Esporão rende-se ao Douro e ao Biológico
Na Adega da Quinta dos Murças, no coração do Douro, há uma ânfora de barro igual às que são usadas no Alentejo para fazer vinho de talha. “É uma experiência que estamos a realizar e vai chegar ao mercado já este ano”, diz João Roquette, presidente executivo do Esporão, confiante no resultado final da nova oferta que cruza sem complexos a tradição alentejana com o vinho duriense.
Quando o Esporão decidiu entrar no Douro e comprar a Quinta dos Murças, há 10 anos, assumiu a vontade de testar aqui tudo o que tinha aprendido ao longo de três décadas de trabalho a partir da sua base em Reguengos de Monsaraz. Assumiu, também, que queria reforçar a base agrícola e diversificar o portefólio a pensar numa carreira internacional. “Em 2008, tínhamos um terço das vendas no estrangeiro. Sabíamos que era preciso exportar para crescer, e o Douro impunha-se como a escolha natural. É a mais antiga região demarcada do mundo. Tinha boa reputação e notoriedade lá fora”, justifica João Roquette.
Em 2018, a empresa espera ter aqui vendas de €3,1 milhões. Em 2020, admite chegar aos €4,5 milhões, pouco mais do que o valor já investido na adega, nas vinhas e na recuperação da velha casa desta quinta de 160 hectares, 50 dos quais são vinhas. “Estes projetos só fazem sentido quando são pensados a longo prazo”, sustenta.
Andou dois anos à procura do espaço certo. Encontrou-o em Covelinhas, na margem direita do Douro, entre Régua e Pinhão, com vinhas de várias idades, numa extensão de 3,2 quilómetros de frente de rio aberta a diferentes exposições solares, entre os 80 e os 400 metros de altitude.
O portefólio da casa, construído com o enólogo José Luís Moreira da Silva, inclui vinho do Porto (5 mil litros), quatro vinhos de quinta (150 mil litros) e o Assobio (400 mil litros), onde também entram uvas de outros produtores. Os preços de venda ao público vão dos €8 aos €70, mas a ideia é subir a fasquia à medida que a marca ganhe notoriedade e a frente internacional, atualmente a absorver 33% das vendas, ganhe peso.
A provar a confiança no futuro, a adega já está pronta a vinificar 800 mil litros. E o projeto de enoturismo, até aqui centrado em visitas e provas, passará a oferecer dormidas na quinta.
NO HORIZONTE ESTÁ 2020
A par das vinhas, há o laranjal e há amendoeiras, sempre em agricultura biológica, uma bandeira do Esporão no Alentejo como no Douro. “O potencial do Alentejo, quando começámos, em 1973, era completamente diferente do Douro em 2008. Não estávamos sozinhos. Já havia muitos vinhos bons. Tivemos de pensar no que podíamos trazer para o Douro, como podíamos ser inovadores numa quinta que já tinha sido inovadora ao fazer a primeira vinha ao alto do Douro, em 1947. Percebemos que a agricultura biológica, aqui, ainda estava numa base muito experimental. Avançámos como no Alentejo, primeiro numa parte da propriedade, depois na sua totalidade. E aproveitámos a experiência que ganhámos no sul”, explica João Roquette, à espera de ter toda a produção da empresa com certificação biológica em dois anos.
“A diferença vê-se, sente-se, prova-se”, acredita. Outros produtores visitam a quinta e avançam no mesmo sentido, confirmando que “o Esporão está a inovar no Douro”, onde vai reforçar a equipa de 10 pessoas em 50 por cento para ser mais autossuficiente e desenvolver a sua base agrícola.
A estratégia de diversificação que trouxe o Esporão até ao Douro pode levar a empresa a outras regiões vitivinícolas, admite o gestor, já a pensar em novas frentes de trabalho, apesar de ainda não querer falar disso. Definido está já o plano de investimento de €10 milhões até 2020, de forma a acompanhar um salto nas vendas de €47 milhões para €57 milhões assente nos vinhos do Alentejo e do Douro e no azeite (ver caixa). Nesta verba, cabe uma adega e novos escritórios no Esporão, plantação de vinha, equipamento e uma central térmica.
No Alentejo, na Herdade do Esporão, a empresa tem uma área de 1700 hectares, 450 dos quais ocupados pela vinha, a que junta 140 hectares de vinha na Herdade dos Perdigões e mais duas propriedades em Portalegre, onde está a plantar 45 hectares.
No total, faz 12 milhões de litros de vinho, com uma gama de preços que podem variar entre os €2,2 e os €150. Exporta 75 por cento para 50 países, assumindo uma quota de 5 por cento em valor no mercado nacional, onde faz a distribuição através da PrimeDrinks, que controla em 50 por cento. Dominar a distribuição “é importante”, admite João Roquette, sublinhando que o Esporão tem 95 por cento da Qualimpor, no Brasil, e trabalha em parceria com a Aveleda nos Estados Unidos, tal como em Portugal.
Quanto à cerveja Sovina, o projeto mais recente do Esporão, com uma quota de mercado de 25 por cento, o objetivo é quadruplicar vendas até aos €2 milhões em três anos, inovar, como no vinho e no azeite, criar, mais uma base agrícola para o negócio, com a produção de cereais no Alentejo.