Nova investigação destaca o impacto de múltiplas infeções virais no coelho-bravo
Um estudo pioneiro, realizado pelo Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária de Portugal (INIAV) no âmbito do projeto LIFE Iberconejo, revelou que as populações naturais de coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus) enfrentam um nível de co-infeções virais mais elevado do que se pensava anteriormente, com até quatro infeções virais simultâneas identificadas em alguns indivíduos. Estes resultados sublinham a fragilidade do estado imunológico desta espécie-chave nos ecossistemas mediterrânicos e oferecem informações fundamentais para uma gestão sanitária mais eficaz das suas populações.
As doenças infeciosas têm sido um fator determinante no declínio das populações de coelho-bravo em grande parte da Península Ibérica, levando à sua classificação como “Em Perigo” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) em 2019. A mixomatose e a doença hemorrágica viral dos coelhos (DHV) causaram mortalidade severa nas décadas de 1950 e 1980, respetivamente. Além disso, uma nova estirpe da DHV surgiu em França em 2011, afetando até mesmo coelhos jovens previamente imunes à estirpe clássica, dificultando ainda mais a recuperação da espécie em várias regiões.
Apesar de extensos esforços de investigação, muitas questões permanecem sem resposta sobre o impacto total destas e outras doenças nas populações de coelho-bravo. O estudo do INIAV, publicado na última edição da revista Veterinary and Animal Science, analisou 68 coelhos-bravos recolhidos no sul, centro e norte de Portugal entre 2017 e 2024. Este estudo representa o inquérito sorológico mais abrangente realizado sobre coelhos-bravos na Península Ibérica, identificando vírus de sete famílias diferentes. Foram incluídos exemplares encontrados mortos, caçados e aparentemente saudáveis.
Os resultados mostraram que 27,8% das amostras analisadas estavam infetadas simultaneamente com o vírus da mixomatose (MYXV) e o vírus da doença hemorrágica viral dos coelhos tipo 2 (RHDV2), uma taxa de co-infeção significativamente mais elevada do que a anteriormente reportada. Pela primeira vez, foram documentados coelhos infetados com até quatro vírus em simultâneo, incluindo agentes patogénicos menos estudados, como herpes e o rotavírus.
"A elevada prevalência de co-infeções em coelhos-bravos sugere que as infeções primárias podem enfraquecer o sistema imunológico, permitindo a invasão de outros agentes patogénicos e causando, potencialmente, desfechos clínicos mais graves," explicam os investigadores.
Aprofundar o conhecimento sobre as doenças do coelho-bravo: um objetivo-chave do LIFE Iberconejo
Embora Espanha tenha um Plano Nacional de Vigilância Sanitária da Fauna Silvestre, que inclui os lagomorfos como o coelho, e Portugal disponha de um Sistema de Notificação Imediata de Mortalidade de Animais Selvagens (ANIMAS), ainda existe uma lacuna significativa no conhecimento sobre o estado epidemiológico e o impacto das doenças nas populações de coelho-bravo. Para abordar esta questão, o projeto LIFE Iberconejo desenvolveu um sistema abrangente para monitorizar o estado de saúde dos coelhos-bravos em toda a Península Ibérica. Este sistema foi desenvolvido em colaboração com as autoridades competentes e todos os intervenientes no projeto.
"Compreender a dinâmica e o impacto destas infeções nas populações de coelho-bravo é essencial para desenvolver estratégias de gestão eficazes e baseadas na ciência, que permitam respostas rápidas em caso de potenciais surtos," afirma Ramón Pérez de Ayala, Diretor do projeto LIFE Iberconejo.
Mais informações na página web do projeto: https://www.iberconejo.eu