Produção de vinho em Portugal em mínimos de 20 anos
As elevadas temperaturas deste ano causaram prejuízos em quase todas as regiões vitivinícolas e as consequências são visíveis nas colheitas: a produção de vinho deverá recuar este ano 20% em relação a 2017 e ficar no valor mais baixo das últimas duas décadas. É para esse cenário que apontam os primeiros números do Instituto Nacional de Estatística (INE), que contabiliza a produção deste ano em 5,2 milhões de hectolitros.
Nas previsões agrícolas divulgadas nesta terça-feira, o INE afirma que a produção será “uma das menores produções de vinho” das últimas duas décadas, prevendo mesmo que o valor seja o mais baixo daquele período.
“As condições meteorológicas até meados de Outubro permitiram que as vindimas, que decorreram com atrasos significativos face ao habitual, se efectuassem sem incidentes e com as uvas a chegarem aos lagares em bom estado sanitário e com teores de açúcar regulares”. Mas, explica o INE, assim que ocorreram as primeiras chuvas mais intensas nesse mês – nos dias 13 e 14 de Outubro – a qualidade baixasse, o que precipitou a conclusão das vindimas.
“Para a produção, e face ao atraso do ciclo, as condições meteorológicas de Agosto foram determinantes e verificou-se que o calor excessivo causou escaldões nos bagos, embora com reflexos distintos em função da casta, da exposição e da idade da vinha”.
Só o Alentejo e Algarve são excepção. De resto, em todas as regiões vitivinícolas haverá um recuo na quantidade de vinho produzido. “A extensão dos prejuízos causados pelas elevadas temperaturas foi variável, mas estendeu-se por quase todas as regiões vitivinícolas”.
O Alentejo deverá ter uma produção idêntica à do ano passado e o Algarve um aumento na ordem dos 5%. Para as outras regiões, o INE não especifica as variações na produção. Para o conjunto das regiões, espera-se que a quebra chegue aos 20%, comparando os 5,2 milhões de hectolitros deste ano com os 6,5 milhões registados em 2017.
Os dados do INE divulgados nesta terça-feira referem-se às previsões agrícolas com data de 31 de Outubro. A recolha da informação divulgada pelo INE é assegurada regionalmente pelas Direcções Regionais de Agricultura e Pescas em articulação com o instituto estatístico.
Portugal e Grécia destoam do resto da UE. E do mundo
A 26 de Outubro último, contudo, a Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV) já tinha alertado para o facto de a produção portuguesa em 2018, previsivelmente, estar em risco de ser "a mais fraca dos últimos seis anos", apontando aquele organismo inter-governamental para 5,3 milhões de hectolitros.
"Em Portugal", apontava então a OIV, "as condições meteorológicas propícias ao aparecimento de míldio e oídio impactaram fortemente na produção de 2018, que terá uma queda de 22% face a 2017". Portugal e a Grécia (para onde está estimada uma perda de 15% e a mais baixa produção desde 2003), acabam por destoar da média da união europeia, onde a OIV aguarda uma produção 19% superior a 2017, para 168,4 milhões de hectolitros.
No total, prevê a OIV, a produção mundial de vinho deverá alcançar 282 milhões de hectolitros (mais 31 milhões de hectolitros do que em 2017), e será "uma das das mais elevados desde 2000", graças sobretudo à Itália, França e Espanha, com um contributo também da Argentina (mais 23%) e do Chile (mais 36%).
Menos produtividade da azeitona
“A maturação da azeitona para azeite encontra-se atrasada mais de um mês face à campanha anterior. A carga nos olivais tradicionais de sequeiro (que representam cerca de três quartos da área total desta cultura) é bastante heterogénea, tendo, duma forma generalizada, beneficiado da precipitação ocorrida ao longo de Outubro, verificando-se um aumento do calibre da azeitona”, refere o INE.
“Nos olivais intensivos e super-intensivos de regadio não se registaram restrições à utilização de água de rega, se bem que a carga de frutos também seja inferior à do ano anterior. Globalmente estima-se uma produtividade 15% inferior à alcançada em 2017, mas bastante acima da média dos últimos cinco anos”.
Castanhas e amêndoas em alta
Na maçã e na pêra, há recuos de 15% e 20%, respectivamente, em relação à campanha anterior. A causa, diz o INE, está na “conjugação de fracas polinizações, problemas fitossanitários e da onda de calor” do mês de Agosto. No kiwi, a carga de frutos é heterogénea registando-se danos em alguns pomares devido à passagem da tempestade Leslie, estimando-se uma produção inferior à de 2017 (menos 5%)”, afirma o INE.
Nas culturas anuais, o INE também aponta para uma redução de 10% na produção de girassol em relação ao ano passado e prevê uma descida de 26% no tomate para a indústria, neste caso “devido exclusivamente à diminuição da área instalada”.
A tempestade Leslie também teve consequências nas searas, levando a que as campanhas de Primavera e Verão do milho não conseguissem crescer apesar do aumento da área semeada – os ventos fortes causaram estragos nas searas do Baixo Mondego e Pinhal Litoral, diminuindo o rendimento unitário e fazendo com que a produção se mantenha nos níveis da campanha anterior. No arroz, acrescenta o INE, os campos do Baixo Mondego “sofreram danos que conduziram a uma diminuição de 5% na produção”.
Positiva é a produção de castanha, onde se espera uma subida de 5%, para 31,1 mil toneladas.
No amendoal, os investimentos recentes do Alentejo - que já ultrapassou o Algarve em 2015 como segunda maior região nesta cultura -, nomeadamente em torno do complexo de regadio de Alqueva, deverão compensar as quebras previstas para o Interior Norte. Nesta última região - onde se localizam quatro quintos (80%) da área total de amendoais do país - a "precipitação na plena floração dificultou a polinização, conduzindo a reduções significativas na produtividade regional", explica o INE. Tudo contado, acrescenta o gabinete estatístico nacional, a produção deverá ser de 15,1 mil toneladas, "44% acima da média do último quinquénio", acrescenta.