publicado a: 2016-04-12

Agricultura pós-glifosato: Entre o pânico de um futuro de doença e a pressão de um presente sem alte

Nos últimos tempos tem-se falado muito de potenciais efeitos adversos do glifosato na saúde humana*. Em Março de 2015, a Organização Mundial de Saúde juntamente com a Agência Internacional para a Investigação sobre o Cancro publicaram um relatório onde o glifosato era identificado como “provavelmente cancerígeno para os seres humanos”. A menção a cancro gera sempre enormes apreensões na sociedade e estamos agora, um ano depois da publicação do relatório, num ponto em que se questiona a não renovação da autorização de utilização deste herbicida.

Muito se tem escrito sobre o que significa esta classificação em termos científicos, se desvaloriza ou não os estudos levados pelas entidades que regulam o uso de fitofármacos, ou quantos outros perigos se escondem nas restantes substâncias homologadas para agricultura. Mas num ponto em que o Comissário Europeu para a saúde e segurança alimentar já equaciona não revalidar a autorização de comercialização, fomos em busca de alternativas.

Um dos mais recentes estudos, datado de Fevereiro deste ano, foi realizado pelo Instituto Julius Kühn, ligado ao Ministério da Agricultura alemão** e considerou as implicações económicas e agronómicas das alternativas ao glifosato em cinco rotações representativas na Alemanha: Colza - Trigo O/I - Trigo O/I; Milho – trigo O/I – Trigo O/I; Colza - Trigo O/I – Cevada; Milho - Trigo O/I – Cevada Primavera; Colza - Trigo O/I – Cevada Primavera.

Foram comparadas várias modalidades de redução da utilização de glifosato e de mobilização do solo, em que o glifosato poderia ser substituído por outro herbicida ou por mobilização do solo.

São poucas as modalidades em que não existem perdas económicas associadas ao abandono do glifosato. Na maioria dos casos, em média os custos por ano por hectare acrescem em cerca de 40€, apesar de ser possível em anos favoráveis reduzir os custos associados à não aplicação de glifosato. Porém existem ainda modalidades, associadas a mobilização reduzida, em que os custos são sempre superiores a 40€/ha/ano.

De facto, os autores concluem que apenas se conseguem resultados semelhantes de eficácia no controlo de infestantes recorrendo a mais uma a três mobilizações do solo. No entanto a eficiência está condicionada também por factores como a disponibilidade de mão-de-obra e de equipamento adequado para mobilização do solo. As perdas económicas do abandono do glifosato poderiam, em determinadas regiões do noroeste da Alemanha, chegar a 36%.

Estes resultados não são muito encorajadores, apesar de se referirem a sistemas de agricultura diferentes dos nossos. Resta agora saber como transpor este tipo de estudos para regiões mediterrânicas e que resultados esperar no nosso país.

*ligação para o estudo sobre cancro e glifosato

**ligação para o artigo sobre as alternativas ao glifosato


Fonte: Núcleo agri

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