Depois do chá, Açores apostam na produção de café bio
Plantação de café está em expansão no arquipélago e conta para já com quase meia centena de produtores.Mais do que na quantidade, Delta aposta na qualidade do café biológico da marca Açores, diz secretário regional da Agricultura e Florestas, João Ponte.
A produção de café está a aumentar nos Açores, existindo já cerca de meia centena de produtores nas várias ilhas, e o executivo açoriano considera que o produto pode ser mais um contributo para a diversificação agrícola.
“Não devemos pensar que será o futuro da agricultura dos Açores, não é isso que está em causa, mas é mais uma atividade, do ponto de vista da aposta da diversificação que tem ocorrido na região, com outras produções subtropicais como o caso da produção de banana, que também tem um potencial muito grande, ou da anona. São estas culturas que têm potencial para crescer no futuro e sobretudo para serem geradoras de mais emprego na agricultura e de mais desenvolvimento económico”, adiantou o secretário regional da Agricultura e Florestas, João Ponte.
O governante falava, em declarações aos jornalistas, em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, à margem de uma reunião com os dirigentes da Associação de Produtores Açorianos de Café (APAC). Segundo o presidente da associação, José Bernardo, a APAC começou com pouco mais de 20 produtores, mas atualmente tem já “perto de 50”, em oito das nove ilhas do arquipélago sendo Santa Maria a exceção.
A Delta Cafés anunciou recentemente que estava disponível para apoiar até 500 produtores de café nos Açores, nos próximos 15 anos, o que também contribuiu para o aumento da procura por esta produção. “Esta notícia da parceria com a Delta Cafés fez despertar o interesse de muito mais gente e neste momento temos cerca de 50 associados, uns já a produzir café e outros a plantar”, avançou o presidente da APAC.
A associação ainda não tem produção suficiente para colocar o produto no mercado, mas já torrou algum café para experimentar e José Bernardo garante que o único café produzido na Europa se destaca pela diferença. “Toda a gente que prova o nosso café gosta”, salientou, alegando que o aroma é “muito forte, muito agradável e muito frutado”, mas tem pouca cafeína.
Segundo o produtor, são os solos vulcânicos e as condições edafoclimáticas do arquipélago que dão origem a um “café com características especiais”. O café dos Açores será produzido e transformado na região e o objetivo da associação é criar uma marca própria, associada à Delta, que auxilia os produtores com tecnologia.
“Neste momento ainda não temos volume, mas estamos a estudar o assunto e as coisas estão a progredir e a desenvolver-se dia a dia”, avançou o presidente da APAC, alegando que o produto deverá chegar ao mercado “brevemente”. José Bernardo admitiu que a parceria com a Delta despertou o interesse dos produtores, mas ressalvou que a produção de café dos Açores será sempre “uma gota de água no oceano” no universo da empresa portuguesa.
“Penso que a Delta está mais interessada na componente do café biológico da marca Açores, está mais interessada na qualidade do que na quantidade”, frisou. A produção de café terá sido introduzida na ilha Terceira no início do século XX pelas mãos de um imigrante brasileiro, que comercializava o produto nos principais cafés de Angra do Heroísmo na época.
“Isso acabou por se extinguir, mas as plantas ficaram. Muitas pessoas tinham essas plantas, algumas para consumo próprio, outras até com aspecto decorativo”, contou José Bernardo. Em São Jorge, na Fajã dos Vimes, já há largos anos que é vendido café produzido no local, mas agora a produção estende-se a outras ilhas.
“Julgo que estão reunidas as condições para se iniciar um processo de expansão, do aumento das áreas e da produção”, salientou o secretário regional da Agricultura, frisando que existem apoios à produção e aos projetos investimento no programa Prorural e que os Serviços de Desenvolvimento Agrário disponibilizam apoio técnico.
João Ponte disse que é preciso “dar tempo ao tempo”, até porque uma planta de café demora dois anos a começar a produzir, mas defendeu que o café dos Açores pode ser um produto de valor acrescentado. “Julgo que tem condições para vingar, associado a essa imagem de sustentabilidade dos Açores e à Marca Açores”, salientou.