publicado a: 2019-04-08

Batalha biológica contra ‘vespa’ do castanheiro dá frutos

Ao fim de pouco mais de 30 mil insectos parasitóides... era uma vez uma vespa-das-galhas-do-castanheiro. Assim se conta a breve história da batalha biológica contra a praga responsável por uma infestação que afectou 80% da produção de castanha na Madeira. O Governo Regional está à beira de declarar a vitória nesta ‘guerra’ que já custou mais de 30 mil euros mas que está a ter um sucesso bem acima do esperado, pois a trégua surge com uma antecedência de dois anos desde o lançamento do primeiro ‘raide’ de pequenos voadores.

Depois de ter sido detectada em 2014, a praga que vinha assolando os castanheiros da Região através da acção da vespa-das-galhas-do-castanheiro (Dryocosmus Kuriphilus Yasumatsu) está perto de estar controlada. Isso mesmo foi constatado pelos técnicos da Secretaria Regional de Agricultura e Pescas (SRAP) que verificaram que o nível de infestação passou de 80% para 15%.

A praga que reduz a produção e a qualidade das castanhas, podendo conduzir no médio-prazo à morte das plantas, lançou o pânico nas principais zonas produtoras da Região, designadamente dos concelhos de Câmara de Lobos e da Ribeira Brava.

A SRAP, através da Direcção Regional de Agricultura, desde logo tomou providências visando o controlo desta praga, convidando especialistas nacionais para um trabalho conjunto, em resultado do qual foi decidido optar-se pelo método de controlo biológico, a exemplo do que aconteceu no continente português e outros países europeus principais produtores de castanha, que consiste no uso do mais eficiente e eficaz inimigo natural do insecto destruidor.

De todos os parasitóides da vespa-das-galhas-do-castanheiro (VGC), o Torymus sinensis é o que mostra maior especificidade em relação a este hospedeiro e sincronismo com o seu ciclo de vida, factores que foram considerados essenciais para um agente de controlo biológico bem-sucedido.

De forma simplificada, este parasitóide é um pequeno insecto que, ao ser libertado, vai parasitar a VGC, alimentando-se das suas larvas, e deste modo contribuir para que menos destes colípteros formem as galhas do castanheiro.

Durante a monitorização da praga, foram avaliados o seu grau de infestação e calculadas as quantidades de parasitóides a importar e dispersar. Em Maio de 2017, deu-se início ao programa de combate à VGC, repetindo-se o procedimento em Abril e Maio de 2018, através do lançamento sobre as galhas dos castanheiros de 15.200 Torymus sinensis (9.600 fêmeas e 5.600 machos) em cada um dos períodos.

Em finais de 2018, os técnicos da SRAP realizaram a prospecção de rotina nos soutos, e sinal já detectado no ano anterior, foi constatado que o Torymus instalou-se e multiplicou-se muito bem nos castanheiros das zonas produtoras afectadas, passando-se de um nível de infestação com VGC de 80% para 15%, o que permite afirmar que a praga se encontra a atingir um nível próximo do que se considera sob controlo.

Um progresso assinalável já que o próprio plano de combate então estabelecido tinha metas menos ambiciosas do ponto de vista da eficácia num período de tempo tão curto. Segundo a SRAP, este estádio só seria estimado ocorrer entre finais de 2020 e meados de 2021.

Os resultados positivos e obtidos num muito mais curto espaço de tempo do que o preconizado, já começaram a ser sentidos pelos produtores na colheita de 2018, prevendo-se uma ainda melhor colheita no presente ano.

Para o secretário regional de Agricultura e Pescas, esta situação traduz-se na dedicação de todos os técnicos da secretaria que se empenharam no encontro de uma solução que vinha prejudicando em muitos os produtores de castanha.

“De facto isto é o resultado do trabalho dos técnicos deste governo que conseguiram debelar um problema que vinha afectando o rendimento dos agricultores e pondo em causa a própria beleza da nossa Região”, disse Humberto Vasconcelos sublinhando que os castanheiros desempenham um papel importante em algumas zonas turísticas como Curral das Freiras ou Serra de Água.

“Seria uma pena passar por essas zonas e não ver nenhum castanheiro. Felizmente fomos céleres e estou convencido que se as condições climáticas ajudarem já iremos ver na produção deste ano o reflexo do trabalho realizado”, vaticina o responsável pela tutela.

Vitória à vista!

n Fruto do que já foi alcançado, este ano será substancialmente reduzida a quantidade de parasitóides a adquirir e, em 2020, se a tendência de declínio da VGC se mantiver até à estabilização num nível mínimo considerado aceitável, tudo indica já não haver a necessidade de proceder à sua dispersão. A partir de então, os parasitóides irão actuar continuamente sobre a praga a qual, embora não seja erradicada, manter-se-á em equilíbrio a um nível economicamente não prejudicial.

Num combate biológico desde logo gratuito para os agricultores, e face ao sucesso entretanto obtido, a SRAP considera estarem reunidas as condições para a cultura do castanheiro continuar a ser uma referência da agricultura regional.

Nos anos de 2017 e 2018, o programa de controlo da praga custou 32.224 euros com a aquisição de 30.400 insectos parasitóides (Torymus sinensis), sendo 19.200 fêmeas e 11.200 machos, tendo sido efectuadas 160 largadas em todas as freguesias com soutos afectados, dos quais 80% no concelho de Câmara de Lobos onde a cultura da castanha assume expressão relevante.

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