É pouco provável que glifosato cause cancro, dizem peritos da ONU
É pouco provável que o herbicida glifosato que é largamente usado na agricultura e nos jardins – provoque cancro nas pessoas, concluiu uma nova avaliação sobre a segurança deste produto efectuada por especialistas em saúde, agricultura e alimentação das Nações Unidas, e que foi divulgada esta segunda-feira.
Numa declaração que provavelmente irá intensificar a polémica sobre os seus impactos potenciais na saúde, os peritos do comité conjunto da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) para os resíduos de pesticidas afirmaram, em relação ao glifosato, que é “pouco provável que tenha um risco carcinogénico nos humanos” expostos a ele através da alimentação.
Ao reanalisarem as provas científicas, os peritos do comité conjunto da OMS e da FAO disseram que é pouco provável que o glifosato seja genotóxico nos humanos. Por outras palavras, é improvável que tenha um efeito destrutivo do material genético das células.
“Perante a ausência de potencialidade carcinogénica em roedores em doses relevantes para os humanos e na ausência de toxicidade pela via oral em mamíferos, e considerando as provas epidemiológicas relativas a exposições ocupacionais, concluiu-se na reunião que é pouco provável que o glifosato tenha um risco carcinogénico para os humanos devido a exposição através da dieta”, declarou o comité.
O grupo reafirmou que a ingestão diária aceitável, por cada quilo corporal, é de até um miligrama de glifosato.
Dois outros pesticidas – o diazinon e o malatião – foram igualmente revistos pelo comité conjunto de peritos, que se reuniu na semana passada e que esta segunda-feira publicou as suas conclusões. Os peritos também concluíram que é pouco provável que estes dois pesticidas sejam carcinogénicos.
Contradições?
Estas conclusões parecem contradizer os resultados de outro organismo das Nações Unidas, a Agência Internacional para a Investigação do Cancro (IARC, na sigla em inglês), com sede em Lyon (França), que em Março de 2015 disse que “provavelmente” o glifosato é capaz de provocar cancro nos humanos e classificou-o como um carcinogénico do Grupo2A. Sete meses depois da revisão da IARC, a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA), uma agência independente financiada pela União Europeia, publicou uma avaliação diferente, dizendo que é “pouco provável que [o glifosato] tenha perigo carcinogénico para os humanos”.
A Agência de Protecção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos, que avaliou pela primeira vez o glifosato em 1986 e que desde então já o analisou várias vezes, também tinha antes concluído que apresenta “baixa toxicidade para os humanos”. Mas a EPA também está a ser investigada por ter retirado um relatório que dizia que este produto químico provavelmente não é carcinogénico.
Estes resultados diferentes sobre o glifosato colocam-no no centro de uma disputa que envolve políticos e reguladores da União Europeia e dos Estados Unidos, peritos da IARC, a OMS e cientistas da área do ambiente e da agricultura. No final desta semana, o comité de peritos da União Europeia sobre pesticidas deverá reunir-se para decidir se voltará a autorizar o uso do glifosato.
Num documento com perguntas e respostas que acompanha a declaração conjunta da FAO e da OMS, esta última organização nega que as conclusões do grupo de peritos e da IARC sejam contraditórias. Disse que eram “diferentes mas complementares”, com a avaliação da IARC centrada no perigo, enquanto outras olharam para o risco. “A IARC fez a revisão de estudos publicados para identificar os potenciais perigos de cancro”, disse a OMS. “Não foi estimado o nível de risco para a população associada à exposição ao perigo.” Em contraste, acrescentou-se, o comité conjunto entre a FAO e a OMS olhou para os estudos publicados e não publicados para avaliar o risco para a saúde dos consumidores devido a uma exposição pela dieta a resíduos de pesticidas na alimentação.
Fonte: Público