Inventário florestal continua por fazer
Entretanto, os planos regionais de ordenamento florestal (PROF) — aprovados em 2019 para vigorar durante 20 anos — foram feitos com base no inventário florestal de 2010 que não tem em conta o aumento da área de eucaliptal no país nem a perda de floresta dos últimos anos. Esta realidade levou o presidente do Observatório Técnico Independente, Francisco Castro Rego, a lamentar “a oportunidade perdida para redefinir a floresta” e torná-la mais resiliente aos incêndios. Em causa está “a manutenção de percentagens muito elevadas de coberto florestal de eucalipto e pinheiro-bravo para 2030 e 2050, que representam valores entre 60% e 90% da área florestal”, em vez de se apostar em “espécies menos inflamáveis”, como o sobreiro ou o carvalho.
Entre 2001 e 2017, Portugal perdeu 893 mil hectares de floresta, segundo dados estatísticos do Global Forest Watch. Este sistema de monitorização com sede na Universidade de Maryland, nos EUA, calcula que, neste período, “a área arborizada em território nacional teve uma redução de 39%”, esclarece Paulo Fernandes, investigador da Universidade de Trás-os-Montes. Só “os incêndios de 2017 levaram a uma perda de 174 mil hectares de floresta, mas pode ter havido entretanto alguma recuperação”, estima.
€160 MILHÕES PARA PREVENIR
Para a prevenção estrutural de incêndios em 2019, o Governo disponibilizou €160 milhões. De acordo com o Plano de Intervenções anunciado pelo Ministério da Agricultura, 28% destes investimentos vão para as matas públicas, baldios e redes primária e secundária de defesa da floresta contra incêndios; 25% para as equipas de sapadores florestais e gabinetes técnicos florestais; 9% para a estrutura do ICNF; e 1,4% para a sensibilização e mudança de comportamentos.
Segundo o secretário de Estado das Florestas, dos 3500 quilómetros de rede primária previstos até junho, “já estão executados 2700, dos quais 1194 este ano”. O objetivo é ter 12 mil quilómetros de faixas limpas até 2021 para travar grandes incêndios e facilitar o combate ao fogo. Há um bolo de €18 milhões aberto a candidaturas para quatro anos.
Entretanto, já se registaram 2425 incêndios rurais que consumiram uma área de 5131 hectares. São valores superiores aos do primeiro trimestre de 2018 (+25% e +56% respetivamente), mas abaixo da média da última década (-12% e -33%), o que é considerado “normal, tendo em conta um inverno seco e o facto de março ser tradicionalmente época de queimas e queimadas”, explica José Cardoso Pereira, investigador do Centro de Estudos Florestais do Instituto Superior de Agronomia. As queimas e queimadas de pastos e sobrantes agrícolas ou as fogueiras que escaparam foram responsáveis por 70% dos fogos.
Desde 1 de março 49 municípios aderiram ao programa “Queima Segura”, que obriga ao acompanhamento por bombeiros e sapadores. Agora, segundo Cardoso Pereira, o que vai determinar a próxima época de fogos “é quão chuvosa vai ser a primavera”.