Lusomorango: a maior OP de pequenos frutos de Portugal está sediada em Odemira
Em 2005, ano em que foi fundada por cinco acionistas, o volume de negócios ascendia a cerca de 5.000.000€, assente essencialmente na produção de morango.
Os números de 2018, ainda por fechar, apontam para um volume de negócios que será pela primeira vez superior a 50.000.000€, com a produção de framboesa a pesar cerca de 90% deste valor.
Esta evolução pode também ser verificada noutros parâmetros da nossa actividade: área total de produção, de cerca de 70 hectares em 2005 para mais de 400 em 2018, e número de membros produtores, de 5 em 2005 para 43 em 2018.
Desde a sua fundação, a Lusomorango tem apostado no fator qualidade da fruta como fator diferenciador e como âncora do seu modelo de negócios e que tem permitido colocar a produção dos seus membros produtores em mercados que valorizam este fator mais do que, por exemplo, apenas o fator preço.
Num país onde o consumo de pequenos frutos era, e ainda é, pouco expressivo esta estratégia era a que permitia ao mesmo tempo garantir o escoamento da fruta, através de exportações para um mercado de cerca de 700 milhões de habitantes, e um retorno que garantisse a saúde financeira das unidades produtivas.
No entanto, esta estratégia também impunha condições. Um mercado que remunera melhor é também um mercado mais exigente e a Lusomorango, e os seus produtores, têm, desde 2005, conseguido manter-se nesses mercados.
Não será despiciendo para a definição desta estratégia o facto de na génese da fundação da Lusomorango estarem duas empresas com uma vasta história na produção e comercialização de pequenos frutos – Casa Prudêncio e Driscolls – e que emprestaram a esta sociedade uma visão clara e segura do que seria o papel da Lusomorango.
A Driscolls, em particular, pela importância que esta sociedade atribui à investigação e ao desenvolvimento de material genético e que se destaca pelos resultados que obteve no desenvolvimento de variedades que acabaram por ser adotadas pelos produtores da Lusomorango e que trouxeram, pelo rendimento e pelo conhecimento acumulado sobre as mesmas, uma mais-valia significativa para os produtores da Lusomorango.
Esta evolução foi assim conseguida valorizando os objectivos iniciais a que a Lusomorango se propôs em 2005: concentração da oferta, programação da produção e adaptação à procura e melhoria da qualidade dos produtos.
A ideia maior de que aos produtores a produção e à Equipa da Lusomorango, Técnica, Comercial e Direcção, todos os outros aspectos não produtivos permitiu que cada unidade do negócio se especializasse oferecendo ao mesmo os ganhos naturais fruto dessa especialização e otimização de recursos.
O papel da Lusomorango, nesta jornada iniciada em 2005, foi então desenhado com o propósito de oferecer o conjunto de serviços que permitisse aos seus membros produtores a melhoria permanente das suas unidades produtivas, medida em kgs/ha e/ou custo/kg, enquanto que todas as outras dimensões do negócio – logísticas, técnicas, comerciais ou administrativas – eram garantidas pela sua Equipa.
Para esse efeito a Lusomorango garante aos seus membros o acesso a unidades de armazenamento e arrefecimento de fruta, equipas de controlo de qualidade, um departamento com funções administrativas e financeiras e um departamento comercial.
Em 2006, e depois de ter obtido o reconhecimento enquanto Organização de Produtores, a Lusomorango teve o seu primeiro Programa Operacional.
O Programa Operacional é, simplificando, um envelope financeiro posto à disposição das Organizações de Produtores com o objetivo primordial de incentivar a concentração da oferta. Foi reconhecido pela Comunidade Europeia que muitos desafios das unidades produtivas só poderiam ser vencidos se estas se concentrassem em Organizações de Produtores.
Estas teriam como missão fazer diluir muitas dessas dificuldades dando escala a um negócio muito fragmentado oferecendo serviços comuns a essas unidades produtivas aumentando as eficiências.
Os Programas Operacionais oferecem incentivos financeiros para a aquisição de fatores de produção, para a melhoria da qualidade dos produtos, para a comercialização e para a implementação de medidas que promovam a proteção ambiental.
A Lusomorango, desde 2006, tem interpretado estes incentivos dando expressão a todos os elementos base dos Programas Operacionais – destacando-se que do total de fundos a que a Lusomorango conseguiu aceder cerca de 65% foram direcionados para a aquisição de fatores de produção, equipamentos de rega, estruturas, máquinas agrícolas e plantas, o que tem permitido a expansão de áreas, a otimização dos custos de produção e a estabilização dos preços na produção.
Mais recentemente, e com todos os aspectos do negócio consolidados, não querendo o mesmo dizer que não deixem de haver desafios, a Lusomorango tem vindo a imprimir uma preocupação mais vincada com as questões ambientais e sociais.
Em termos ambientais a Lusomorango tem alocado bastantes recursos na aquisição de diversos equipamentos que permitem a utilização do recurso água de forma otimizada – as disputas sobre este recurso e aquilo que as alterações climáticas “prometem” introduziram o tema no quotidiano nas unidades produtivas.
A Lusomorango pretende com estes investimentos oferecer aos produtores instrumentos que permitam melhorar a gestão das suas culturas com o objetivo último de gerar o mínimo desperdício dando às plantas apenas e só o que estas precisam - acarinhando assim um recurso escasso e introduzindo a consciência coletiva da importância da sua preservação.
Este projeto iniciou-se em 2009 e desde então temos obtido resultados significativos que permitem aferir não só a importância “micro”, na sua expressão financeira em cada unidade produtiva, como também, numa interpretação “macro”, do que deve ser hoje em dia uma produção agrícola naquilo que dita a sua relação com os fatores de produção e o meio envolvente.
Em termos sociais a Lusomorango e os seus produtores têm ao longo de todo este percurso participado ativamente no tema resposta social do território. São muitos os produtores que individualmente decidem apoiar projetos de caráter social e fazem-no com regularidade. Em termos coletivos a Lusomorango é também um elo muito ativo desta resposta.
O concelho de Odemira, onde estamos mais presentes, cerca de 90% do valor gerado sai deste território, é aquele onde também marcamos mais presença nestas respostas. O VAB (valor acrescentado bruto) de Odemira, dados para 2017, segundo um estudo realizado pela Universidade Católica, ascendeu a 192 milhões de euros – os efeitos diretos e indiretos da hortofruticultura no VAB de Odemira somam 95 milhões de euros (um peso de 49%).
Em termos de emprego, os efeitos directos e indirectos no concelho estima-se em 6.000 indivíduos – um número que representará 35% do total de empregos. Ou seja, a agricultura é no concelho de Odemira o seu motor económico e é ainda o mais dinâmico.
Este concelho tem no entanto, como muitos outros, níveis demográficos muito pouco expressivos. A chegada ao concelho de pessoas que são absorvidas pelas ofertas de emprego que o concelho tem conseguido dinamizar, tem sido de particular atenção da Lusomorango.
A chegada ao território de pessoas de origem não nacional obriga a que o concelho tenha uma resposta de acolhimento e integração. Dando corpo aos diversos instrumentos que o Pelouro para a Ação Social da Câmara Municipal de Odemira já detinha, um conjunto de empresas, entre as quais a Lusomorango, tem vindo a associar-se a essas respostas municipais agregando às mesmas outras valências ou criando profundidade às já existentes.
É assim que se destacam o CLAIM (Centro Local de Apoio e Integração do Migrante) e o Giramundo. Enquanto que o CLAIM se debruça sobre o momento da chegada, dando a esses cidadãos o primeiro contacto com o território e os seus diversos instrumentos – questões de legalização, reagrupamento familiar, unidades de saúde, serviços de finanças, etc. – o Giramundo, um projecto de oferta cultural, lúdica e informativa, tenta cuidar de um segundo momento – aquele em que estes cidadãos se depararão com a beleza natural e das gentes do concelho de Odemira oferendo-lhes todas as ferramentas para que o seu processo de integração seja rápido e bem sucedido. E o concelho de Odemira tem isso tudo.
Nota: Artigo publicado na edição impressa da Agrotec 29, no âmbito do dossier Horticultura do Sudoeste Alentejano.