publicado a: 2018-12-03

Como Amesterdão está a salvar as suas abelhas com flores silvestres e hotéis de insetos

As populações de abelhas e outros insetos polinizadores estão em declínio no mundo. Na capital holandesa, contudo, a diversidade de espécies de abelhas selvagens e melíferas aumentou 45%, desde 2000.

"Qual é o segredo por trás deste êxito? A cidade atribui-o à criação de habitats com plantas e flores silvestres, à instalação de “hotéis para insetos” em vários pontos da capital e à proibição do uso de pesticidas químicos em terras públicas.

“Os insetos são muito importantes porque são o início da cadeia alimentar”, disse Geert Timmermans, um dos oito ecólogos a trabalhar para a cidade. “Quando as coisas correm bem para os insetos, também correm bem para as aves e para os mamíferos.”

A cidade de Amesterdão criou um fundo de sustentabilidade de 30 milhões de euros para melhorar as suas condições ambientais – não só para as abelhas, mas para todo o ecossistema. E, há quatro anos, começou a substituir a vegetação dos seus espaços verdes por plantas nativas. A meta é fazê-lo em metade de todos os espaços verdes públicos, conta a NBC.

“A nossa estratégia, quando projetamos um parque, é usar espécies nativas e também as que exibem muita floração e dão fruto [para as abelhas]”, explicou Geert Timmermans.

Os cidadãos e as empresas são informados de alternativas aos pesticidas que podem utilizar nos terrenos privados. “[As pessoas] reconhecem a importância do ambiente natural. Faz parte da cultura”, disse o ecólogo.

Telhados verdes e hotéis de insetos

A cidade também encoraja a instalação de telhados verdes nos edifícios, através da concessão de subsídios. Estas coberturas ajardinadas ajudam a regular as temperaturas no interior das estruturas, reduzindo a dependência de sistemas de aquecimento e arrefecimento, para além de criarem habitats para a biodiversidade urbana


O hotel holandês Zoku, por exemplo, criou um jardim no telhado do seu edifício com uma grande variedade de plantas, incluindo arbustos ameaçados, musgo, ervas aromáticas e até vegetais. 46% dos custos do projeto foram financiados pela cidade.

“As pessoas ficam aqui (…) e dizem que não querem ir-se embora, não querem ir para a cidade”, contou Veerle Donders, gerente de marca do hotel. “Dizem que gostam de ver o pôr do sol e acalmar a mente da correria da vida urbana.”

A cobertura verde é um refúgio para os visitantes e também para as abelhas, que voam atarefadas entre as flores e se abrigam nos hotéis para insetos instalados em algumas das paredes exteriores. Estes hotéis são estruturas de madeira com buracos, onde as abelhas solitárias e outros insetos fazem os seus ninhos.

A preocupação com a vida selvagem estende-se a outras espécies. Alguns edifícios da capital exibem pequenos buracos perfurados nas paredes exteriores, destinados a servirem de local de nidificação ou abrigo a morcegos, andorinhões e outras aves.

Geert Timmermans conta à NBC que os cidadãos também podem solicitar à cidade a remoção de uma faixa de 40 cm do passeio junto às suas casas para nela plantarem arbustos, flores ou trepadeiras.

Embora as populações de abelhas estejam a recuperar em Amesterdão, 66% das espécies destes insetos no país continuam ameaçadas.

Por trás do declínio global das abelhas estão ameaças como a perda de habitat, causada especialmente pela urbanização e pela expansão da agricultura, o uso de pesticidas, os parasitas e as doenças.

A pensar nisso, o governo holandês adotou, este ano, uma “Estratégia para os Polinizadores”, que visa a proteção destes animais, vitais para três quartos das principais culturas agrícolas do mundo.

Flores silvestres e estradas de mel

Depois de as abelhas no seu apiário começarem a morrer, Deborah Post fundou a Honey Highway, uma organização que planta flores silvestres nas bermas das estradas.

“As abelhas e os insetos não têm comida porque tudo é verde, tudo é relva”, disse, referindo-se à sua propriedade rural, a 60 km de Amesterdão, rodeada por explorações leiteiras.

Quando, em 2015, uma nova autoestrada começou a ser construída na zona, Deborah pediu ao governo autorização para plantar flores silvestres ao longo das suas bermas.

Esta experiência acabou por se revelar um sucesso. As suas abelhas estão a prosperar e as flores silvestres também, apesar de um verão excecionalmente quente e seco.

O trabalho da Honey Highway não acabou aqui. A organização continuou a semear flores ao longo de outras estradas, de diques e de caminhos-de-ferro. As flores são de espécies indígenas e são escolhidas de acordo com a zona onde vão ser plantadas.

Por vezes, as crianças dão uma ajuda na plantação. O objetivo é envolvê-las no processo e sensibilizá-las para as necessidades das abelhas.

Para o futuro, Deborah espera conseguir que esta ideia chegue mais longe, levando mais cor e vida a outras estradas e a outros países.

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