publicado a: 2016-01-13

Cientistas italianos sob investigação após a morte de oliveiras

Os investigadores são acusados de propagação de doenças e foi ordenada a suspensão do abate das árvores infetadas.

Nove cientistas estão a ser investigados pela sua possível participação na transmissão de uma doença que está a devastar oliveiras em Puglia, Itália. O funcionário público encarregado de conter a epidemia também está sob investigação.

O ministério público anunciou a investigação formal. Ao mesmo tempo, pediu a suspensão imediata de medidas postas em prática para conter a propagação da doença, que incluem o abate e queima de árvores infetadas e vulneráveis, e pulverização com inseticidas. Os promotores argumentam que muito pouco se sabe sobre a ciência da doença para justificar tais medidas.

"Estamos chocados", diz Donato Boscia, chefe da unidade de Bari do Instituto da Itália para a Proteção Sustentável das Plantas. Ele é um dos acusados, que, de acordo com reportagens da conferência de imprensa, são suspeitos de "propagação negligente de doenças das planta, apresentando informações e materiais falsos, poluição ambiental e desfiguração da beleza natural".


Propagação da doença

O surto é causado pela bactéria Xylella fastidiosa e propaga-se pelas árvores através de uma cigarrinha. A Xylella é endémica em partes das Américas, incluindo Costa Rica, Brasil e Califórnia, e não tinha sido observada na Europa até 2013, quando foi identificada no sul de Itália. A estirpe de Xylella envolvida no foco de Puglia tinha sido relatada anteriormente apenas na Costa Rica.

Sob as regras da União Europeia, a Itália é obrigada a realizar um plano de contenção de base científica para parar a propagação da doença em outros países da UE. Além do abate de árvores infetadas, este plano envolve a destruição de árvores saudáveis para criar zonas de barreira. Mas os produtores, apoiados por ativistas ambientais que consideram inaceitável a destruição de árvores antigas, têm protestado contra a sua implementação. Decisões judiciais individuais a seu favor, têm permitido parar o corte de árvores e a pulverização de inseticida nas suas terras.

A 10 de dezembro de 2015, pouco mais de uma semana antes do ministério publico italiano anunciar a investigação, a Comissão Europeia abriu um processo de infração sobre a falha da Itália para levar a cabo as medidas de contenção com rapidez suficiente. O porta-voz da Comissão, Enrico Brivio diz que não sabe o que vai acontecer agora que os tribunais italianos bloquearam todo o plano de contenção. "Xylella em todas as suas variantes é o patógenio mais perigoso para as plantas, e as epidemias têm um enorme impacto económico", diz ele. "As medidas de emergência são necessárias e precisam ser implementadas."

O ministério publico, que confiscou computadores e documentos de institutos científicos em maio, ainda não tornou público qualquer detalhe das suas provas contra os cientistas. Mas afirmam que continuam preocupados que a mortal Xylella possa ter sido importada da Califórnia para um workshop no Instituto Agrónomo Mediterrânico de Bari em 2010, e, em seguida, ter sido libertada no ambiente. Eles dizem que também estão preocupados que a bactéria possa ter sido libertada para o meio ambiente a partir de experiências de campo.

Os cientistas afirmaram anteriormente que a estirpe de Xylella em questão não foi utilizada no workshop. A maioria dos cientistas que examinaram a questão consideram provável que a doença tenha chegado com plantas ornamentais importadas da Costa Rica, que abrigam a mesma estirpe de Xylella.


Fonte: Nature

Comentários