publicado a: 2019-05-06

Cancro-resinoso-do-pinheiro. O que é? O que fazer?

O cancro-resinoso-do-pinheiro é um dos graves problemas que ataca os agricultores portugueses. O site "Agricultura e Mar" recorda as dicas do ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.

O cancro-resinoso-do-pinheiro é o nome vulgar de uma doença provocada pelo fungo Gibberella circinata Nirenberg & O’Donnell (forma telemorfa ou sexuada) também conhecido por Fusarium circinatum Nirenberg O’Donnell (forma anamorfa ou assexuada), o qual pode causar uma mortalidade significativa em espécies do género Pinus e danos apreciáveis em Pseudotsuga menziesii (Mirb.) Franco, tanto em viveiros como em povoamentos adultos.

Dos Estados Unidos à Europa

O fungo apareceu pela primeira vez nos Estados Unidos da América, na Carolina do Norte (Hepting & Roth, 1946) tendo sido entretanto detectado noutros países como o Chile, México, África do Sul, Japão, Espanha, Itália e Portugal, onde foi oficialmente assinalado em Abril de 2008, num viveiro florestal (fornecedor de materiais florestais de reprodução) da região Centro.

Na Europa, o fungo foi referenciado pela primeira vez em 2005, no Norte de Espanha, em viveiros de Pinus radiata D. Don e Pinus pinaster Aiton e em povoamentos de Pinus radiata (Landeras et al.). Itália foi o segundo país da Europa a reportar a doença, tendo os primeiros sintomas sido observados no norte do País em árvores adultas de Pinus halepensis Miller e Pinus pinea L. (Carlucci et al.,2007).

Distribuição geográfica de Fusarium circinatum
ContinentePaís

Europa

Espanha
Itália
Portugal
ÁsiaJapão
ÁfricaÁfrica do Sul
América do NorteMéxico
Estados Unidos da América
América CentralHaiti
América do SulChile

Biologia e sintomas

O fungo pode afectar o hospedeiro em todos os seus estados de desenvolvimento e em qualquer altura do ano. As partes afectadas podem ser sementes, agulhas, pinhas, ramos, rebentos, troncos e raízes.

Embora os sintomas, quer em plantas jovens quer em árvores adultas, não sejam específicos deste agente biótico nocivo, podendo ser causados por ataques de outros fungos ou insectos, facto que obriga à realização de análises laboratoriais para confirmação da presença do fungo podem contudo ser elencados alguns sintomas que, potencialmente, poderão ser associados à sua presença.

Sobre os sintomas, ver aqui.

Infecção

Em plantas de viveiro a infecção pode ocorrer a partir de sementes infectadas, de inóculo presente no substrato ou através do contacto com plantas infectadas.

Em árvores adultas a infecção pode ocorrer através da penetração dos esporos em feridas (provocadas por ferramentas de poda ou por qualquer outro factor), por picadas de alguns insectos ou através das lenticelas de rebentos e dos estomas das folhas.

Disseminação

A dispersão dos esporos ocorre, principalmente, durante os meses de Primavera, Verão e no início do Outono, podendo o fungo sobreviver durante o inverno fora do hospedeiro em resíduos vegetais (ramos caídos, troncos destacados, etc.).

O inóculo pode ser disseminado no solo, pelo ar, pela água e por insectos (Ips, Pityophthorus, Conophthorus e Tomicus).

As principais formas de disseminação da doença a grandes distâncias são a circulação de plantas ou sementes, podendo a circulação de madeira ser também um veículo de transmissão.

Destes factores, o que apresenta maior risco no alastramento da doença é o comércio de sementes infectadas, uma vez que nestas, o fungo não é detectado por inspecção visual.

O fungo pode sobreviver um ano em estilha ou ramos destacados.

Medidas preventivas

As medidas preventivas a seguir enumeradas aplicam-se às instalações, ao pessoal e ao manuseamento de materiais, equipamentos e maquinaria que estejam em contacto com plantas ou sementes das espécies susceptíveis.

Sementes:

  • Proceder ao tratamento de desinfecção das sementes; e não reutilizar as embalagens das sementes.

Plantas – aplicação de:

  • Insecticidas para evitar a propagação do fungo dentro do viveiro; e fungicidas para evitar o desenvolvimento do fungo.

Materiais e Equipamentos – desinfectar:

  • com álcool ou outros desinfectantes à base de amónio quaternário, todos os materiais e ferramentas de pequena dimensão, sempre que mude de lote de semente ou de plantas;
  • o material e as ferramentas com lixívia a 10% (imersão por um período mínimo de 2 minutos enxaguando de seguida com água para eliminar restos de lixívia);
  • e as instalações e os equipamentos de sementeira após cada nova sementeira.

Substratos:

  • não utilizar casca de pinheiro ou outros produtos vindos de coníferas;
  • e usar preferencialmente turfa com perlite ou vermiculite.

Contentores:

  • usar contentores, preferencialmente, não reutilizáveis;
  • no caso de contentores reutilizáveis:
  • – antes de novas utilizações deve lavar minuciosamente para eliminar todos os restos orgânicos;
  • – mergulhar 5 minutos em lixívia a 20% ou produto a base de amónio quaternário, enxaguando de seguida com água para eliminar restos de lixívia; ou mergulhar em água quente, a 85º C, durante 30 segundos.

Observar regularmente os lotes das espécies susceptíveis e, no caso de surgirem plantas com sintomas suspeitos, contacte de imediato os serviços do ICNF.

Tudo sobre o cancro-resinoso-do-pinheiro aqui.

Pode consultar o Plano de Acção para Prospecção e Erradicação (2016-2020), aqui.

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