publicado a: 2024-10-10

Declínio de 73% no tamanho médio das populações de vida selvagem revela um “sistema em perigo”

A WWF lança hoje o relatório “Planeta Vivo”, mostrando um “sistema em perigo” à medida que o mundo se aproxima de pontos críticos perigosos e irreversíveis, impulsionados pela perda da natureza e pelas mudanças climáticas. O relatório sublinha a importância de agirmos eficazmente nos próximos cinco anos para mudar a atual trajetória.

O relatório Planeta Vivo, publicado hoje pela WWF, revela um declínio catastrófico de 73% no tamanho médio das populações de vida selvagem monitorizadas* em apenas 50 anos (1970-2020). Os declínios mais acentuados nas populações monitorizadas de vida selvagem foram registados na América Latina e Caraíbas (-95%), África (-76%) e Ásia-Pacífico (-60%). O relatório alerta que, à medida que a Terra se aproxima de pontos de inflexão perigosos que representam graves ameaças para a humanidade, será necessário um enorme esforço coletivo nos próximos cinco anos para enfrentar as crises do clima e da natureza.

O Índice Planeta Vivo (IPV), fornecido pela ZSL (Sociedade Zoológica de Londres), inclui quase 35.000 tendências populacionais de 5.495 espécies entre 1970 e 2020. O declínio mais acentuado ocorre nos ecossistemas de água doce (-85%), seguido pelos terrestres (-69%) e, depois, marinhos (-56%). A perda e degradação de habitat, impulsionadas principalmente pelo atual sistema alimentar, são a maior ameaça à biodiversidade por todo o mundo, seguidas pela sobre-exploração, espécies invasoras e doenças. As alterações climáticas são uma ameaça adicional para as populações de vida selvagem na América Latina e Caraíbas, que registaram uma queda média impressionante de 95%.

Para Ângela Morgado, Diretora Executiva da ANPlWWF, “a natureza está a lançar-nos um alerta. As crises da biodiversidade e alterações climáticas estão a empurrar a vida selvagem e os ecossistemas para além dos seus limites, com pontos de não retorno perigosos a ameaçar comprometer os sistemas vitais da Terra e a desestabilizar as sociedades. As consequências devastadoras de perdermos ecossistemas essenciais, como a floresta na Amazónia e os recifes de coral, serão sentidas tanto pelas pessoas como pela natureza em todo o planeta.”

Portugal enfrenta desafios para alcançar as suas metas climáticas e ambientais, especialmente no que diz respeito ao aumento da capacidade de sumidouro natural de CO2 e à descarbonização dos setores de transportes e agricultura até 2030. A ANP|WWF aponta a necessidade de sinergias entre a ação climática, a proteção da biodiversidade e o bem-estar humano, ressalvando que a aceleração das energias renováveis deve ocorrer de forma responsável e inclusiva. Embora existam avanços no restauro de áreas degradadas e na criação de áreas protegidas, é essencial melhorar a gestão das áreas existentes e expandir a proteção em terra e no mar, com o objetivo de alcançar 30% de proteção efetiva até 2030.

No relatório lançado hoje, a ANP|WWF indica as prioridades para Portugal bem como alguns desafios que ainda estão por resolver, como o planeamento para a expansão de energias renováveis offshore, que carece de um enfoque que respeite os ecossistemas marinhos ou a transição justa, principalmente no combate à pobreza energética e de mobilidade, que requerem uma abordagem mais profunda no Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC). A organização também criticou o investimento na barragem do Pisão, alertando para os seus impactos negativos sobre a biodiversidade e a agricultura sustentável.

As cimeiras internacionais sobre biodiversidade e clima que se realizarão brevemente – COP16 e COP29 – são uma oportunidade para os países se elevarem à dimensão do desafio. A WWF apela aos países que produzam e implementem planos nacionais mais ambiciosos para a natureza e o clima, que incluam medidas para reduzir o consumo excessivo global, travar e reverter a perda de biodiversidade doméstica e importada, e reduzir as emissões − tudo de forma equitativa.

Ângela Morgado acrescenta ainda que “em Portugal, em dia de entrega do Orçamento do Estado, seria crucial que as prioridades de conservação ambiental fossem de facto prioridades nacionais. É necessário um esforço de articulação entre governo, grupos parlamentares e outras organizações para desbloquear maior financiamento público e privado que permitam ações em larga escala, mas também para alinhar melhor as suas políticas e ações de clima, natureza e desenvolvimento sustentável. Tanto os governos quanto as empresas devem agir rapidamente para eliminar atividades com impactos negativos na biodiversidade e no clima, e redirecionar os financiamentos para práticas que cumpram os objetivos globais.”


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