Grande parte dos produtos alimentares deve registar queda de preços
A ministra da Agricultura afirmou ontem que é esperada uma queda geral dos preços em grande parte dos produtos devido à alteração dos padrões de consumo, potenciada pela covid-19, destacando o papel da agricultura de pequena dimensão
Espera-se “uma redução geral dos preços de grande parte dos produtos alimentares, tendo em conta o elevado excesso da oferta”, apontou Maria do Céu Albuquerque, numa mensagem gravada para a abertura da conferência ‘online’ “Agricultura para lá da covid-19”, organizada pela Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP).
Durante a sua intervenção, a governante destacou o papel da agricultura de pequena dimensão, que disse ser “essencial” para a coesão territorial, rendimento dos agricultores e para produção de produtos locais, onde se incluem os queijos e as raças autóctones.
Conforme apontou a ministra, o setor agroalimentar tem demonstrado “resiliência e capacidade de resposta”, muito devido ao mercado interno e ao facto de Portugal estar abrangido pela Política Agrícola Comum (PAC), que também será impactada pelo novo coronavírus.
“O quadro financeiro plurianual não está fechado e é de esperar uma transição mais longa para a introdução da nova PAC”, explicou.
Perante o impacto da covid-19 no setor serão necessários “ajustamentos aos instrumentos da PAC”, nomeadamente no Programa de Desenvolvimento Rural.
Maria do Céu Albuquerque alertou para que, apesar de Portugal estar a entrar num “novo conceito normalidade”, a única certeza “é que haverá incertezas”, sendo necessário “aprender com toda a experiência neste contexto atípico”.
Por sua vez, Francisco Avilez, professor emérito da Universidade de Lisboa, um dos convidados presentes na conferência, referiu ser importante “mitigar ao máximo” os efeitos da alteração da procura de bens alimentares, bem como tentar tornar o setor mais resiliente, tendo em conta que os impactos económicos do novo coronavírus vão decorrer “por uns largos meses”.
Já o economista Augusto Mateus vincou que o mundo e, em particular Portugal, está a viver “a maior crise de sempre”, com desafios “muitíssimos relevantes”, cuja recuperação prevê ser “lenta, assimétrica e gradual”.
Para o economista é necessário avançar com apoios que travem a morte de empresas competitivas, uma vez que as medidas de apoio ao rendimento não são suficientes.
O presidente do Crédito Agrícola, por seu turno, sublinhou que os bancos são “atores fundamentais” para ajudar a ultrapassar as crises, ressalvando que à crise na saúde pública e na economia poderá seguir-se uma crise bancária.
“É verdade que, depois desta crise, poderemos ter uma bancária e aí também somos todos chamados a resolver. O Crédito Agrícola tem vindo a fazer várias candidaturas de inúmeros clientes [a linhas de credito]. Não conseguimos ser tão rápidos quanto as empresas necessitam e face à expectativa do próprio banco”, tendo em conta a burocracia associada à concessão de créditos, notou Licínio Pina.
Presente na mesma sessão, Eduardo Diniz, diretor-geral do gabinete de planeamento, políticas e administração-geral, considerou que a agricultura foi dos poucos setores que não parou, o que se justifica com a PAC, que manteve, ao longo dos anos, um aparelho produtivo e deu um fluxo de rendimento aos agricultores, bem como verbas para os financiamentos.
O secretário regional da Agricultura da Madeira, Humberto Vasconcelos, assegurou, por outro lado, que o arquipélago foi especialmente afetado devido à quebra no turismo, que impactou, sobretudo, hotéis, restauração e os produtores locais.
Os Açores também foram atingidos pelos efeitos desta pandemia, nomeadamente, na agropecuária e nos laticínios, cujo consumo tem vindo a diminuir “nas várias frentes”, apontou o secretário regional da Agricultura dos Açores, João Ponte, numa mensagem gravada, que foi transmitida na conferência.
O diretor-geral da sociedade Agroges, Francisco Gomes, disse que as medidas avançadas pelo executivo para colmatar o impacto da pandemia terão que ser adaptadas consoante for conhecida “a amplitude” do problema, defendendo ainda ser urgente planear a “onda avassaladora” pós covid-19.
Por último, o diretor-geral da AJAP, Firmino Cordeiro, afirmou que, em tempos de crise, parece que “os sinos tocam a rebate”, para lembrar que “a agricultura é um setor basilar”, acrescentando que esta é uma crise “delicada, característica e difícil”.
A nível global, segundo um balanço da AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 165 mil mortos e infetou quase 2,5 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Portugal regista 735 mortos associados à covid-19 em 20.863 casos confirmados de infeção, segundo o boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia.
Relativamente ao dia anterior, há mais 21 mortos (+2,9%) e mais 657 casos de infeção (+3,3%).
Portugal cumpre o terceiro período de 15 dias de estado de emergência, iniciado em 19 de março, e o decreto presidencial que prolongou a medida até 02 de maio prevê a possibilidade de uma “abertura gradual, faseada ou alternada de serviços, empresas ou estabelecimentos comerciais”.
PE // CSJ