Consumo de antimicrobianos e resistência em bactérias provenientes de seres humanos e animais
A DGAV informa que foi publicado, no dia 21 de fevereiro, o Quarto relatório conjunto interagências – ECDC, EFSA e EMA – sobre a análise integrada do consumo de agentes antimicrobianos e da ocorrência de resistência antimicrobiana em bactérias provenientes de seres humanos e animais produtores de alimentos na União Europeia (EU) (JIACRA IV – 2019-2021).
Este é o quarto relatório conjunto interagências, “Joint Interagency Antimicrobial Consumption and Resistance Analysis (JIACRA)”, que abrange principalmente o período 2019-2021. Os três relatórios anteriores do JIACRA consideraram os dados do consumo de agentes antimicrobianos (CAM) e os dados de resistência antimicrobiana (RAM) para uma série de períodos consecutivos desde 2011.
De sublinhar que estes relatórios decorrem do Plano de Ação Europeu “Uma Só Saúde” contra a Resistência aos Agentes Antimicrobianos, no qual a Comissão Europeia (CE) incumbiu o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC), a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) e a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) de recolher dados sobre a relação entre AMC e RAM em seres humanos e animais produtores de alimentos.
Refira-se que este quarto relatório JIACRA abordou os dados obtidos pelas redes de vigilância à escala da UE das referidas agências para 2019–2021. A análise procurou igualmente identificar se as tendências significativas da RAM e do CMA foram concomitantes no período de 2014–2021. O CMA nos setores humano e animal, expresso em mg/kg de biomassa estimada, foi comparado a nível nacional e europeu. Este relatório inclui, pela primeira vez, uma análise multiagências das tendências no uso de medicamentos contendo antimicrobianos e na resistência em E. coli, tanto para os seres humanos como para os animais.
Em 2021, o CMA total foi avaliado em 125,0 mg/kg de biomassa para os seres humanos (28 países da UE/EEE, intervalo 44,3–160,1) e 92,6 mg/kg de biomassa para animais produtores de alimentos (29 países da UE/EEE, intervalo 2.5-296.5).
Verificou-se que entre 2014 e 2021, o CMA total nos animais produtores de alimentos diminuiu 44 %, enquanto nos seres humanos permaneceu relativamente estável.
Das análises univariadas e multivariadas para estudar associações entre a AMC e a RAM para combinações selecionadas de bactérias e antimicrobianos, observaram-se associações positivas entre o consumo de certos agentes antimicrobianos e a resistência a essas substâncias em bactérias provenientes de seres humanos e animais produtores de alimentos. Para certas combinações de bactérias e antimicrobianos, a RAM em bactérias de seres humanos foi associada à RAM em bactérias de animais produtores de alimentos que, por sua vez, estavam relacionadas com o CAM em animais. A robustez relativa destas associações diferiu acentuadamente entre a classe antimicrobiana, o microrganismo e o setor em causa.
No que respeita a alguns agentes antimicrobianos, observou-se uma tendência decrescente, estatisticamente significativa, da CMA e da RAM concomitantes para os animais produtores de alimentos e os seres humanos em vários países durante o período em questão. Do mesmo modo, uma percentagem de países que reduziram significativamente o CAM total, também registou uma maior suscetibilidade aos antimicrobianos no indicador E. coli de animais produtores de alimentos e de E. coli originária de infeções humanas invasivas (ou seja, exibiu «suscetibilidade completa» ou «resistência zero» a um conjunto harmonizado de agentes antimicrobianos).
De uma forma geral, os principais destaques deste relatório são os seguintes:
- A resistência antimicrobiana diminuiu em países que reduziram a utilização de antibióticos em seres humanos e animais.
- A suscetibilidade de E. coli a antimicrobianos em seres humanos e animais aumenta quando há uma diminuição global no consumo de antibióticos
- Nos seres humanos, a utilização de carbapenemas, cefalosporinas de 3ª e 4ª geração e quinolonas está associada à resistência a estas classes de antibióticos nas infeções por E. coli
- Em animais produtores de alimentos, a utilização de quinolonas, polimixinas, aminopenicilinas e tetraciclinas está associada à resistência a estes antibióticos nas infeções por E. coli em animais.
- Existe uma ligação entre a resistência bacteriana nos seres humanos e os animais produtores de alimentos para certas espécies bacterianas, como seja.
No geral, os resultados sugerem que as medidas implementadas para reduzir o CMA em animais produtores de alimentos e em seres humanos têm sido eficazes em muitos países. No entanto, estas medidas devem ser reforçadas de modo a manter e prosseguir, sempre que necessário, as reduções do CMA. Tal sublinha igualmente a importância de medidas que promovam a saúde humana e animal, como a vacinação e uma melhor higiene, reduzindo assim a necessidade de utilização de agentes antimicrobianos.
Assim e em consonância com a abordagem «Uma Só Saúde», as Agências apelam:
- Aos esforços contínuos no combate à resistência antimicrobiana a nível nacional e a nível mundial;
- A uma vigilância harmonizada da utilização de antibióticos e da resistência antimicrobiana nos setores humano e animal;
- A mais investigação no domínio da resistência antimicrobiana.
Para mais informações, sugere-se a leitura do relatório disponível em EFS2_8589.pdf (europa.eu)
e/ ou os resumos e análise crítica ao mesmo, publicada nos sites das várias agências: (simplified-summary-antimicrobial-consumption-resistance-bacteria-2019-2021.pdf (europa.eu)