FAO defende uso de inovações na agricultura para acabar com a fome
Aplicativos que permitem aos agricultores monitorar pragas. Técnicas hidropônicas para o cultivo de alimentos em regiões áridas. Drones que avaliam o impacto de desastres naturais em plantações. Essas e outras inovações já são uma realidade em diferentes partes do mundo, por meio do trabalho de instituições como a FAO, que defendeu nesta semana (6) o uso da tecnologia como motor da erradicação da fome.
Em participação na Cúpula Mundial de Inovação em Alimentos Seeds and Chips, realizada em Milão, na Itália, a agência das Nações Unidas apresentou projetos que exploram novas técnicas de cultivo e de produção para melhorar a vida dos agricultores e a oferta de comida. Evento reúne mais de 350 representantes do setor privado e organizações até a próxima quinta-feira (9).
“A inovação agrícola é um elemento-chave que pode transformar radicalmente os sistemas alimentares, proporcionando oportunidades de negócios relacionadas com a agricultura, empregos para os jovens e mulheres rurais, e impulsionar o crescimento econômico nacional”, disse a diretora-geral adjunta da FAO para Clima e Recursos Naturais, María Helena Semedo.
A especialista enfatizou a necessidade de promover sistemas agrícolas mais sustentáveis. Segundo a representante do organismo internacional, é preciso mudar a forma como cultivamos, compartilhamos, preparamos e consumimos nossos alimentos.
A pesquisadora da FAO também pediu que governos estabeleçam normas e medidas para incentivar o consumo de alimentos saudáveis e nutritivos. “O mundo precisa de um pacto global contra a obesidade, que leve em conta os alimentos tradicionais e locais. A adoção de padrões globais de dieta saudável também reduziria a proliferação de dietas pobres que permeiam nossos estilos de vida modernos”, disse María Helena.
“Nós realmente percorremos um longo caminho, mas, em certo sentido, o nosso próprio progresso parece ser a nossa própria tragédia. Aprendemos a cultivar alimentos, mas a abundância do que está em nossas mesas está nos matando lentamente. Dietas pouco saudáveis são a principal causa de doenças, incapacidade e morte no mundo”, completou a especialista.
María Helena elogiou ainda o papel desempenhado pelos agricultores familiares, que produzem mais de 80% dos alimentos do mundo e administram três quartos dos recursos naturais do planeta. Ao final de maio, a FAO vai lançar a Década da Agricultura Familiar da ONU.
Soluções inovadoras para acabar com a fome
A FAO defende que a inovação é a força motriz de um mundo livre da fome e da desnutrição. Inovar não envolve apenas o uso de novas tecnologias, mas também a utilização de produtos, processos ou formas de organização novos ou existentes, com o intuito de aumentar a eficiência, a competitividade e a resiliência dos sistemas alimentares.
Conheça alguns dos projetos da FAO que investem em soluções inovadoras para impulsionar a segurança alimentar e o desenvolvimento sustentável do meio rural:
- Um aplicativo móvel, chamado FAWEWS, ajuda os agricultores a identificar, monitorar e administrar a lagarta do cartucho, uma praga devastadora que se alimenta das colheitas. O software, que atualmente é usado por agricultores na África Subsaariana e em partes da Ásia, não precisa de internet ou da rede móvel e vem em 14 idiomas;
- A técnica dos insetos estéreis (TIS), que usa aplicações da radiação para impedir a reprodução de pragas. O TIS foi usado para erradicar a mosca da fruta mediterrânea, espécie invasora na República Dominicana. Com isso, foram prevenidas potenciais perdas alimentares. A FAO e os seus parceiros estão considerando expandir o uso da TIS contra outras pragas, como mariposas que destroem a produção de frutas cítricas, uvas e cana-de-açúcar e mosquitos transmissores de doenças;
- A tecnologia “blockchain”, utilizada na cadeia de abastecimento do café. O “blockchain” conecta todas as partes interessadas no segmento, desde o agricultor até o consumidor, garantindo total transparência e melhorando a justiça dentro da cadeia de valor. Na Etiópia, por exemplo, cerca de 400 pequenos agricultores participam do programa FairChain. Ao aplicar a tecnologia blockchain, 45% do valor de cada xícara de café FairChain permanece na Etiópia, o que equivale a aproximadamente quatro vezes o valor estimado para as multinacionais;
- A hidroponia de baixa tecnologia que permite o cultivo de plantas em ambientes áridos. Essa técnica de cultivo sem solo usa até 90% menos água e 75% menos espaço. Pastores vulneráveis e suas cooperativas na Cisjordânia e na Faixa de Gaza usam a hidroponia para cultivar a forragem que, quando misturada com suplementos, reduz em cerca de 30% o custo de alimentar animais de criação;
- Drones utilizados na produção agrícola para a avaliação de danos causados por desastres naturais. Essas máquinas também são usadas para tornar os esforços de socorro mais rápidos, bem como para a detecção da pesca ilegal e para apoiar a conservação da vida selvagem;
- Blue Fashion: aproveita as algas e a pele de peixes para transformá-las em roupas e acessórios. Caso contrário, esses produtos seriam descartados como resíduos ou vendidos a um preço baixo. Esta iniciativa está gerando empregos e renda para comunidades em algumas das áreas mais pobres do Quênia, como Turkana.