Cientistas e governantes mundiais discutem gestão eficiente do nitrogénio
Cientistas reunidos em Lisboa propõem redução das emissões em 20% até 2020. Custo associado à poluição por nitrogénio ascende a 320 milhões de euros/ano na Europa. Agricultura e combustíveis fósseis são as principais fontes de poluição.
Representantes de 39 países de todos os continentes estão reunidos no Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia, na Rua O Século, 51, em Lisboa, até esta quinta-feira, para debater o nitrogénio, considerado “o padrinho das alterações climáticas”.
Os cientistas e os representantes de Governos e organismos internacionais, como a OCDE, UNEPE, UNECE, FAO, WHO e WMO, estão mandatados pelas Nações Unidas para apresentar, nos próximos quatro anos, orientações à escala global e regional, com vista à melhoria da gestão do nitrogénio, no âmbito do projecto Towards INMS-International Nitrogen Management System e da TFRN - Task Force on Reactive Nitrogen.
“Estamos a reunir informação científica credível para mostrar aos políticos que melhorar a gestão do nitrogénio representa uma grande oportunidade para o Mundo. Devemos avaliar a eficiência do uso do nitrogénio na Economia à escala global, procurando formas de maximizar a eficiência dos inputs de nitrogénio necessários à produção de alimentos e energia”, afirma Mark Sutton, coordenador do projecto Towards INMS e investigador do Natural Environment Research Council, na Escócia, uma das entidades financiadoras.
As metas propostas pelos cientistas, e que já haviam sido divulgadas num relatório recente, intitulado “Our Nutrient World”, implicam a redução das emissões em 20 milhões de toneladas de nitrogénio por ano até 2020, traduzida numa poupança líquida para o Ambiente equivalente a 156 mil milhões euros/ano.
“A questão do nitrogénio está na ordem do dia, é bom que Portugal apanhe este comboio, mas que se posicione na primeira carruagem. Pertencemos a uma região – o Mediterrâneo - muito vulnerável à poluição por nitrogénio, e por isso, é importante aumentar a eficiência do uso do nitrogénio e reduzir os seus impactos negativos”, explica Cláudia Cordovil, professora do Instituto Superior de Agronomia (ISA) e co-coordenadora do Task Force on Reactive Nitrogen.
O nitrogénio ou azoto (N) é o quinto elemento químico mais abundante no Universo, 78% do ar que respiramos é nitrogénio na sua forma pura. Quando transformado, este elemento químico é usado em todo Mundo na agricultura (como fertilizante), na indústria e nos transportes, mas quando em excesso é também uma fonte de poluição que urge combater. Só na Europa o custo da poluição com origem no nitrogénio está estimado entre 70 a 320 mil milhões de euros/ano.
Fertilizantes mais verdes
Considerando que 50% a 70% do nitrogénio fornecido às culturas agrícolas se perde no meio ambiente, a melhoria da eficiência dos fertilizantes é a chave para reduzir a poluição. “Estamos a trabalhar com os fabricantes em novos métodos de preparação dos fertilizantes que minimizem a libertação de nitrogénio para a atmosfera, através da sua decomposição mais lenta no solo, portanto melhor aproveitados pelas plantas, o que significa que os agricultores estarão a adquirir um produto com maior valor», explica Mark Sutton, acrescentando: «à medida que os agricultores usam melhor o nitrogénio, tornam-se menos vulneráveis à variação dos preços dos fertilizantes”.
Este cientista escocês defende uma abordagem revolucionária ao problema, em vez de destruir o nitrogénio, devemos capturá-lo e reintegrá-lo no circuito produtivo, dando origem a novos fertilizantes. “Se pensarmos que por ano são emitidas para a atmosfera 40 mil milhões de toneladas de dióxido de nitrogénio, vemos que existe uma oportunidade de transformar um problema num negócio verde”, conclui, apontando a necessidade de desenvolver técnicas para capturar o nitrogénio de forma mais barata.
A diminuição da pegada de nitrogénio é tarefa em que todos devemos envolver-nos e podemos fazê-lo através das nossas escolhas alimentares, por exemplo optando por substituir uma parte do consumo de carne por vegetais, com benefícios acrescidos para a saúde e para o ambiente, ou optando por produtos alimentares produzidos de formas ambientalmente adequadas.
“Na Europa estamos a consumir 70% de proteínas para além daquelas que necessitamos para uma dieta alimentar saudável. Os nossos estudos indicam que se reduzirmos para metade o consumo de carne e de gorduras de origem animal teremos uma redução de 40% na poluição do ar e água”, remata Mark Sutton.
Fonte: Gazeta Rural