publicado a: 2016-11-28

Língua azul está a matar ovelhas em Santarém

Mais de 70 ovelhas morreram na passada semana em Abrantes, distrito de Santarém, com o vírus da língua azul, tendo o veterinário local afirmado que a situação é de «calamidade» para os produtores da região.

«De um total de 15 mil ovelhas existentes em 400 explorações e rebanhos nos concelhos de Abrantes, Constância e Sardoal, mais de 50% está infetado com o vírus da língua azul, uma situação de calamidade para estes produtores. Só em Alvega [Abrantes] um produtor já perdeu 70 cabeças», disse Adérito Galvão, veterinário do Agrupamento de Defesa Sanitário (ADS) daqueles três municípios.

O veterinário criticou a cedência das vacinas «apenas para as zonas de restrição do vírus, entre elas o Alentejo, mas, no entanto, o vírus propagou-se pelos mosquitos e entrou no Ribatejo no início de novembro, tendo apanhado todas as ovelhas por vacinar, uma vez que esta região não foi considerada zona de risco».
«Hoje, depois de ter mais de metade de um efetivo de 15 mil ovelhas contaminado, e muitas delas prenhas, é que comecei a vacinar o gado, porque libertaram na quarta-feira 30 mil vacinas, mas já com a doença no terreno», disse esta quinta-feira o responsável, tendo feito notar que, para cada ovelha, é necessária a administração de duas vacinas, espaçadas no tempo.
Adérito Galvão e a sua equipa começaram esta quinta-feira, 24 de novembro, a vacinar 15 mil ovelhas. O veterinário esclareceu que as vacinas são administradas em duas doses, com três semanas de intervalo. «Só ao fim de um mês se estabelecem as resistências e durante este período ainda podem vir a adoecer», alertou, acrescentando que «as baixas temperaturas podem ajudar à não propagação do vírus, uma vez que os mosquitos não voam, como tal, deixam de se reproduzir e deixam de picar».
O produtor Artur Lopes, de Alvega, lamentou que «o vírus impeça as ovelhas que estão prenhas de se alimentarem. Ganham febre, babam-se e deixam de comer. Todos os dias morrem ovelhas dos meus rebanhos» tendo contabilizado 70 ovelhas mortas com um valor médio de mercado de 80 euros.


Ministério da Agricultura desmentido

Um comunicado do Ministério da Agricultura informou que «todas as explorações de ovinos situadas dentro da zona de restrição – todas as regiões do Alentejo e Algarve e também três concelhos de Castelo Branco – acederam a vacinas fornecidas pela DGAV – Direção Geral de Alimentação e Veterinária»,tendo feito notar que as restantes explorações «podiam vacinar voluntariamente, sendo o custo da vacina suportado pelos produtores».

Na mesma informação pode ler-se que «a DGAV (…) em novembro publicou o edital n.º 42, que estendeu a zona de restrição a outros concelhos de Lisboa e Vale do Tejo e a mais alguns da Beira Interior, incluindo também o concelho de Abrantes» e que as medidas «entraram em vigor à data da publicação dos editais».

Questionado sobre se prevê que os produtores possam ser ressarcidos pelos prejuízos, o Ministério refere que «estando em vigor medidas de controlo muito específicas, de aplicação obrigatória, e que são consideradas suficientes para evitar a ocorrência da doença, à partida foram prejudicados os produtores que não as aplicaram, desrespeitando os editais da DGAV».

Nesse sentido conclui que «não poderá haver lugar a quaisquer indemnizações», referindo que «a DGAV, enquanto Autoridade Sanitária, tomou as medidas adequadas e informou os produtores».

No entanto, à Renascença, Adérito Galvão explica que o Ministério da Agricultura, ao contrário que tem sido noticiado, só previu a vacinação de vacas e não de ovelhas. «Ao contrário das notícias que estão a ver veiculadas pelo Ministério da Agricultura, não estava prevista a vacinação voluntária das ovelhas pelos produtores, apenas a das vacas. Portanto, essa informação que está a ser veiculada pelo Ministério da Agricultura, não é correta. Eu aconselhei algumas pessoas, que seria do ponto de vista preventivo, bom, vacinar as ovelhas. E foi-me dito e estava escrito nos editais que previam a vacinação voluntária das vacas e não das ovelhas», disse.


Fonte: Capeia Arraiana

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