Ouvir os Agricultores e a Ciência na definição de políticas sobre o Uso Sustentável dos Pesticidas
O 3º Colóquio sobre o Uso sustentável dos Pesticidas reuniu duas centenas de participantes, no dia 24 de maio, na Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Santarém (ESAS/IPSantarem), no maior debate nacional sobre proteção das culturas agrícolas que sublinhou a necessidade e a urgência de ouvir os Agricultores e a Ciência na definição de políticas sobre o Uso Sustentável dos Pesticidas.
O Colóquio foi coorganizado pela Associação Portuguesa de Horticultura (APH), o Centro Operativoe Tecnológico Hortofrutícola Nacional – Centro de Competências (COTHN-CC) e a ESAS. O Secretáriode Estado da Agricultura, João Moura, presidiu à sessão de encerramento.
No painel de oradores estiveram associações que representam algumas das principais culturas agrícolasdo país – Portugal Nuts, AlgarOrange, ADVID, COTHN, AIHO e OLIVUM –; as confederações agrícolas- CAP, Confagri, CNA e AJAP -, a DGAV, a CropLife Portugal, representantes da Ciência e daAcademia – InnovPlantProtect, UTAD e ESAS - e representantes de órgãos da política nacional.
Deste debate enriquecedor e pluralista que visou contribuir para a reflexão sobre o futuro do Usosustentável dos Pesticidas, concluímos que:
A proteção das plantas enfrenta desafios crescentes que decorrem das alterações climáticas, daretirada de substâncias ativas do mercado e da necessidade de garantir a segurança alimentar.Evidencia-se o impacto da maior severidade e imprevisibilidade das pragas e doenças clássicas, como aEstenfiliose da Pereira ou a Antracnose, o surgimento de novas ameaças, a uma velocidade crescente,como o Vírus do Rugoso do Tomate (ToBRFV) ou os Tripes dos Citrinos da África do Sul (Scirtothrips aurantii).
As componentes da Proteção Integrada devem ser cumpridas, pelo que há que desenvolver ouajustar técnicas de estimativa do risco e níveis económicos de ataque; utilizar sistemas de apoio àdecisão validados; desenvolver, testar e validar novas soluções de proteção das culturas, desde meiosculturais, biológicos, biotécnicos, ou químicos, cada vez com melhor utilização da inteligência artificialou sistemas de precisão. Sem, no entanto, descurar que a melhor estratégia assenta, ainda, no IOT – “iró terreno”.
A necessidade de maior apoio técnico aos agricultores, seja pela presença de técnicos e suasassociações, seja através dos serviços públicos, como os serviços de avisos ou de fiscalização, ou pelaação de entidades do ensino e investigação. Esta melhoria é essencial e urgente, em particular face àcomplexidade técnica dos novos conceitos e soluções para proteção das culturas.
Uma cooperação mais profícua entre a Academia e o Campo é imprescindível para que ocorra umaefetiva transferência do conhecimento gerado nas Universidades, Politécnicos e Centros
de Investigação para os agricultores, democratizando o acesso a informação validada pela Ciência.
Ouvir os agricultores é essencial no processo de revisão da Diretiva comunitária sobre o UsoSustentável dos Pesticidas e na definição das futuras políticas públicas que materializem as metas doPacto Ecológico Europeu.
A redução do uso de pesticidas é desejável, a bem da saúde pública e do meio ambiente, mas asmetas e o caminho para lá chegar deverão ponderar as especificidades das agriculturas e das condições edafodoclimáticas de cada Estado-membro da UE.
As decisões políticas devem estar assentes em evidências científicas, salvaguardar que todos osafetados são ouvidos, em, os agricultores, cujo rendimento justo e o bem-estar social deve serassegurado, pois são eles que garantem alimentos seguros e a preços acessíveis na Europa.
Sistemas de certificação como o “Resíduo Zero” podem induzir o consumidor em erro aopensar que não foram aplicados pesticidas. Pode até acontecer um uso incorreto ao antecipartratamentos inadequados. Estes aspetos potenciam fenómenos de resistência e efeitos secundáriosindesejáveis no ambiente.