Ausência de agricultura é a principal causa de incêndios
“Só a agricultura poderá salvar a floresta”. A opinião é de Francisco Cordovil, ex-diretor do Gabinete de Planeamento e Políticas e um dos comentadores convidados do painel ‘A importância da Agricultura na Coesão territorial’, que decorreu ontem (13 de fevereiro) no Congresso Ibérico do Milho, em Lisboa.
Francisco Cordovil sustenta que a ausência de agricultura é a principal causa de incêndios em Portugal: “O papel da agricultura e silvo-pastorícia no corta-fogo é decisivo. O país agrícola não arde e por isso de nada vale fazer reflorestação em terras marginais, vão arder de certeza. É preciso agarrar o território rústico na sua complexidade”, defende.
Ainda neste painel, Juan Valero de Palma, secretário-geral da espanhola Fenacore, ressalvou que a sustentabilidade económica é importante e que é necessário que os produtores possam tirar rentabilidade da sua terra e território: “Temos de apostar na produção orientada para o mercado global, com distintas exigências sociais e ambientais”. Juan Valero insistiu ainda nas externalidades positivas do regadio, explicando que as terras de regadio são as que conseguem atrair uma população mais jovem e mais dinâmica.
O economista João Ferreira do Amaral colocou a tónica nos números: 20% das exportações portuguesas têm como origem o setor agrícola e agroflorestal: “Vejam a importância dos serviços do mundo rural”, e acrescenta: “Esta atividade, em especial a florestal, vai ter um papel essencial nas metas para a neutralidade carbónica”.
Ferreira do Amaral defendeu ainda a remuneração dos serviços dos serviços ambientais e das boas práticas aos agricultores e silvicultores.
O ex-ministro do equipamento Social, e mais recentemente empresário agroindustrial, Jorge Coelho também marcou presença neste debate. Defende que a luta contra a desertificação do interior só terá sucesso com a agricultura e questiona: “Portugal tem futuro se não tiver forte coesão social? Não!”, foi a resposta. Jorge Coelho apontou as graves desigualdades em termos de ocupação territorial e teme que se nada for feito o interior fique cada vez mais abandonado.
“Vejo com tristeza que não há coragem política para transformar medidas concretas contra a desertificação em bandeiras. Não se assume. A crise evidenciou a importância do investimento produtivo em detrimento do investimento especulativo”.
Jorge Coelho disse ainda que o seu recente investimento numa queijaria, em Mangualde, fê-lo perceber a importância da atividade agrícola na preservação ambiental, da paisagem e da identidade do território: “Já fiz muita coisa na minha vida, mas fazer queijo é o projeto de que mais me orgulho na minha vida”, rematou.