publicado a: 2016-03-30

Investigadores desenvolvem embalagens anatómicas para frutas

Fotos: Embrapa

Feitas de poliuretano e fibras vegetais, as embalagens para frutas que acompanham o formato do seu conteúdo são capazes de evitar lesões de transporte e a consequente perda do produto. Desenvolvidas em parceria por diferentes instituições, as novas embalagens deverão estar disponíveis no mercado até o fim deste ano.

Segundo os dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO/ONU), cerca de um terço da produção de alimentos no mundo é perdido na distribuição ou desperdiçado no consumo. Mais de metade dessas perdas e desperdícios ocorrem na manipulação, armazenamento e comercialização. O desenvolvimento de embalagens anatómicas para frutas foi uma das estratégias estudadas por uma equipa de 30 investigadores da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), do Instituto Nacional de Tecnologia (INT) e Instituto de Macromoléculas (IMA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para reduzir esses dados. As novas embalagens geram menor impacto mecânico, manutenção da qualidade sensorial e aumento da vida útil das frutas. A tecnologia genuinamente brasileira já rendeu 39 patentes obtidas no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) e recebeu o prémio Food Packing Design (2013) na Alemanha.

As embalagens foram projetadas inicialmente para algumas frutas. "Escolhemos produtos com significativo volume de venda nacional e internacional como manga e mamão, e também aqueles com importância económica para o Estado do Rio de Janeiro, como dióspiro e morango", informou António Gomes, investigador da Embrapa e um dos líderes do projeto. Essas frutas de diferentes formatos e tamanhos passaram por digitalização 3D (tridimensional) no Instituto Nacional de Tecnologia. A partir desse trabalho, foram desenhados e elaborados modelos físicos em poliuretano expandido adicionado de fibras vegetais, considerando os formatos e os vários tamanhos dos frutos, de modo a facilitar o transporte, manuseamento e exposição.

"Os modelos de embalagens permitem que esses frutos possam ser mais bem acondicionados em bandejas, cujas cavidades foram especialmente desenhadas, o que reduz a ocorrência de danos. Além disso, o design desse sistema de embalagens permite que ocorra maior ventilação dos frutos, promovendo a troca de gases com o ambiente, retardando seu amadurecimento e aumentando sua vida útil", informa Gil Brito, da Divisão de Desenho Industrial do INT. As embalagens de manga e mamão, que são anatómicas, possuem duas partes: uma termoformada e outra termoinjetada articulada, que pode ser fechada para ocupar menos espaço durante o transporte de retorno para o produtor. O desenho das embalagens levou em consideração o padrão internacional de paletes para transporte de cargas nacional e internacional. Termoformada é uma peça moldada por ação do calor, a termoinjetada é confecionada por injeção de resina líquida a alta temperatura num molde.


Praticidade e proteção do fruto

Agricultores familiares de Nova Friburgo, na região Serrana do Rio de Janeiro, testaram este novo sistema de embalagem para o morango. "Esta embalagem é mais prática e higiénica, pois impede a entrada de insetos. Também protege mais o fruto, que é muito sensível", afirma Dacir Condak, responsável pela Associação dos Agricultores Familiares de Produtores de Morango de Nova Friburgo (Amorango). Testes realizados com os vinte produtores da associação identificaram a necessidade de elevação da embalagem para acondicionar os frutos maiores sem provocar esmagamento, o que já foi incorporado ao produto. Enquanto esta nova embalagem adaptada não chega aos mercados, o produtor Dacir Condak, que há 35 anos cultiva o fruto, continua a utilizar a embalagem aberta coberta com filme PVC. "Realmente, não é a mais adequada, mas é a que todos os produtores utilizam", diz.

Da mesma forma, atualmente as caixas de madeira utilizadas são ainda amplamente utilizadas juntamente com as caixas de plástico retornáveis dos supermercados. "O problema é que as caixas utilizadas são as mesmas, independentemente do formato e tamanho do fruto, ocasionando grandes perdas e prejuízos económicos para toda a cadeia produtiva, especialmente para o consumidor, que paga a mais pelo produto", alerta António Gomes, pesquisador da Embrapa.

Os estudos comprovaram que a utilização destas novas embalagens anatómicas gera menor impacto mecânico (menos choques), melhor aspeto e aumento da durabilidade dos frutos. Segundo os investigadores, em mamão, as perdas pós-colheita observadas foram de apenas 2%, em vez de 25%, como normalmente ocorre.

Quanto ao dióspiro, o resultado também foi significativo: "A nova embalagem estendeu a vida útil dos frutos entre quatro e seis dias em relação à caixa de madeira; e entre dois e três dias comparando-se à caixa de cartão. O estudo também apontou a preferência dos consumidores pelos dióspiro transportados na nova embalagem", informa o investigador da Embrapa, Marcos Fonseca que orientou e acompanhou o estudo da nova embalagem para transporte e comercialização de dióspiro.

Além de reduzir as perdas pós-colheita, as caixas anatómicas também geram eficiência ao trabalho de embalagem por acolher frutos de tamanhos variados. A classificação do produto por tamanho, cor e formato pode ser realizada diretamente pelo produtor no campo e ir direto para a comercialização. Se for para o "packing house" (casa de embalagens), o tempo dispendido no processo de embalamento das frutas é 50% menor com a nova tecnologia, segundo os investigadores.

Estas embalagens também são ecologicamente corretas, utilizando como matéria-prima fibras naturais, que foram desenvolvidas no Núcleo de Excelência em Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável (NERDES) do Instituto de Macromoléculas da UFRJ. A equipe do laboratório trabalha para o desenvolvimento de tecnologias que priorizem a economia de matéria-prima e de energia com menor impacto ambiental.

"Para estas embalagens, desenvolvemos um compósito à base de polímeros e resíduos de fibras lignocelulósicas. Além dessa justificação ambiental, social e económica, tem-se que parte do material utilizado para a confeção da embalagem é um resíduo; ou seja, iria para o lixo", conta a professora Elen Pacheco, da UFRJ.


Nanotecnologia biodegradável

Esse tipo de material conferiu maior degradabilidade (capacidade de se decompor na natureza) às embalagens e redução de impacto ambiental estimada entre 10% a 30%. E a equipa de investigadores procura mais: "Queremos desenvolver embalagens para outras frutas que não foram estudadas, como banana, uva e pêssego, e elaborar uma embalagem que seja produzida totalmente de resíduos", conta Elen Pacheco. Assim, as pesquisas voltam-se agora para a área de nanotecnologia, com a análise de nanocargas de fibras vegetais em compósitos, que poderão ser utilizados na construção civil, na fabricação de móveis, além da confeção destas novas embalagens.

E o custo? "Tentamos equacionar as necessidades de cada fruta, dentro de um sistema de embalagens que pudesse ser o mais padronizado possível. Observamos a realidade de produção, transporte e de comercialização nos mercados nacional e internacional, para que os custos de fabricação das embalagens fossem admissíveis pelos principais atores do processo", contou Gil Brito, da Divisão de Desenho Industrial do Instituto Nacional de Tecnologia.


Fonte: Embrapa

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