Investigadores da FCUP estudam ação herbicida do eucalipto
Equipa está a estudar propriedades herbicidas de folhas de eucalipto que podem, por exemplo, ajudar travar a expansão da espécie em contexto pós-fogo.
E se fosse possível aproveitar o eucalipto para reduzir prejuízos na agricultura e a prevenir o risco de incêndio? É nisso que está a trabalhar a equipa de investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) envolvida no projeto PEST(bio)CIDE.
“O objetivo do projeto é obter um biocida (EucaBio), que possa ser facilmente preparado sem grandes conhecimentos técnicos, e que seja capaz de controlar eficazmente o crescimento de ervas daninhas, causadoras de grandes prejuízos na agricultura”, explica Fernanda Fidalgo, docente da FCUP que lidera a investigação.
“Ao mesmo tempo, a utilização das folhas de eucaliptos jovens, que rapidamente regeneram após um incêndio, contribui para o melhoramento do ordenamento do território português, dominado por esta espécie exótica e, assim, para reduzir o risco de incêndio através da diminuição do combustível fornecido por estas árvores”, acrescenta a investigadora.
Resultados promissores
Através do PEST(bio)CIDE pretende-se então reduzir o uso de herbicidas sintéticos que têm impacto no ambiente e saúde animal e que levantam cada vez mais preocupações na sociedade. Os primeiros resultados do projeto – financiado por três anos pela Fundação para a Ciência e Tecnologia – já são promissores e mostram o potencial do eucalipto.
“Verificou-se que folhas de E. globulus jovens colhidas numa zona recentemente ardida, apresentavam uma acentuada atividade herbicida em plântulas de beldroega (Portulaca oleracea L.), uma espécie comum de erva daninha”, explica a investigadora Mafalda Pinto, que começou a trabalhar no projeto no âmbito da dissertação de mestrado em Biologia Funcional e Biotecnologia de Plantas.
Para além disso, o trabalho da agora bolseira de investigação no PEST(bio)CIDE avaliou ainda o impacto do extrato aquoso feito a partir destas folhas de eucalipto em espécies não-alvo, nomeadamente, em culturas de interesse agronómico.
“Os resultados obtidos permitiram concluir que o extrato aquoso não só não afetou a performancefisiológica de tomateiros, como ainda estimulou a resposta do sistema antioxidante, o que poderá contribuir para uma possível preparação destas plantas (stress priming) para episódios futuros de stresse”, descreve.
Um trabalho multidisciplinar
A equipa envolvida PEST(bio)CIDE reúne investigadores da FCUP/GreenUPorto, da Universidade do Minho/BioISI e da Universidade de Aveiro/GEOBIOTEC. O projeto é liderado pela docente Fernanda Fidalgo (Plant Stress lab, FCUP & GreenUPorto) e co-liderado pela docente Ruth Pereira (LabRisk, FCUP & GreenUPorto).
O PEST(bio)CIDE conta ainda com a participação de vários investigadores da FCUP, incluindo Anabela Cachada e Márcia Bessa, e os estudantes de doutoramento, Cristiano Soares, Maria Martins e Bruno Sousa.
Na FCUP, este trabalho pioneiro vai ter continuidade com o projeto de doutoramento em Biologia do estudante Telmo Cruz, que irá avaliar a segurança ambiental do biopesticida produzido, assim como a sua eficácia em ensaios de campo.