publicado a: 2020-07-27

Apoios prometidos pelo Estado ainda não chegaram aos produtores de Moimenta da Beira e Armamar

Quase dois meses depois do mau tempo que dizimou vários pomares de maçã nos concelhos de Armamar e Moimenta da Beira, as ajudas prometidas pouco tempo depois da intempérie pelo Governo ainda não chegaram aqueles que têm na fruticultura o seu ganha-pão.

No início de junho, de passagem por Moimenta da Beira, a ministra da Agricultura prometeu auxílios para os produtos. Contudo, até ao dia de hoje, “o Governo ainda não fez chegar qualquer tipo de ajuda”.

“A ministra tinha falado num apoio de 40 euros por hectare, sendo que 20 euros eram pagos pela Câmara e os outros pelo Estado, o que é pouco e chega a ser ridículo”, defende Jorge Augusto, da direção da Associação de Fruticultores da Cooperativa de Armamar.

Já João Silva, responsável pela Cooperativa Agrícola do Távora, sediada em Moimenta da Beira, salienta que os produtores não estão “à procura de esmolas”, mas de “medidas estruturais” que garantam que os fenómenos atmosféricos como os que se registaram em finais de maio, com trovoada e granizo, não voltem a espalhar o terror no território.

“O que nós exigimos ao Governo é que seja criada uma medida nas regiões que obedeçam a um plano bem delineado, que tenha a ver com coberturas dos pomares”, aponta João Silva.

Segundo as palavras do dirigente, “o Governo não pode pensar só no Algarve” para onde canaliza trezentos milhões de euros por causa da pandemia, esquecendo regiões como “o interior onde ainda existe agricultura”.

O Jornal do Centro pediu explicações ao Ministério da Agricultura, mas não recebeu qualquer resposta do gabinete de Maria do Céu Albuquerque.

Seguros só pagam no final do ano

Para além do Estado que está a falhar, também o dinheiro dos seguros de colheitas ainda não chegou a quem sofreu prejuízos. Os peritos estiveram nos pomares, mas as indemnizações só chegarão lá para o final do ano. E nem tudo o que os produtores perderam tem cobertura.

“No caso de um pomar com 25 por cento de estrago, o seguro não cobre e ainda temos de lhes pagar”, lamenta Jorge Augusto.

Em situação de perca total, “o seguro só paga entre 10 a 12 cêntimos pelo quilo da maçã, ou seja, menos de metade do seu valor”, explica Paulo Duarte, um dos sócios da empresa Frutas Proença.

“No caso da destruição total, que é o caso, dá para as despesas. Se só cair 30 a 40 por cento, não ajuda muito porque 20 por cento é para a franquia”, refere Ricardo Santos, engenheiro e produtor de maçãs da empresa Agripomme, explicando que “num pomar onde se produzem aproximadamente 40 toneladas”, o seguro só cobre “25 toneladas por hectare”.

Em Moimenta da Beira o estrago causado pelo mau tempo do último fim de semana de maio ronda os 25 por cento. Por outro lado, em Armamar, os produtores afirmam que este ano o prejuízo está entre os 70 e os 100 por cento.

Já há três anos que a queda do granizo ataca os pomares dos dois concelhos. Os fruticultores de Armamar acreditam que este foi um dos piores anos devido à intensa queda de saraiva. M uitos temem não ter grandes maçãs para vender nesta campanha.

Colheita está à porta

Com a chegada do mês de agosto, a apanha da maçã aproxima-se e este ano a colheita do fruto vai ser diferente. Tem novas regras por causa do novo coronavírus.

Tradicionalmente, os pomares enchem-se de trabalhadores vindos de diversos cantos do concelho ou até do distrito. Este ano funciona tudo de forma diferente.
“A utilização de máscaras ou viseiras vai ser obrigatória na apanha da maçã. Além disso, os trabalhadores vão ter um centro de saúde, um ou vários gabinetes médicos que vão estar 24 sob 24 horas disponíveis para acolher qualquer situação anómala”, explica João Silva, presidente da Cooperativa Agrícola do Távora.

O distanciamento social também terá que ser cumprido. As medidas de segurança vão acarretar mais custos.

“Para a apanha vai ser mais complicado uma vez que não pode haver tanta gente, o ritmo acaba por ser mais lento e o custo vai-se refletir nos produtores de maçã”, diz, admitindo que, por dia, só se conseguirá apanhar 50 por cento do estimado.

Em Armamar, as medidas não são muito diferentes. “Todas as normas impostas, como o uso da máscara ou viseira, as luvas e o gel desinfetante vão ser obrigatórios”, afirma o sócio da empresa Frutas Proença.

No entanto, o que mais preocupa os produtores é o transporte dos trabalhadores. Em tempos normais, os funcionários vão para o trabalho em carrinhas de nove lugares. Sendo que a lei não o permite, devido à covid-19, surge um problema.

“Uma vez que temos de ir buscar o pessoal a outros concelhos, porque no nosso não conseguimos arranjar (mão de obra), e a lei diz que apenas podem vir 2/3 das pessoas numa carrinha de nove lugares, não sei como vamos fazer”, refere o engenheiro agrônomo Ricardo Santos.

A falta de trabalhadores nesta área obriga, por vezes, à procura empregados de outros países.

“Em princípio vamos recorrer, novamente, a empresas de trabalho temporário portuguesas que têm mão-de-obra estrangeira, como é o caso dos indianos, nepaleses e búlgaros”, frisa Jorge Augusto, da Associação de Fruticultores de Armamar, explicando que estes homens e mulheres ficam em casas alugadas e ou em espaços cedidos pelos próprios empresários que os contratam.

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