Governo prepara plano desde 2012 para prevenir seca

Situação não é grave mas produtores começam a ficar preocupados. Ministério diz que está atento e vai agir “oportunamente”.
Por enquanto, a agricultura parece não estar a ser afectada de forma significativa com a seca meteorológica que, segundo o Instituto do Mar e da Atmosfera (IPMA) abrange quase 80% do território nacional. Mas as confederações do sector começam a ficar preocupadas. Já o Governo garante estar atento e vai anunciar "oportunamente" um plano de prevenção e contingência - que está a ser preparado há três anos - além de tentar obter luz verde de Bruxelas para antecipar apoios comunitários.
Fonte oficial do Ministério da Agricultura disse ao Diário Económico que está em preparação desde a seca de 2012 um "plano de monitorização, prevenção e contingência para as situações de seca" que será anunciado "oportunamente". Sem adiantar pormenores, a mesma fonte refere que o plano servirá para sistematizar procedimentos dos indicadores de detecção de futuras situações de seca, de actuação no combate e mitigação dos seus efeitos e de orientação dos vários sectores e entidades para situações de seca na agricultura.
O ministério de Assunção Cristas defende que a actual situação de seca - que considera ser meteorológica e não hídrica nem agrícola - "não permite justificar pedidos de apoios"à União Europeia. No entanto, lembra que os agricultores afectados, nomeadamente os de produção animal, terão antecipação de pagamentos, como estava previsto. Em causa estão apoios às vacas aleitantes, ovinos e caprinos e leite, mas também ao arroz e tomate, que foram antecipados dois meses, para Outubro. "Estamos a envidar todos os esforços para que, na medida do possível, assim os controlos permitam, mais apoios sejam antecipados", assegura a mesma fonte.
O Ministério da Agricultura sublinha que está a acompanhar a situação de perto e que a disponibilidade das águas nas albufeiras não põe em causa a rega (ver texto ao lado). Na agricultura, os efeitos da seca são para já "limitados" e afectam sobretudo a produção de pastagens e forragens, o que leva ao recurso a alimentos conservados e rações para os animais, explica fonte do ministério.
Também o secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Luís Mira, diz que as culturas afectadas até agora são basicamente "as pastagens" o que fará com que os produtores de pecuária tenham de investir mais em alimentação. E desdramatiza: "É verdade que este é um ano seco, uma vez que choveu menos em Janeiro do que é habitual, mas também a realidade é que nem Agosto nem Setembro são meses de chuva", sublinha. Para já, as reservas das barragens "estão num nível elevado" e uma parte significativa das culturas, nomeadamente as vinhas e os pomares, são de regadio, diz o dirigente da CAP. Luís Mira salienta, aliás, que se chovesse em grande quantidade em Agosto e com o calor que está, haveria consequências desastrosas para a produção, uma vez que estamos na altura das colheitas. Porém, o dirigente da CAP destaca que, se a partir de Outubro, não começar a chover "então aí sim, é caso para problemas".
Isso mesmo explica o presidente da Federação Nacional das Organizações de produtores de Frutas e Legumes, Domingos dos Santos. Em declarações à TSF, o responsável adianta que, para a época de colheitas, o ideal é que o tempo seco se mantenha, pois se chover muito, haverá campos alagados. O ideal, remata, é que chova só no Outono, defende. Porém, o calor intenso vai levar a uma antecipação das colheitas, o que fará com que haja uma redução da quantidade e da qualidade da fruta. Segundo diz, a pêra rocha e a maçã são as mais afectadas.
A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) vai mais longe e considera que este é já o início de "uma seca dolorosa, próxima da que se sentiu em 2005, quando houve dez meses sem chuva", diz João Dinis, acrescentando que esta situação poderá tornar-se na "terceira pior seca do século".
O dirigente da CNA lembra que os dados do IPMA - segundo os quais quase 80% do território estava em situação de seca "severa a extrema"- são de 31 de Julho e que "os primeiros dez dias de Agosto estão a ser muito violentos", pelo que a situação irá agravar-se. João Dinis sublinha que o Governo parece não estar consciente da gravidade da situação e de estar apenas "preocupado com a campanha eleitoral".
Fonte: Económico