Agricultura, uma aposta portuguesa em Angola
O ministro da Agricultura português afirmou, em Luanda, que o próximo passo da cooperação no domínio agrícola com Angola é dotar as autoridades sanitárias locais com capacidade para produzir vacinas para animais e plantas.
Luís Capoulas Santos, que integrou a comitiva presidencial portuguesa na visita de Estado de Marcelo Rebelo de Sousa a Angola, lembrou que o sector agrícola é “fundamental” para o desenvolvimento económico angolano, pelo que tem de se apostar também na defesa dos consumidores.
“O passo seguinte é dotar Angola com a capacidade de produzir vacinas. Existem hoje, à escala global, doenças nos animais e plantas que são induzidas pelas alterações climáticas e que é necessário combater para salvaguardar a economia e a proteção dos consumidores”, afirmou, depois de uma visita ao laboratório Central Agroalimentar de Luanda, em que acompanhou o presidente português.
Segundo Capoulas Santos, cujo ministério que tutela já tem vários programas de cooperação em curso no terreno com o congénere angolano, a ideia é acreditar Angola com alguns laboratórios de referência, que são “essenciais” para a defesa dos consumidores, pelo que o passo seguinte é ajudar Angola a capacitar-se na produção de vacinas.
“Algumas doenças dos animais, as chamadas zoonoses, são as transmissíveis aos humanos, pelo que não se trata de salvaguardar apenas aspetos económicos, mas também questões de saúde pública. É um projeto de grande envergadura, que exige muito conhecimento e equipamentos sofisticados, mas sobretudo recursos humanos devidamente apetrechados”, indicou. Sem adiantar, “para já”, os nomes das empresas portuguesas que irão ajudar a dar esse passo, Capoulas Santos indicou que o projeto é agora “passível de ser concretizável no horizonte de dois anos”, ou seja, até 2021.
“A estratégia que delineamos definiu um conjunto de passos consecutivos, em que só se avança quando um deles estiver cumprido. E a fase atual da cooperação a decorrer a bom ritmo”, destacou, lembrando os projetos de cooperação já assinados desde que visitou Angola, em setembro de 2018, durante a visita oficial do primeiro-ministro português, António Costa.
Capoulas Santos realçou também que o empresariado português do sector está já em Angola e que constituem “exemplos de excelência” na produção de hortícolas e frutícolas, “ao nível do melhor que se faz em qualquer parte do mundo”.
O ministro português admitiu que os empresários, portugueses e angolanos, ainda se debatem com dificuldades estruturais, sobretudo no interior do país, onde faltam infraestruturas e eletrificação, por exemplo.
“Além das grandes potencialidades e de recursos em solos e água, Angola tem ainda problemas terríveis de ausência de infraestruturas. É fundamental que existam vias de comunicação, eletrificação dos locais onde se produz, reabilitação de regadios, enfim, um conjunto de infraestruturas que são fundamentais para o normal desenvolvimento da actividade e que, nalgumas regiões do país, não existem”, referiu.
“A opção do empresário para se instalar tem a ver em primeiro lugar com as condições internas de acolhimento, que têm vindo progressivamente a melhorar, sobretudo nas infraestruturas. A questão dos laboratórios de referência não é despicienda. Mas há um conjunto de outras infraestruturas físicas que são fundamentais e para as quais o Governo angolano está a fazer um enorme esforço para progressivamente ir dotando o país dessas infraestruturas, pelo que cabe agora aos empresários avaliar o conjunto das potencialidades e dificuldades e escolher os melhores locais de instalação”, explicou.
Sobre o “fenómeno Marcelo” em Angola, Capoulas Santos disse que tal não o surpreende, pois tem assistido a uma “cópia fiel” do que assiste em Portugal.“[Marcelo] tem características próprias que o diferenciam de todos os outros presidentes ou de políticos que são conhecidos e que são marcadas por uma forte dose de afetuosidade que é retribuída quer em Portugal, quer aqui em Angola, como tenho oportunidade de confirmar também”, disse, lembrando os “banhos de multidão” em Luanda e nas províncias da Huíla e de Benguela.
“O chamado ‘irritante político’ era um verniz muito superficial numa relação que é muito profunda e que foi construída e cimentada ao longo de muitos anos”, concluiu.