publicado a: 2019-01-28

Produtores de maçã de Alcobaça exigem mini Alqueva no Oeste

Jorge Soares, presidente da APMA – Associação dos Produtores de Maçã de Alcobaça, em entrevista exclusiva ao Jornal Económico, garante que este cluster nacional de produção agroalimentar já vale cerca de 40 milhões de euros em volume de negócios anual, dos quais cerca de 25% segue para mercados exportadores. Inglaterra, Brasil, Irlanda, Emirados Árabes Unidos, Cabo Verde e Angola são os principais destinos deste fruto nacional.

Como tem sido a evolução do setor para se chegar aos 40 milhões de euros de volume de negócios?

A evolução tem sido muito positiva, atualmente, a Maçã de Alcobaça IGP [Indicação Geográfica Protegida] é produzida, acompanhada, selecionada e controlada nos melhores pomares e em modernas centrais fruteiras, segundo tecnologias de produção e conservação inovadoras e ambientalmente amigas do ambiente. Tem sido um percurso onde os nossos produtores e as várias organizações que os representam procuram mais do que nunca a capacitação técnica para elevarem e projetarem alto o prestígio, a qualidade e a confiança da Maçã de Alcobaça IGP, trabalhando para a posicionar ao nível das melhores do mundo.

Por outro lado, a Maçã de Alcobaça IGP identificou e procurou sempre os parceiros comerciais exigentes, uma vez serem estes a reconhecerem a diferença e a qualidade no sentido lato e também porque graças a essa elevada exigência o setor ficava obrigado a responder em inovação produtiva, eficiência de processamento e comercial, logo cada vez mais preparada para os consumidores mais exigentes, como tem sido o exemplo da parceria com o Lidl Portugal.

A Maçã de Alcobaça IGP conquistou, assim, um circuito próprio enquanto produto diferenciador, de garantida e elevada qualidade.
Integra fatores de diferenciação e valorização primordiais ao gosto dos consumidores mais exigentes e dos circuitos comerciais mais atentos: origem, sabor, qualidade, segurança e saúde alimentar.

São valores que fazem parte integrante dos princípios de produção de toda a fileira e que se projetam como modo de gerar confiança aos consumidores que optam por Maçã de Alcobaça sempre que podem, para além de serem valores que coincidem com as preferências das cadeias de distribuição mais atentas aos gostos dos seus clientes.

Mas qual é a grande especificidade da maçã de Alcobaça?

Para além dos valores referidos e do facto de se tratar de um alimento natural, a Maçã de Alcobaça diferencia-se por uma composição nutricional muito rica em açúcares, em ácidos e em minerais como (potássio e cálcio) que lhe confere o aroma intenso. Por outro lado, é um fruto muito estudado e dos mais ricos em compostos funcionais ou fitonutrientes, em particular vitamina C, atividade antioxidante, carotenoides, flavonoides, pectinas, quercitinas, etc… São razões suficientes para nos fazerem pensar tratar-se de um produto de potencial imenso porque reúne atributos diferenciadores de qualidade gustativa e ambiental que a colocam em vantagem face à maioria das maçãs do mundo e da Europa. E os consumidores mundiais valorizarão cada vez mais estes aspetos.

A prova dessa factualidade é que cada vez mais portugueses conhecem a Maçã de Alcobaça IGP e estão disponíveis para conhecer, bem como o facto das várias cadeias da distribuição a reconhecerem enquanto produto diferenciador. É exemplo disso também a cadeia de supermercados Lidl, que nos últimos 10 anos contabilizou mais de 20 mil toneladas vendidas em Portugal, neste caso apenas mais de 150 milhões de maçãs certificadas saboreadas.

Quais as perspetivas de evolução futura?

Os atributos e virtudes da Maçã de Alcobaça não serão suficientes se não continuarmos a estabelecer objetivos elevados e difíceis para o futuro, dos quais destacamos fazer do processo produtivo um sistema de conhecimento em fertilidade cruzada dos aderentes de modo a obter melhoria contínua da qualidade intrínseca das maçãs produzidas, existindo quatro projetos de investigação a decorrer em consórcio para aperfeiçoar a qualidade em geral.

Continuar a investir e melhorar o investimento em divulgação do sabor e da qualidade global da maçã de Alcobaça IGP em parceria com os nossos principais clientes, onde mais uma vez a cadeia de distribuição Lidl se destaca na contribuição e participação neste processo, entre outras.

Reforçar as especificidades e a diferenciação da atividade e do produto final, assim como inovar em desenvolvimento de mais produtos tecnológicos de transformação também diferenciadora da Maçã de Alcobaça IGP.

Sensibilizar e estimular o consumo seguro associado a modelos de vida mais racionais, proporcionando novos modos de consumir maçã, no âmbito de uma dieta natural, saudável, mediterrânea e cada vez mais funcional.

Aproximar o consumidor do produtor, aproveitando as novas tecnologias de comunicação, o público jovem e mais exigente, com novos estilos e com curiosidade em conhecer o verdadeiro mundo da Maça, através do reforço e desenvolvimento do nosso ‘Clube da Maçã’.

Desenvolver um projeto de produto de qualidade e um conceito de marca coletiva para mercados de exportação através do recém-criado ‘Clube de Exportadores’, replicando em pelo menos quatro mercados externos identificados, tudo o que de bom e positivo foi conseguido com a imagem de marca no mercado nacional.

Qual a percentagem de exportações, como tem evoluído, quais os principais mercados externos e quais as perspetivas futuras de evolução?

Quanto à percentagem da produção que é exportada, depende da produção de cada ano na região e da produção desse ano na Europa e no Mundo. Mas, por exemplo, há três campanhas atrás cerca de 10%, e nas últimas duas campanhas já se registaram valores da ordem dos 25%.
Inglaterra, Brasil, Irlanda, Emirados Árabes Unidos, Cabo Verde e Angola mantêm-se como os principais mercados externos, e este ano, pela primeira vez a Maçã de Alcobaça IGP está a ser comercializada em Espanha, no passado mês de novembro. Este novo mercado surge no âmbito da relação de dez anos de parceria entre a APMA e a cadeia de supermercados Lidl.
Contudo, a este nível internacional entendemos vital para a IGP e marca coletiva que se olhe sem exceção para todos os mercados externos de qualidade de modo a posicionarmo-nos como uma referência qualitativa nos mesmos.

Será uma dinâmica de exportação de diferenciação e sabor que se poderá traduzir em valorização adequada e na resposta adequada e sem sobressaltos ao crescimento dos investimentos em novos pomares, em novas instalações de conservação e processamento e em novas indústrias em curso, para se manter a sustentabilidade e o apetite pela atividade na região pelas gerações seguintes.

Por outro lado, o projeto interno recentemente criado pela APMA ‘Clube de Exportadores’ que integra nos dois primeiros anos todas as empresas associadas e tem por objetivos: criar uma marca e imagem de exportação comum a todas; uniformizar a qualidade externa, mas também interna entre todos os membros exportadores; definir, posicionar e custear uma estratégia de divulgação e promoção para cada mercado externo, da Maçã de Alcobaça IGP.

Quais as regiões de produção da maçã de Alcobaça e de que forma a fileira tem contribuído para a promoção da economia local e fixação das populações, com a criação dos referidos 2.500 postos de trabalho?

A Maçã de Alcobaça é um fruto produzido numa especificidade climática e de solos, que se situa entre as serras de Candeeiros e Montejunto e o mar, e propiciam um fruto de características únicas, de sabor e aroma, que se distingue de outros produzidos noutras regiões. A área geográfica de produção abrange os concelhos de Leiria, Marinha Grande, Batalha, Porto de Mós, Nazaré, Alcobaça, Caldas da Rainha, Óbidos, Peniche, Bombarral, Rio Maior, Lourinhã, Cadaval, e Torres Vedras.

Considerando que estamos a falar de cerca de 2.000 hectares de pomares em produção e em implantação, um potencial de produção superior 60 milhões de quilos e de aproximadamente 500 milhões de maçãs produzidas, colhidas e selecionadas individualmente, estaremos a falar de aproximadamente 2.500 postos de trabalho diretos e indiretos a cuidar da melhoria constante da maçã de Alcobaça.

De referir que, desta vasta comunidade, a larga maioria corresponde a trabalho especializado e mais de 20% corresponde a empresários, técnicos e parceiros de negócio com formação superior especializada.

A nível territorial, é considerada uma subfileira diferenciadora, que vive e pratica uma ruralidade moderna e responsável, com conhecimento e saber fazer secular, conhecimento técnico e científico avançado, com elevado nível de associativismo ou seja próximo dos 100% dos seus produtores e com uma forma de produzir extremamente amiga do ambiente, logo uma atividade que valoriza o território rural, atrai atualmente muitos novos empreendedores e jovens agricultores e contribui racionalmente e positivamente para um meio ambiente bem cuidado, ordenado, organizado e reequilibrado.

No seu entender, quais são as outras oportunidades e ameaças para o setor?

O grande desafio que mais nos preocupa no futuro e no qual nos temos envolvido junto dos agentes políticos é o tema das eventuais alterações climáticas e o impacto na nossa região e na nossa atividade.

Menos de 10% da água de rega dos nossos pomares vem de obras públicas, ao contrário de qualquer região produtora de alimentos da Europa mediterrânica, enquanto mais de 90% vem do esforço individual de cada fruticultor, o que se traduz numa ineficiência generalizada da região e no único aspeto produtivo menos racional.

Sem água, não há vida nem há produção de alimentos e da água que se utiliza na agricultura, nenhuma é consumida, apenas utilizada e devolvida à natureza e ao planeta em formas mais saudáveis (alimentos) e em água mais limpa (vapor de água). E, se me é possível, a ocasião, da referida água que a fruticultura utiliza e não consome, cerca de 98% dela, é apenas usada para as fruteiras viverem a primavera e o verão, transpirando pelas folhas para se manterem vivas ao efeito do sol e consequentemente para protegerem e produzirem os alimentos que saciam a humanidade, apenas isso.

Então, qual é a solução que defende?

Nesta lógica, somos defensores de uma obra pública à dimensão de toda a região Oeste que permita aos seus cidadãos poderem continuar a fazer agricultura, consequentemente fruticultura racional e de precisão. Isto é, produzir alimentos com dignidade, pagando a água como é evidente, e como outras regiões do país o fazem tão bem.

Não há hoje dúvida alguma que para cidadãos racionais, responsáveis e de boa fé, que o caso do Alqueva, tão ferozmente criticado no passado, é hoje um exemplo de revitalização da agricultura, de renovação de uma região agrícola e de orgulho para a economia portuguesa.

Pois, a região Oeste, pelo que a Maçã de Alcobaça IGP já fez pelo país, assim como outros setores da atividade regional, precisa e merece uma obra semelhante no princípio de gestão do recurso público água, mas com investimento de apenas de pouco mais de 20% daquela grandiosa obra do País.

Tal é possível a partir do rio Tejo, antes deste a entregar ao mar sem ter contribuído para produzir alimentos, que quando vier a acontecer, e queremos que seja mais rápido do que se possa imaginar, não será mais do que o Oeste receber do rio Tejo parte da água que o rio Tejo vem buscar ao Oeste, de água que chove e nasce nesta região e que nos escapa pelo Rio Maior, assim como por tantos outros rios e ribeiras do oeste.

Considerando tratar-se de uma atividade relativamente bem organizada, habituada a procurar e introduzir no seu processo produtivo cada vez mais conhecimento e assumindo-se como uma atividade inovadora e que quer produzir diferenciação qualitativa nas suas maçãs, depara-se com uma ameaça séria que é a reduzida capacidade e tradição de produção de conhecimento em Portugal, tema também central no dia-a-dia desta comunidade.

É uma ameaça que obriga a procura da própria oportunidade e, nesse aspeto e conscientes desta situação portuguesa, as organizações têm feito um grande esforço de criação de equipas de inovação, criação de consórcios de investigação e eventos de partilha de conhecimento entre os membros, numa lógica de crescimento conjunto e de desenvolvimento setorial qualificado.

Trata-se de uma ameaça que desencadeia com maior lucidez a oportunidade para a tão desejada e referenciada diferenciação para os consumidores, razão de existir do nosso modelo organizacional em torno da marca coletiva e da IGP Maçã de Alcobaça, mas também referência de confiança para os nossos clientes mais exigentes e que mais se preocupam com as tendências e escolhas dos consumidores modernos e com novos estilos de vida e neste caso concreto a cadeia Lidl tem sido um dos parceiros mais alinhados e há mais anos alinhados com estes princípios dos produtores e das organizações com integram a APMA.

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