publicado a: 2015-12-21

Produção de Batata: a importância da escolha da variedade

Está a iniciar-se a época de plantação de batata em Portugal que se prolonga, habitualmente, até meados da Primavera nas regiões mais tardias, situadas no interior e em zonas de altitude. Parece-nos bastante oportuno apresentar algumas considerações sobre a escolha das variedades a utilizar na produção de batata.

A variedade cultivada ou cultivar, é uma designação utilizada para definir um conjunto de plantas que demonstram, durante o seu cultivo, características muito semelhantes entre si (porte, cor, ciclo cultural, resistências, formas, sabor, etc.) e que as distinguem de outras plantas da mesma espécie.

O processo seguido durante muitos anos no melhoramento e obtenção de novas variedades de batata (e de outros vegetais) e ainda hoje o mais utilizado, inicia-se com o cruzamento propositado entre duas variedades existentes, designadas de parentais (este processo, ocorre em muitos casos de forma perfeitamente natural, pelo que não deve ser confundido com os OGM, que são obtidos por um processo de modificação genética).

Do cruzamento, tenta-se obter os caracteres desejáveis na sua descendência (exemplos: precocidade, resistências, aptidão à fritura, etc.) que estão ligados ao objectivo da obtenção de uma nova variedade. Este processo é muito lento, até se obter uma variedade que tem de ser estável, demorando vários anos (7 a 8). A taxa de sucesso na obtenção de uma nova variedade, por vezes, também é muito baixa, o que se traduz em custos muito elevados em todo este processo mais ou menos complexo.

A razão de se continuar permanentemente em busca de novas variedades tem a ver, fundamentalmente, com a necessidade de se responder às exigências do mercado. Quer isto dizer, que todo o esforço que os obtentores (em inglês breeders) aplicam em dado momento, numa nova variedade, é a pensar no possível sucesso que os agricultores poderão vir a alcançar no futuro. O obtentor tem de ter uma visão sobre o que mercado vai exigir no futuro. Caso contrário, quando uma nova variedade estiver disponível para ser produzida pelos agricultores, pode já estar "fora de moda" e não ter qualquer aceitação no mercado.

Nesta fase, também é importante definir o que entendemos por mercado, para uma variedade de batata. Quando se trata de batata de semente, o mercado a que se dirige, são os agricultores que irão produzir batata para consumo humano (ou para fins industriais…). Mas nem todos os agricultores têm os mesmos objectivos na produção de batata, relativamente ao destino do produto final – esta distinção é particularmente, evidente num país como Portugal. Existem muitos produtores que produzem para autoconsumo (em áreas reduzidas). Em simultâneo, existem os produtores que produzem batata com uma orientação para o comércio, com vários destinos possíveis: mercado fresco em Portugal, exportação ou fornecimento da indústria (maioritariamente, para batatas fritas às rodelas, vulgo snacks).

É fácil concluir que não existe uma"super-variedade" de batata que consiga corresponder às diferentes necessidades dos agricultores que têm objectivos de produção distintos, seja para autoconsumo, seja para a comercialização da sua produção.

Para autoconsumo, os critérios na escolha da variedade, baseiam-se no conhecimento histórico das variedades plantadas nos anos anteriores. Esses critérios podem ser: facilidade de obter produção (adaptação ao solo, clima, comportamento às principais pragas e doenças, etc.), capacidade de conservação, usos culinários possíveis (preferência por uma variedade polivalente), características organolépticas (ex. sabor), custo de aquisição da batata semente e mais recentemente, surge um critério adicional que é a disponibilidade da variedade em embalagens com uma quantidade ajustada à área a plantar (procura por sacos de 5 e de 10 kg).


Fonte: Revista Voz do Campo

Autoria: Eng. Sérgio Margaço e Engª Maísa Oliveira (Advice.AgriBusiness)

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