeto está alinhado com as estratégias nacional e europeia para a digitalização da indústria e envolve mais de 15 entidades que cobrem toda a cadeia de valor agroalimentar, sendo coordenada pelo ISQ. O ‘’Hub4Agri’ pretende conectar a procura e as necessidades dos produtores agrícolas com as soluções e respostas tecnológicas para a digitalização da agricultura. “As técnicas de produção atuais, num futuro próximo, não irão conseguir fazer face aos desafios ambientais, climáticos e tecnológicos. Neste contexto, a criação de redes de cooperação e infraestruturas, capazes de acelerar a transformação digital do setor agrícola, é uma medida necessária para suportar a melhoria da competitividade do sector através do incremento da produtividade e um desempenho ambiental crescente”, conclui a mesma fonte do ISQ.